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JULIANA PIMENTEL – ESPETACULARIZAÇÃO DO HORROR

Redação - 26/03/2018 14:53 - Atualizado 09/04/2018

Na semana passada, lendo rotineiramente um site de notícias, uma delas me chamou a atenção: “Acrobata do Cirque du Soleil morre após acidente em espetáculo nos EUA”. Já tive a oportunidade de assistir a um dos espetáculos apresentados pelo circo mencionado e lembro-me de ter ficado impressionada com o nível e qualidade dos artistas. Consequentemente, me interessei pela matéria e resolvi saber um pouco mais sobre o conteúdo.

A notícia trazia em seu bojo detalhes sobre o fatídico espetáculo, a foto do artista e um vídeo referente a uma reportagem veiculada em um canal de televisão. Ou seja, havia o suficiente para saber sobre o fato e se sensibilizar com a morte de alguém que se acidentou fazendo o que amava. Mas o que realmente se destacou foi o espaço reservado para os comentários dos leitores. Neste, dentre os sentimentos expressados, os que mais se destacavam eram a indignação e a decepção, geradas pela ausência de vídeos e imagens que pudessem demonstrar o momento exato do acidente. Apesar da notícia mórbida, o anseio era por imagens que trouxessem sangue e terror.

Na mesma semana da notícia sobre o acidente com o artista, a internet borbulhava informações sobre a morte da ativista Marielle Franco. E, em meio a todas as manifestações de apoio e solidariedade aos ideais e à família, inúmeros áudios, fotos e “informações exclusivas” eram compartilhados com o intuito de deturpar o discurso e difamar a vereadora. Entre as informações repassadas estavam as de que a ativista teria engravidado aos dezesseis anos, teria sido casada com o traficante Marcinho VP e teria sido eleita pelo Comando Vermelho. Posteriormente, diversos veículos de comunicação reconhecidos por sua credibilidade, como O GLOBO e EL PAÍS, trouxeram as verdadeiras versões para os boatos levantados.

Mas o que essas histórias têm em comum? A insensibilidade de uma parcela da população que anseia incansavelmente por espetáculos de horror. No caso de Marielle, as mentiras inventadas, possivelmente, foram criadas com um fundo político e ideológico, mas a disseminação de tais informações falsas nada mais é do que o apreço, que muitos possuem, em compartilhar a miséria alheia. Tanto faz se o ato é disseminar fotos de um corpo destroçado no chão ou propagar difamações que ferem a memória de alguém morto, ambos alimentam um propósito em comum: espetacularizar tragédias.

Mais que apoiar bandeiras e concordar com os ideais de A ou B, é importante ter consciência do que se compartilha. Foge do senso de convivência social não demonstrar um pouco de solidariedade humana em relação à morte de alguém. Na velocidade de um “click”, que dura menos de um segundo, informações infundadas e difamatórias podem abrir feridas que levarão anos para serem curadas.

E, nesse contexto, cabe a reflexão: o que compartilhamos nos dias de hoje? O que buscamos ver nos noticiários? Parece que o espetáculo é muito mais importante que a busca por fatos reais. São milhares de pessoas sedentas por tragédia, difamação, sangue e terror, mas que, paradoxalmente, se espantam com o quão violento o mundo está.

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