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ARMANDO AVENA: SALVADOR: A ECONOMIA DA PERIFERIA

Redação - 14/06/2019 07:35 - Atualizado 14/06/2019

No mundo da globalização, o local é cada dia mais importante. Paradoxalmente, embora o consumidor possa com um leve toque no celular comprar produtos em qualquer parte do mundo, o mercado local de lojas e serviços, especialmente na periferia das cidades, não para de crescer. O chamado e-commerce cresce em toda à parte, mas nas periferias dos grandes centros também se desenvolve cada vez mais aquilo que se pode chamar de economia da periferia, um tipo de mercado voltado para atender as classes de renda mais baixa que, diferente da classe média, exige dos agentes econômicos, além do binômio preço/relacionamento, a proximidade física e a identificação com seu universo de consumo e com sua capacidade de renda.

A economia da periferia está espalhada por Salvador onde, com toda a crise, estão surgindo lojas e prestadoras de serviços de todo tipo, disputando a renda do consumidor de classe baixa. Os movimentos dessa economia da periferia são fácies de perceber, basta ver os investimentos das redes de supermercados locais que estão se expandindo pelos bairros pobres da cidade – competindo com gigantes mundiais como a Walmart e a Cencosud – e o aumento do número de pequenas lojas de varejo e serviços que se multiplicam pelas ruas de Cajazeiras, do Subúrbio, da Liberdade e de toda a periferia.

Essas lojas estão próximas do consumidor, vendem produtos voltados para suas necessidades e seu nível de renda e sabem se comunicar com esse público, que tem um “idioma” próprio e uma forma específica de demandar.  E em plena era do e-commerce e dos drones que entregam produtos na casa do consumidor, é surpreendente  constatar que prospera também na periferia das grandes cidades o chamado marketing multinível, ou a venda direta de porta em porta através de equipes formadas para atingir esse tipo de consumidor. Pouca gente sai do subúrbio ou da periferia de Salvador para comprar alimentos num grande hipermercado, fazer o cabelo num grande salão ou comprar roupas num magazine, pois seria antieconômico, não apenas por causa dos preços, mas pelo custo e pela dificuldade de deslocamento.

Um exemplo de empreendedor que focou nesse nicho de mercado é a empresária Rosemma Malluf, proprietária de um outlet na Rua do Uruguai, na península de Itapagipe, um verdadeiro shopping center, sem cinema, lojas âncoras ou escadas rolantes, mas que  possui 240 pontos de vendas e está em expansão. Não é para menos, vizinho ao Outlet Center vivem cerca de 200 mil pessoas e quase 500 mil estão no seu entorno. Entusiasta da economia da periferia, Rosemma avisa que nesse mercado só prosperam os empreendimentos moldados para o tipo de consumidor que mora ali.

E cita casos surpreendentes como o da Hinode, empresa que o consumidor de classe média sequer conhece, mas que é uma das maiores vendedoras de cosméticos do país e lá instalou um Centro de Distribuição que dissemina os produtos na região através do marketing multinível. Estima-se que bairros como Cabula, Tancredo Neves, Liberdade, São Caetano, Cajazeiras, Calçada e o Subúrbio sejam o local de trabalho de quase 50% da população empregada em Salvador e essa economia da periferia não limita-se apenas ao varejo, mas possui um setor industrial amplo e diversificado, com gráficas, pequenas metalúrgicas, indústrias têxteis, oficinas e muito mais. Além disso, a cada dia surgem novas empresas de serviços, a exemplo de salões de beleza, serviços de reparação, oficinas e clínicas médicas e odontológicas que oferecem preços mais baixos àqueles que perderam o plano de saúde ou não encontram espaço no SUS. Esta é a economia da periferia que mostra que mesmo no mundo global, o local é imprescindível.

                                               A BAHIA JÁ ESTÁ EM RECESSÃO

Tecnicamente, um país está em recessão quando seu PIB – Produto Interno Bruto tem crescimento negativo por dois semestres consecutivos. Sendo assim, a Bahia já está em recessão. Isso porque, sempre em relação ao ano anterior, o PIB da Bahia caiu 0,5% no 1o trimestre de 2019 e caiu 0,1% no último trimestre de 2018. Se a comparação for trimestral, o PIB baiano sofreu queda de  0,2% no 1o trimestre de 2019 e caiu 1,4% no último trimestre de 2018, sempre em relação ao trimestre anterior. Vale lembrar que o desempenho da economia nacional foi fraco, mas positivo, pois no 1o trimestre de 2019 o PIB brasileiro cresceu 0.5%. Ou seja, o Brasil está estagnado e a Bahia já está em recessão. Os dados são oficiais do governo do Estado, elaborados pelo SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais.

                                             TURISTAS ESTRANGEIROS

Salvador foi a sétima cidade que mais recebeu turistas estrangeiros que vem ao país  em busca de lazer,  representando 5,5% do total. As demais cidades são Rio de Janeiro, Florianópolis, Foz do Iguaçu, Búzios, São Paulo e Bombinhas em Santa Catarina. É preciso notar que em várias localidades do Sul os turistas, fundamentalmente argentinos, utilizam o transporte terrestre para a chegar ao Brasil, por isso os números expressivos. Se o meio de transporte fosse apenas avião ou navio, Salvador estaria em 4o ou 5o lugar no ranking. Nenhuma cidade do Nordeste, além de Salvador, aparece entre as dez principais, mas em termos de incremento de turistas tanto Recife quanto Fortaleza estão crescendo mais que Salvador, provavelmente por conta dos hubs de grandes empresas lá instalados. Quando a modalidade é o turismo de negócios e eventos com foco em turistas estrangeiros, Salvador aparece em 10o lugar com 2,0%, quase metade do que recebeu em 2014, mas nesse ano houve o efeito Copa do Mundo. Os dados fazem parte do Anuário Estatístico do Turismo, divulgado pelo Ministério do Turismo esta semana, com base em informações da Polícia Federal

                                                        MAX WEBER

Neste 14 de junho se comemora 99 anos da morte de Max Weber, o pai da sociologia, e tanto os partidários do movimento Lula Livre quanto aqueles que defendem a Operação Lava-Jato a  a qualquer preço deveriam lê-lo para entender a diferença entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade.  A ética da convicção parte de um pressuposto irracional e é movida unicamente pela crença em uma  verdade supostamente incontestável, seja a palavra de um homem ou um dogma,  e em seu nome tudo é permitido, não importando as consequências daí resultantes. Ou seja, na ética da convicção os fins justificam os meios. A ética da responsabilidade, pelo contrário, parte de um pressuposto racional e afirma que é injustificável recorrer a meios desonestos, mesmo que seja para alcançar fins bons.  O Brasil não pode mais aceitar o reinado da ética da convicção, pois nesse reino quem antes combatia a corrupção, passa a conviver com ela para justificar a aprovação de medidas sociais e quem combatia os abusos na legislação, passa abusar da legislação para supostamente combater a corrupção. É cada vez mais urgente que militantes, membros do Supremo, procuradores da República, juízes do Poder Judiciário e, principalmente, políticos do Congresso Nacional e até o presidente da República leiam o livro de Weber.

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