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ADARY OLIVEIRA- A MISSÃO PRESBITERIANA

Redação - 30/03/2020 08:04

A missão presbiteriana no Brasil (Brazil Mission) teve a participação do missionário norte-americano George Whitehil Chamberlain, fundador do colégio Makenzie em São Paulo. Chamberlain fora professor de inglês de Ruy Barbosa e teria influenciado o Conselheiro para incluir na Constituição Republicana de 1891 a separação da Igreja do Estado. O bom baiano Ruy Barbosa, Consultor Jurídico da Missão, teria influído para que os americanos viessem para a Bahia, o que aconteceu. Logo no início do século XX, o missionário William Alfred Waddell, casado com Laura Annesley Chamberlain, filha do famoso missionário, chegou a Salvador para estender a Missão nas terras da Bahia.

O Colégio 2 de Julho teria sido fundado nessa época e o missionário tentou desenvolver seu trabalho pelo interior do estado, indo a Cachoeira, São Felix e Feira de Santana. Depois foi a Itaberaba, Freguesia de Santo Antônio dos Viajantes do Orobó Grande (hoje Ruy Barbosa), Andaraí e Lenções. Ele era sempre bem recebido pelos “coronéis” dessas cidades quando falava em implantar colégios, hospital e logo era recusado quando falava na construção de uma igreja, por considerarem o protestantismo como obra do diabo. Waddell saiu de Lenções dirigindo-se para Morro do Chapéu, cidade onde o chefe político de lá era mais condescendente e poderia apoiar seu projeto. No caminho passou pela Fazenda Ponte Nova, no vale do Rio Utinga e decidira ficar ali naquele lindo vale verde.

A Fazenda pertencia ao tenente-coronel da Guarda Nacional Luiz Guimarães e Souza que a vendeu pela vultosa quantia de 22 contos de réis. A Escritura de Compra e Venda foi lavrada no Tabelionato da Comarca de Itaberaba em nome da “Associação das Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana”, com sede nos Estados Unidos da América. Consta que o “coronel” Luiz Guimarães fora excomungado pela Igreja Católica. Waddell, que teria sido pastor da igreja Presbiteriana de San Pedro, na Califórnia, mantinha contatos com a Lelland Stanford University, de onde trouxe o médico Walter Welcome Wood e o engenheiro agrônomo Samuel Irving Graham.

Tudo começou em 1906 e em pouco tempo foi construído e começou a funcionar o Grace Memorial Hospital, o Templo Evangélico e a Escola de Enfermagem, a primeira do Estado da Bahia, antecedendo à da Universidade Federal da Bahia por cerca de 40 anos. O Instituto Ponte Nova (IPN), com internato para moças e rapazes, composto de Edifícios Administrativos, Escola Primária, Escola Bíblica, área de esporte, pomares, pastagens, residências dos diretores e professores. O IPN formava professoras primárias, rapazes para o ingresso na carreira do Ministério Evangélico e cursos profissionalizantes de Auxiliar de Enfermagem e Normal Rural. Também fora instalada a Escola Agrotécnica Afrânio Peixoto oferecendo o curso de Técnico Agrícola.

A Vila Ponte Nova emancipou-se e passou a ser chamada de Itacira e hoje chama-se Wagner. A cidade passou a ter Prefeito, Câmara de Vereadores, Padre, Juiz, Delegado e os americanos, perderam a liderança. Como consequência voltaram para os Estados Unidos no final dos anos sessenta. Os filhos ilustres de Wagner estão espalhados pelo mundo e alguns escreveram histórias fascinantes sobre a região como o médico Américo Chagas (O Chefe Horácio de Matos, Montalvão e Requizado) e Walfrido Moraes (Jagunços e Heróis), além da poetisa Helena Medrado (Tempo Partido).

Os americanos da Ponte Nova deixaram na região inversões em infraestrutura (hospitais, escolas, campo de pouso, correio, telefone) mas também muitos sertanejos alfabetizados, profissionais da saúde e da agricultura, traços culturais permanentes e uma religião. Muito diferente dos belgas que exploraram as madeiras da região de Itaeté, dos agricultores japoneses de Utinga, dos religiosos do mosteiro de Jequitibá, distrito de Mundo Novo, dos capuchinhos holandeses que habitaram a Chapada Diamantina, todos muito úteis por um certo período, mas que não deixaram rastro. Alguns deles viraram sertanejos, mais fácil, ao invés de mudarem o sertão, mais difícil.

 

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

 

 

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