Bahia Econômica – Ao receber o navio MSC Orion, com 366 metros de comprimento, o Tecon Salvador inaugurou a rota Bahia/Asia. Qual a importância dessa nova rota para nosso estado? Isso significa que as cargas baianas, especialmente na área agrícola, que eram transportadas através de outros portos podem, agora, sair pela Bahia?
Demir Lourenço – A recém-inaugurada rota regular entre a Bahia e a Ásia permite que a Bahia e outros estados do Norte e do Nordeste do País se conectem de forma mais célere com mercados de todo o Extremo Oriente. Produtores e as indústrias do Centro-Oeste e Sudeste também encontram aqui no Porto de Salvador uma alternativa viável para suas cargas. Ter navio com mais espaço para exportar e com 35 dias de viagem abre novas janelas de oportunidades para as cargas que já transitam no Tecon Salvador, como o algodão e frutas, com demandas promissoras no continente asiático, e para outras que ainda poderão ser exploradas.
Bahia Econômica – Com isso o Porto de Salvador passa a ter a possibilidade de tornar-se um hub port brasileiro?
Demir Lourenço – As conquistas colhidas a partir de julho, mês que inauguramos a nova rota e celebramos a chegada dos supernavios, são, sim, um upgrade importante. Mas, é relevante destacar que este caminho de reconhecimento do mercado em ver o Porto de Salvador como uma importante solução logística, um Hub Port eficiente e de excelência operacional que conecta a Bahia com o Mundo, já vem sendo trilhado há algum tempo. O protagonismo conquistado atualmente resulta de um trabalho ao qual nos dedicamos nos últimos anos, investindo em mais infraestrutura, em treinamentos contínuos das nossas equipes e com o mapeamento das oportunidades de escalas, por exemplo.
Bahia Econômica – Como foi o desempenho do Tecon Salvador no primeiro semestre do ano e especialmente em julho?
Demir Lourenço – Em julho, tivemos o melhor resultado mensal de toda a história do Terminal de Contêineres do Porto de Salvador, quando movimentamos 43.750 TEUs (unidade de contêiner de 20 pés). Já o volume operado entre janeiro e julho foi 266.664 TEUs, um acréscimo de 22% em relação a igual período do ano passado. Atendemos, nestes sete meses, a diversos segmentos, envolvendo as operações de comércio exterior (importação e exportação) e comércio interno (cabotagem) com significativas participações. Porém, gostaria de destacar aqui a crescente presença do algodão vindo da região de MATOPIBA (que inclui o Tocantins e partes dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia), que entre maio e julho exportou 2.682% a mais no comparativo a estes mesmos três meses no ano de 2023.
Bahia Econômica – Quanto a Wilson Sons já investiu no Tecon Salvador?
Demir Lourenço – Ao longo dos 24 anos de operação do Tecon Salvador, a Wilson Sons fez investimentos que ultrapassam R$ 1 bilhão, culminando na recente duplicação de cais, aumento da profundidade dos berços para 16 metros, ampliação de retroárea para armazenamento das cargas, adoção de novas tecnologias, aquisição de maquinários elétricos equivalentes aos utilizados nos portos mais modernos no mundo e em treinamento de equipes operacionais. Sabíamos que a dedicação continuada em qualificar o terminal baiano seria crucial para atender as mudanças do mercado, que logo teria uma classe de navios cada vez maiores. Estamos, hoje, colhendo os bons resultados desta estratégia. Estamos preparados para manter as rotas atuais e atrair novas.
Bahia Econômica – Como o Sr. vê a vocação portuária da Baía de Todos os Santos e o que precisamos para ampliar nossas possibilidades na área portuária.
Demir Lourenço – A Baía de Todos os Santos é uma dádiva de Deus, com condições naturais excepcionais. São águas abrigadas, profundas e com condições metereológicas inigualáveis na costa brasileira. Adiciona-se a este fato, a acessibilidade rodoviária excelente do Porto de Salvador, por conta da Via Expressa. São pontos de atenção a necessidade de aprofundamento do canal de acesso e bacia de evolução do Porto de Salvador para 17,5 metros, já na agenda da CODEBA; o estudo de compartilhamento de tráfego decorrente da Ponte Salvador Itaparica – projeto com potencial de encurtar distâncias e aumentar o volume de carga movimentado em nossos portos – imperativo para manter a convivência pacífica porto – cidade. Fora isso, aproveitar as condições existentes para exercer nossa função de ferramenta de atração de investimentos e desenvolvimento econômico e social.