Bahia Econômica – Como o senhor avalia esse cenário atual da economia do brasil para investimentos?
Eduardo Belotti – Tem uma frase famosa que diz que o melhor momento para começar a investir era 20 anos atrás. O segundo melhor é agora. Sou partidário da ideia de que mesmo na crise que estamos, investir é um hábito poderosíssimo na caminhada rumo à independência financeira. Ultimamente a bolsa tem estado muito volátil por causa do coronavírus. Mas investir é muito mais do que bolsa de valores. Existem opções de renda fixa, fundos defensivos, ouro, prata e por aí vai.
BE – Como o senhor avalia a crescente busca pelos investimentos em renda variável?
EB – É comum quando um país passa por um corte agressivo da taxa de juros do país. Os investidores que conseguiam altas rentabilidades em renda fixa, do dia para a noite, não conseguem mais. Mas eles estão acostumados com elas. E o que eles costumam fazer é ir em busca de rentabilidades parecidas em ativos de maior risco. Com isso, aumenta-se o número de investidores em renda variável.
BE- Por que a poupança tem perdido espaço?
EB – Investir em poupança é igual fazer compras numa loja de conveniência. Até pode fazer sentido comprar alguma coisa lá. O que não pode é fazer compra do mês. Ai faz sentido ir no supermercado. Com investimento é igual. Você consegue investir em ativos que rendem mais do que a poupança, com o mesmo risco e mesma liquidez. As pessoas sempre investiram muito na poupança por ser fácil. Hoje em dia com corretoras abrindo contas gratuitas on-line, ficou muito fácil também investir em outros ativos. E essa tendência é normal. Já aconteceu em mercados que estão mais avançados que a gente, como nos EUA
BE- Com a selic em baixa, os investimentos em renda fixa deixaram de ser atrativos?
EB –Do ponto de vista de rentabilidade, com certeza. Investir com rentabilidade de 2,25% ao ano não é muito animador. Mas a verdade é que renda fixa costuma ter rentabilidades baixas mundo afora. O cenário que tínhamos no Brasil é que era incomum, com renda fixa pagando 15-16% ao ano. Apesar de estar rendendo menos, a renda fixa continua tendo papel importante na diversificação de risco e liquidez da carteira. Abrir mão totalmente da renda fixa por causa da rentabilidade é fechar o olho para 2 das 3 coisas mais importantes de um investimento:
1- Rentabilidade
2- Liquidez
3- Segurança
BE- Ainda podemos sentir os reflexos das paradas da bolsa do início do ano?
EB –A bolsa brasileira sofreu muito. O Ibovespa caiu mais do que as bolsas da Itália, Espanha e China que eram países que já estavam sendo assolados pelo coronavírus, enquanto aqui a doença ainda engatinhava. A retomada também tem sido gradual, até porque estamos no momento mais crítico da doença agora e não conseguimos fazer previsões sobre como vai ser o mundo depois. É normal sentir os reflexos dessa queda vertiginosa. Empresas desvalorizaram, investidores saíram da renda variável, mas isso é normal também. Na história do mundo, de tempos em tempos temos crises. Sejam elas uma pandemia mundial, crise imobiliário, crise financeira, etc. A retomada pode demorar, sempre aconteceu.
BE – Como o senhor avalia a política monetária do governo e as constantes variações do dólar?
EB – O dólar flutuante, por mais que pareça ruim quando o real se desvaloriza, costuma ser muito melhor do que tentar travar esse câmbio como já foi feito em outro momento no Brasil e também já vimos na Argentina. É claro que não queremos um Real desvalorizado, mas se pensarmos no processo de industrialização no país, hoje temos 3 parâmetros macroeconômicos que nos apontam na direção certa:
1- Taxa de juros baixa, o que faz o dinheiro excedente ser investido em ativos de risco, como empresas, próprios negócios, venture capital, etc.
2- Inflação controlada, porque dá às empresas uma previsibilidade de longo maior.
3- Moeda desvalorizada, o que faz com que contratar serviços, importar produtos e etc se torne muito caro, criando um incentivo à inovação dentro do país.
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