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POEMAS DE ANO NOVO – ARMANDO AVENA

Redação - 28/12/2023 08:37 - Atualizado 28/12/2023

Lá do alto do décimo segundo andar do Ano, vive uma louca chamada Esperança. Ela atira-se  no momento em que as sirenes tocam e os fogos espocam, mas é encontrada incólume na calçada, outra vez criança, a dizer que seu nome é Esperança. O resumo não faz jus à beleza do poema de Mário Quintana, por isso, vá lê-lo em verso e   sonhar com uma louca que se transforma em criança para 12 meses depois tornar-se louca novamente.  Eu, que apenas escrevo, acho que a mudança de ano não muda coisa alguma. “Ficção de que começa alguma coisa! / Nada começa: tudo continua” diria Fernando Pessoa.

Mas não há porque ter desesperança. Pode-se fazer promessas e listas e prometer a si mesmo cumpri-las no ano que começa.  Carlos Drummond de Andrade teria outra receita:

“Não precisa fazer lista de boas intenções/para arquivá-las na gaveta./Não precisa chorar arrependido/pelas besteiras consumadas/nem parvamente acreditar/que por decreto de esperança/a partir de janeiro as coisas mudem/ e seja tudo claridade, recompensa,/justiça entre os homens e as nações,/ liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,/ direitos respeitados, começando/ pelo direito augusto de viver.”

É verdade, poeta, não basta alvorecer o dia em que os homens resolveram mudar de ano, para que tudo mude. Sim, eu sei,  “que para ganhar um Ano Novo que mereça esse nome cada um tem de fazê-lo novo”.

Machado de Assis identificava o “novo” em um dos dois horizontes da vida: “Um horizonte – a saudade/ Do que não há de voltar; Outro horizonte – a esperança / Dos tempos que hão de chegar;

Pois é, há que ter esperança, há que  renovar-se. E para isso, certa feita, pouco antes do ano começar,  escrevi a quatro mãos no muro da casa onde eu morava os versos de Cecília Meireles:

“Renova-te./Renasce em ti mesmo./ Multiplica os teus olhos, para verem mais./ Multiplica-se os teus braços para semeares tudo./Destrói os olhos que tiverem visto./Cria outros, para as visões novas./Destrói os braços que tiverem semeado,/Para se esquecerem de colher./Sê sempre o mesmo./Sempre outro./ Mas sempre alto./Sempre longe./E dentro de tudo”.

De pouco adiantou,  os anos passaram e a hera cobriu o muro, reescrevendo o poema. Eu tentei  detê-la e sempre que um ano começava trazia Cecília de volta, sabendo que era eu que voltava. Foi de pouca valia e um dia Ricardo Reis tirou-me toda a esperança:  “No breve número de doze meses/ O ano passa, e breves são os anos,/Poucos a vida dura./ Que são doze ou sessenta na floresta/ Dos números, e quanto pouco falta/ Para o fim do futuro!

Sim, poeta, a efemeridade reina, mas o Ano Novo está prestes a começar, por isso, atiro-me do décimo segundo andar disposto a cair no solo incólume, transformado em criança a declamar Bandeira:  “Vou-me embora pra Pasárgada/Lá sou amigo do rei/Lá tenho a mulher que eu quero/Na cama que escolherei.

Publicado no Jornal A Tarde em 28/12/2023

 

 

 

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