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WILSON F. MENEZES- ECONOMIA X SAÚDE NOS TEMPOS DE COVID-19. FAÇAM SUAS APOSTAS

Redação - 08/04/2020 07:54

A sociedade brasileira tem enfrentado um dilema. Muitos consideram que a política de reclusão domiciliar adia a contaminação do coronavírus, de maneira a não sobrecarregar a frágil estrutura hospitalar, que não se encontra preparada para receber de uma só vez um grande volume de pessoas contagiadas. Assim, a recomendação é “ficar em casa”. Com isso, provoca-se uma defasagem temporal na curva de infecção, enquanto se trabalha na produção de uma vacina ou medicamento. Claro que se trata de uma estratégia interessante, sobretudo para aqueles que têm algum recurso financeiro e um bom serviço de delivery. Por outro lado, há aqueles que vêm essa tática como altamente maléfica, dado que em pouco tempo a estrutura econômica não resistirá já que a reclusão domiciliar paralisa a atividade econômica, com efeitos negativos para todos os setores econômicos e sociais. Essa visão do problema percebe imediatamente que os setores movidos por trabalhadores autônomos e por conta própria são os primeiros a sentirem a dureza da paralização, por não disporem de grandes poupanças para queimar nesse tempo imposto pelo vírus chinês. Economia ou saúde aparece, portanto, como uma verdadeira “escolha de Sofia”, quando se tem que tomar uma decisão, com elevadíssimo custo social, sob forte pressão que paira sobre tudo e sobre todos.
Eu diria que em um primeiro momento, é sim uma “escolha de Sofia”, mas também não se pode negar que a continuidade indefinida de uma reclusão familiar, certamente, afetará o funcionamento da estrutura econômica de tal forma a não mais se saber se a doença matará mais ou menos em relação aos seus efeitos colaterais. Economia versus saúde vai, portanto, se tornando, pouco a pouco, em um falso dilema. A política de reclusão da população por longo tempo necessariamente aciona, mesmo sem querer, uma armadilha social com grandes prejuízos econômicos, sem falar nas vidas que serão ceifadas lá na frente, não mais pelo coronavírus, mas pela ausência total das condições mínimas de subsistência ou mesmo pela amargura emocional de muitas pessoas.
Essa reclusão domiciliar reduz substancialmente o consumo. A paralização do comércio atinge imediatamente os pequenos negócios que servem diretamente ao público, causando forte queda das vendas e, logo, logo, do emprego. Empresas desse setor reduzem a demanda por reposição de seus estoques, de maneira a repassar toda problemática econômica e do emprego aos seus fornecedores, e assim sucessivamente até alcançar toda estrutura econômica que vai se encontrar praticamente paralisada em pouco tempo. A economia não resistirá a um mês, com graves consequências no abastecimento, no emprego, na arrecadação e, por definição, nas possibilidades de gastos do governo, tão necessários para se tentar sanar ou minimizar o sofrimento da população. Mas o grande problema a ser enfrentado será a perda dos elos econômicos que constroem a cadeia de produção, distribuição, comercialização e consumo. Nessa hora, imprimir dinheiro, como quer um ex-presidiário, apenas agravará o problema, dado que uma hiperinflação não pode ser descartada.
Sim, tudo tem que ser feito com muito rigor. Mas parar a atividade econômica deixa a vida insuportável e, na sequência, impossível. Claro que muitas pessoas não têm dinheiro para aguentar o tranco. Mas, o grande problema, é que simplesmente essa paralisia vai desorganizar toda a cadeia produtiva, provocando desabastecimento e falta de produtos, mesmo para quem tem dinheiro. Será uma catástrofe anunciada. Difícil com a economia funcionando, mesmo com fortes restrições, pior será o resultado com paralização total da atividade econômica. É um desafio? Sim, mas a solução só pode acontecer com a economia funcionando. É um problema de minimização com restrição. A restrição é o funcionamento da economia. Simples sim, mas complexo para levar isso a termo.
É hora de ver todas as possibilidades de ação e analisá-las com muita acuidade. Existem muitas opções: a) nada fazer; b) perguntar ao comando chinês, como eles conseguiram infestar o mundo sem que nada ocorresse em Xangai; c) comprar máscaras e luvas infectadas (se possível da China), para rapidamente contagiar mais de 70% de pessoas e com isso resolver o problema ou d) nenhuma opção anterior. Quero aqui lembrar que os exemplos de Hong Kong e Japão são muito sugestivos. Qual seja a estratégia, sugiro que em um primeiro momento, se aja apenas com a razão e distante dos políticos adeptos do “quanto pior-melhor”. A escolha dentre as possíveis estratégias tem que acontecer rapidamente, afinal o trem é de alta velocidade e está em pleno movimento. Uma vez escolhida a estratégia, aplique-se imediatamente. A situação atual não é de um simples malabarismo, mas de um malabarismo a beira do precipício, tal como estamos acostumados a ver nos filmes de Chaplin, eterno herói. Que ele traga alguma luz aos nossos tomadores de decisão.

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