quarta, 17 de dezembro de 2025
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ENTREVISTA COM – MILA PAES – SECRETÁRIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, EMPREGO E RENDA DA PREFEITURA DE SALVADOR

João Paulo - 17/12/2025 20:41

Bahia Econômica – A Prefeitura de Salvador tem investido em programas com o objetivo de atrair empresas e a secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda de Salvador tem atuado nesse sentido. Que balanço a senhora faz dos resultados?

Mila Paes – A utilização responsável dos recursos públicos é premissa fundamental para qualquer gestão. Em um cenário de restrições orçamentárias, decisões assertivas são determinantes para maximizar resultados. É com essa perspectiva que a SEMDEC estrutura suas políticas de atração e desenvolvimento de negócios: mapeamos nossas vantagens competitivas e direcionamos esforços para fortalecer os vetores mais estratégicos da economia local.

Salvador possui atributos únicos — como um porto natural situado na segunda maior baía do mundo, com águas abrigadas e excelente calado — que nos conferem posição privilegiada no setor logístico. A partir disso, desenvolvemos programas específicos de incentivo ao polo logístico em regiões com maior potencial de expansão.

No turismo, outro pilar da nossa economia, nossa riqueza histórica e cultural se traduz no maior conjunto colonial das Américas. Para potencializar esse setor, estruturamos um plano robusto de recuperação e reocupação do Centro Histórico, por meio da implantação de diversos equipamentos públicos — Hub Salvador, Doca 1, Casa do Carnaval, Cidade da Música, Galeria Mercado, Casa das Histórias — e da transferência de secretarias municipais para a região. A esse movimento somam-se programas de incentivo fiscal, como o Revitalizar e seu sucessor, o Renova Centro, atualmente o mais abrangente programa brasileiro voltado à revitalização de centros históricos.

A efetividade de uma política pública se confirma pela adesão da sociedade. O Renova Centro, com pouco mais de 18 meses, já conta com 19 empreendimentos aderentes, e o volume de novos pedidos vem se acelerando. Um simples passeio pelo Centro Histórico e pelo Comércio evidencia a revitalização urbana, o aumento da circulação de pessoas e a dinamização econômica. Nosso foco agora é atrair moradias para essas áreas, assegurando vitalidade permanente, de dia e de noite.

Bahia Econômica – Muitos empresários reclamam que o ISS em Salvador é maior do que nas cidades vizinhas e que isso estimula sediar empresas no entorno de Salvador. Isso procede? O que vem sendo feito para resolver a questão?

Mila Paes – O ISS é um tributo essencial para a manutenção de serviços públicos e infraestrutura municipal. Todas as capitais brasileiras adotam alíquotas equivalentes às de Salvador e, assim como nós, estabelecem alíquotas específicas para setores estratégicos, considerando sua capacidade de gerar empregos, atrair investimentos ou criar valor econômico regional.

Municípios de menor porte, muitas vezes carentes de atrativos naturais ou estruturais, utilizam alíquotas inferiores como estratégia quase única de competitividade. Entretanto, o desenvolvimento econômico não se restringe a divisas administrativas: as cidades da região metropolitana se complementam e se influenciam mutuamente. Assim, não se trata exatamente de um “problema a ser resolvido”, mas de um ecossistema integrado onde fluxos econômicos se distribuem de forma natural.

Bahia Econômica – A secretaria tem políticas específicas para todos os setores, incluindo logística, tecnologia e inovação. Qual os segmentos que obtiveram melhor resultado?

Mila Paes – Além de logística, tecnologia e inovação, temos atuado fortemente em setores como turismo, cultura, economia do mar e construção civil. O turismo, por contar com programas mais consolidados, é hoje o segmento que apresenta resultados mais expressivos. O Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães deverá receber, nesta alta estação, um crescimento de 14,2% no número de assentos disponíveis em relação ao verão anterior — o terceiro maior aumento do país. A malha doméstica e internacional segue em expansão, com destaque para o novo voo para o Panamá, importante hub de conexões para a América do Norte.

No campo logístico, observamos a instalação de novos centros na capital, e nosso porto foi eleito pelo Banco Mundial como o mais eficiente do Brasil, consolidando nossa competitividade. A economia do mar ganhou relevância suficiente para se tornar uma secretaria própria, dedicada a ampliar sua participação no desenvolvimento local. Já o Renova Centro vem estimulando um mercado de retrofit que estava praticamente inativo na cidade.

Apesar dos avanços, nosso desafio continua sendo elevar a renda per capita e ampliar a geração de empregos. Por isso, seguimos comprometidos com a diversificação da matriz econômica, estudando áreas como saúde e indústria criativa para desenhar uma Salvador do futuro mais dinâmica, inovadora e ainda melhor para se viver

Bahia Econômica – Em relação ao zoneamento para atividades industriais que áreas de Salvador estão atraindo mais empresas? Há estímulo a atração de centros de distribuição e outras atividades na área de logística?

