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ADARY OLIVEIRA- PREVENDO O FUTURO

Redação - 11/05/2020 07:00

Saber sobre o futuro é uma das coisas que mais fascina a humanidade. Eu não acredito nas previsões laboradas no jogo de búzios, no tarô, de cartas e nem nas que se baseiam na bola de cristal. Entretanto, o uso das ciências exatas nos proporciona instrumentos de predição muitas vezes perfeitos. No campo da química eu tenho certeza de que em condições normais, principalmente de pressão e temperatura, a reação de um ácido com uma base resulta na formação de um sal, a forma mais estável das substâncias. No campo da física, não tenho dúvida de que se eu colocar um copo com água gelada sobre a mesa, dentro de algum tempo vai haver a troca de calor e a temperatura da água vai aumentar, passando para a temperatura do ambiente. É possível até calcular o tempo decorrido para o fenômeno se completar. Já no campo social, a previsão é muito mais difícil de se fazer. Um namoro pode virar noivado e um noivado em casamento, mas nem sempre.
Modelos matemáticos têm sido usados para se prever o futuro e os computadores têm sido um bom aliado. Na previsão do tempo, por exemplo, eles são de extrema sofisticação e só supercomputadores podem resolver equações complicadas entrelaçando inúmeras variáveis, para rapidamente determinar as condições meteorológicas futuras. Temperatura, pressão atmosférica, pressão de vapor, composição do ar, velocidade e direção dos ventos, enfim, inúmeras são as vaiáveis que compõem esses modelos matemáticos. No passado ninguém acreditava na previsão do tempo, hoje não. Talvez a previsão ainda não revele a verdade verdadeira, mas chega bem perto dela.
A construção de um modelo matemático procura aproximar dados do futuro com acontecimentos passados. Usa-se as diversas normas que conhecemos com suas prescrições perfeitas. As funções aritméticas, potenciais e exponenciais de vários graus, logarítmicas, trigonométricas, infinitesimais, ou a combinação delas, são colocadas em espaços na busca de um coeficiente de correlação que mais as aproxime da realidade. As adequações podem ser feitas por método científico ou mesmo por tentativa e erro. Antigamente era muito trabalhoso fazer uma regressão linear calculando-a com o método dos mínimos quadrados. Com os softwares de hoje faz-se isso em frações de segundo, com maior precisão e sem erros. O difícil é encontrar a expressão analítica que reúna as variáveis de modo a retratar fielmente o fenômeno.
A pandemia do coronavírus tem levado os cientistas de todo o mundo a construir modelos matemáticos que possam prever fielmente o que vai acontecer. Quantas contaminações observadas, o índice de pacientes curados, a quantidade de respiradores necessários, a contagem de mortos, a indicação dos espaços nos cemitérios, enfim, uma situação de caos e intranquilidade com muitas indagações e incertezas. A identificação do algoritmo mais real, o que fazer para se obter o achatamento da curva, quando vai começar a diminuição das ocorrências, qual o seu relacionamento com as condições sociais das vítimas, tudo muito difícil de se fazer por se tratar de uma coisa nova recheada de ineditismo.
Do lado da saúde, quanto tempo se vai ter que esperar para a sintetização de um medicamento eficaz, e até quando se vai poder contar com uma vacina definitiva que venha a varrer o mal do planeta? Os serviços médicos se deterioram de qualidade com o colapso dos hospitais e a falta de tudo. Do lado do setor produtivo os problemas crescem a cada dia e se avolumam sem cessar. São mostrados na contabilização das fábricas paradas, nos salários reduzidos, na queda da produção e das vendas, no crescimento dos estoques, no comércio fechado, no aumento desenfreado do desemprego e no incontrolável agigantamento da marginalidade. E até quando? Difícil se prever.
A falta de clareza sobre o que vai acontecer no porvir, a inexatidão dos métodos de previsão e as limitações científicas para se chegar a uma cura rápida do mal, nos traz uma enorme sensação de fragilidade e insegurança. Tomara que esse tempo passe logo e que a humanidade encontre meios de impedir a sua repetição no futuro.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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