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ADARY OLIVEIRA- O CRESCENTE USO DO HIDROGÊNIO VERDE

Redação - 30/08/2022 10:44

Apenas para recordar, o hidrogênio verde é aquele obtido da eletrólise da água usando energia elétrica renovável, principalmente a energia eólica ou solar fotovoltaica. Assim, o hidrogênio verde tem como matéria-prima a água, o vento e o sol, com a grande vantagem de não poluir o ar atmosférico com emissões de gás carbônico. Está consagrada a denominação de hidrogênio cinza para aquele obtido a partir do gás natural e de hidrogênio azul aquele também obtido do gás natural, mas com captura e armazenamento de carbono. O hidrogênio é a substância mais leve que existe na natureza e provavelmente o mais abundante no universo, por ser um dos componentes principais das nebulosas. O hidrogênio cinza é o mais usado industrialmente, notadamente na fabricação de fertilizantes, e a proposta colocada pelo mundo hoje, que está mudando o rumo da indústria química, é o da sua substituição pelo hidrogênio verde.

Na indústria de fertilizantes a principal substância obtida é a amônia, adicionando-se ao hidrogênio o nitrogênio extraído do ar atmosférico. A amônia assim obtida está sendo chamada de amônia verde, limpíssima por usar como matéria prima o ar, além da água, do vento e do sol, sem poluir o meio ambiente. Captando-se o gás carbônico que polui o ar atmosférico, numa operação de limpeza do ar, pode-se juntá-lo ao hidrogênio e fabricar o gás de síntese, uma mistura de hidrogênio com monóxido de carbono. Com amônia e gás carbônico se fabrica a ureia, o mais importante fertilizante nitrogenado que existe, substância que o organismo humano sintetiza nos rins e o expele na forma de urina, de nomes parecidos. A amônia serve também para fabricar ácido nítrico, hidrazina, alcanolaminas, metilaminas e hexametilenotetramina, dentre outros produtos. Os nomes complicados dessas substâncias, muitas fabricadas aqui na Bahia, não tiram o valor econômico delas. A ureia, por exemplo, é usada na formulação das misturas fertilizantes, sendo responsável pela introdução do nitrogênio (N), nos adubos que conhecemos com o nome NPK. O Brasil importa atualmente cerca de 80% da ureia consumida pelo nosso pujante agronegócio e a sua fabricação representa uma excelente oportunidade de investimento.

O gás de síntese, descrito acima, é usado na fabricação do metanol e este é a base para a manufatura do formaldeído, ácido acético, metilesteres, cloreto de metila, metilaminas, MTBE, gasolina e vários outros produtos. O metanol está sendo usado no Brasil para fabricar o biodiesel, junto com óleos vegetais. Ele é 100% importado e a sua fabricação representa também uma ótima oportunidade de negócio.

Essa enorme rede de produtos aqui relacionados, que começa com o hidrogênio, não fica restrita a eles e se expande na indústria do refino, metalurgia, siderurgia, cerâmica, vidro, cimento etc. As refinarias brasileiras são as maiores consumidoras de hidrogênio e tem papel importante na dessulfurização do óleo diesel, permitindo a obtenção do diesel S10, de baixa emissão de gases de enxofre na atmosfera. Uma outra aplicação que passa a ganhar posição de destaque no mundo, é do uso do hidrogênio como combustível automotivo, lembrando que há muito ele é o combustível usado pelos foguetes espaciais. A amônia passa também a ser usada como combustível dos navios, substituindo o bunker de origem fóssil.

Aqui na Bahia, onde está sendo instalada a maior fábrica de hidrogênio verde do mundo, localizada em Camaçari e com previsão para entrar em funcionamento em 2023, já se consome hidrogênio na fabricação de amônia e ureia. Aqui a amônia também é insumo para a fabricação de acrilonitrila, metacrilato de metila e sulfato de amônio. A fabricação do sulfato de amônio, usado como fertilizante, sairá fortalecida com a construção de nova fábrica de ácido sulfúrico, substância que usa esse ácido como matéria-prima.

Essas informações, embora recheadas de tecnicismo químico e de leitura, para uns, de pouco agrado ou difícil digestão, servem para dizer que temos também boas notícias e que o Polo Industrial de Camaçari segue atraindo novas indústrias, compensando aquelas unidades que eventualmente tiveram de paralisar suas operações.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

 

 

 

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