Mila Paes – Nós estamos num momento de repensar esse zoneamento, inclusive o PDDU vai ser revisado agora. O setor de logística é um exemplo de um case em que o PDDU trouxe uma sugestão de zoneamento e a política pública implementou um programa de incentivo. Como resultado, a gente já teve empresas se instalando com base nesses benefícios.

O Programa de Incentivo ao Polo Logístico contempla cinco grandes áreas estratégicas — Valéria, São Tomé, Porto Seco, BR-324 e Barros Reis — todas localizadas em eixos com fluxo rodoviário favorável ao escoamento de produtos. Nessas regiões, atividades logísticas têm acesso a um conjunto de benefícios fiscais, incluindo ITIV, IPTU e ISS, fortalecendo o ambiente de negócios e incentivando novos investimentos.

A gente tem exemplos de centros de distribuição de logísticas que já foram beneficiados por esse programa que a gente lançou. É um exemplo de política pública que casa o zoneamento com o incentivo, com o olhar do poder público que resultou no investimento privado, justamente a partir desse estímulo público. Agora a gente vai fazer a revisão do PDDU e a ideia é analisar e propor mudanças e sugestões nesse olhar sobre o zoneamento estratégico da cidade.

Bahia Econômica – empresariado se queixa muito da falta de qualificação da mão-de-obra em Salvador? O que a secretaria vem fazendo nesse sentido?

Mila Paes – É natural que parte do empresariado manifeste preocupação com a qualificação da mão de obra, especialmente em um momento em que Salvador vive um ciclo de expansão econômica e abertura de novas vagas formais. Esse movimento exige profissionais mais preparados e, por isso, a Prefeitura de Salvador, por meio da SEMDEC e do SIMM, vem intensificando ações estruturantes para responder de forma prática a essa demanda.

Hoje atuamos em três eixos: qualificação orientada ao mercado, aproximação entre empresas e trabalhadores e desenvolvimento de competências para empregabilidade.

Um destaque é o Treinar para Empregar, programa que qualifica trabalhadores com base nas demandas reais dos setores produtivos. A iniciativa oferece uma jornada completa: formação técnica alinhada às áreas que mais crescem em Salvador, desenvolvimento de soft skills e competências socioemocionais, trilhas de tecnologia e informática básica, além de mentoria de mercado, que orienta o participante sobre processos seletivos, postura profissional e construção de carreira. O objetivo é reduzir o descompasso entre o que as empresas buscam e o que os candidatos apresentam, fortalecendo a empregabilidade e ampliando as chances reais de inserção no mercado de trabalho.

Paralelamente, temos fortalecido o SIMM como o principal instrumento público de intermediação de mão de obra da cidade. Modernizamos processos, ampliamos parcerias com empresas e implantamos mecanismos de ajuste fino entre o perfil da vaga e o perfil do candidato, acelerando seleções e reduzindo o tempo de contratação.

Também investimos em ações itinerantes e no mapeamento territorial das demandas, democratizando o acesso à qualificação e garantindo inclusão produtiva nos bairros que mais precisam.

A preocupação do empresariado é legítima e nós estamos respondendo com política pública, planejamento e resultados concretos, para que Salvador avance com uma mão de obra cada vez mais qualificada, competitiva e preparada para o futuro do trabalho.

Bahia Econômica – A SalvadorPAR é uma empresa de economia mista que também atua na atração de novos investimentos. Vocês têm trabalhado em conjunto nesse sentido?

Mila Paes – Sim. A SEMDEC é o órgão responsável pela área de concessões e parcerias municipal, pelo acompanhamento do Plano Integrado de Concessões e Parcerias de Salvador (PICS), além de presidir o Conselho Gestor de Parcerias (CGP), órgão colegiado responsável pelas deliberações acerca de todos os projetos de concessões municipais. Neste contexto, a SEMDEC criou a SalvadorPAR em 2022 para, dentre outras atribuições, apoiar na estruturação de projetos de concessões e parcerias, o que também inclui a atração de investimentos relativamente a estes tipos de projetos. Atualmente, a carteira de projetos de concessões de Salvador já conta com cerca de dez projetos em fase de estruturação, em diversos setores, como saneamento, turismo, cultura, esportes e logística.

A SEMDEC também atua na atração de investimentos através do programa Invista Salvador, que foca em ações para atrair investimentos, melhorar o ambiente de negócios e fortalecer o empreendedorismo local e os negócios existentes. É a porta de entrada do investidor e empreendedor na cidade. O Invista Salvador possui um portal que integra informações e dados econômicos da cidade relevantes ao investidor, empresário ou empreendedor, para que encontre tudo em um só lugar de maneira fácil, coesa e transparente (invista.salvador.ba.gov.br).

 

Foto: Site Mar Bahia

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