Bahia Econômica – A paralisação da FIOL e do Porto Sul pela atual concessionária a Bamin Mineração tem causado preocupação à Bahia. Como a Fieb vê a questão e que medidas poderiam ser tomadas para agilizar esse processo?
Carlos Henrique – Compartilhamos esta preocupação. A FIOL e o Porto Sul são dois instrumentos de infraestrutura extremamente importantes para a Bahia e são interdependentes. Não faz muito sentido ter um e não ter o outro. Vale destacar que a FIOL está dividida em vários trechos, e um deles vai permitir a ligação com a FICO (Ferrovia Centro Oeste). O que fazer diante do cenário de suspensão das obras da FIOL? Primeiro, é importante lembrar que ainda tem um contrato de concessão vigente. Aguardamos que o governo atue, por meio da sua agência reguladora, e que faça as exigências necessárias de continuidade e conclusão. Ou então que busque também a rescisão contratual para encontrar uma solução, que pode ser a própria conclusão da ferrovia como obra pública, como ela foi iniciada, ou uma nova concessão, que pode ser inclusive dentro da proposta de integração da FIOL 3 com a FICO.
Bahia Econômica – A Acelen está em processo de implantação de uma biorefinaria de grande porte e já há outros projetos na mesma linha de biocombustíveis. A Fieb está acompanhando esse processo. De que maneira o Cimatec está contribuindo.
Carlos Henrique – A Fieb vem acompanhando junto à Acelen, por meio do nosso Conselho de Petróleo e Gás – que é presidido por um representante da própria Acelen –, os passos para implantação desse projeto. Vale destacar que o projeto de uma biorrefinaria passa também pela própria consolidação de produção da matéria-prima, que requer um plantio numa escala industrial capaz de abastecer uma refinaria. Acompanhamos esta iniciativa com interesse. Recentemente, houve a publicação da política de transição energética que conversa com o assunto e estamos apoiando a Acelen nas tratativas em relação ao próprio governo e órgãos financiadores, para que possamos concretizar esse investimento.
Bahia Econômica – E a implantação da BYD na Bahia traz a expectativa de novo processo de neoindustrialização? O Sr. acha viável a implantação no site da BYD de uma fábrica de baterias?
Carlos Henrique – Eu acho que vai ser extremamente importante para a Bahia a implantação da BYD, como também da fábrica de baterias. Em relação ao fornecimento de energia, o Brasil requer soluções para a estabilidade do seu sistema elétrico, considerando que nosso sistema atual é alimentado, parte por energia hidráulica, que tem uma estabilidade, mas parte significativa por energia eólica e solar. Para isso, a existência de baterias para a estabilidade de potência das redes é extremamente importante.
Bahia Econômica – Em relação às fábricas de hidrogênio verde, a FIEB acredita que a Bahia tem possibilidades?
Carlos Henrique – O hidrogênio verde nada mais é do que a eletrólise da água. E para ser verde, essa eletrólise é feita utilizando-se de energia renovável. A Bahia tem uma presença muito forte na produção de energia renovável. Também dispõe, em boa parte do seu território, de água para poder fazer o processo industrial. Acho que o grande desafio hoje do hidrogênio verde é encontrar o equilíbrio do preço enquanto uma energia. A gente sabe que uma molécula de energia de hidrogênio verde consome duas moléculas de energia renovável. Então, você precisa ter um preço para esse produto que o torne economicamente viável e justifique a substituição de energia renovável por hidrogênio verde. Um dos mercados para isso é a exportação de hidrogênio verde, em especial para mercado alemão. Mas a Alemanha também está buscando outras soluções que não sejam necessariamente a importação. Temos sim que buscar a produção de hidrogênio verde com preço competitivo no mercado, seja para o mercado nacional, para descarbonizar nossa própria indústria, seja para países que precisem de energia limpa.
Bahia Econômica – A reforma tributária representa o fim dos incentivos fiscais para o Nordeste. Muitas empresas estão preocupadas com essa questão e algumas, mais dependentes do mercado do Sudeste, acenam inclusive com a possibilidade de retorno de suas fábricas. Qual a sua visão sobre isso?
Carlos Henrique – Não foi a reforma tributária que pregou ou estabeleceu o fim dos subsídios das empresas – havia um dispositivo legal que, em 2032, iria acabar essa chamada guerra fiscal. A reforma veio na forma de complementação de um dispositivo já existente. Nós entendemos que a atração das empresas para qualquer estado ou local requer um pilar dividido em três fases. A primeira delas é a infraestrutura. O estado precisa oferecer condições para que a empresa possa progredir, diminuindo seu custo de produção e oferecendo uma infraestrutura de qualidade. Nós precisamos oferecer condições para o insumo chegar até as fábricas e para que ele possa deixar as fábricas e chegar até os locais de vendas. Precisamos enfrentar alguns gaps que temos. O segundo deles é a capacitação humana, que é muito importante também. Cada vez mais as empresas buscam profissionais mais qualificados, e a Bahia precisa superar essa barreira e melhorar seus índices de educação – o SENAI e outras instituições têm contribuído para essa qualificação. Oferecer mão de obra de qualidade vai colocar a Bahia na vanguarda nessa nova era. O terceiro e não menos importante é o mercado, com pessoas com renda capaz de consumir os produtos das empresas.
Bahia Econômica – Sobre a questão da guerra comercial entre Estados Unidos e China, como a indústria baiana está vendo essa situação?
Carlos Henrique – Nós estamos acompanhando de perto essa questão. Precisamos observar que quando existe uma questão tarifária entre duas grandes potências como Estados Unidos e China existem desdobramentos em todas as economias e setores do mundo. Na Bahia, é importante destacar um possível aumento nas exportações para China e para os Estados Unidos, visto que esses países estão à procura de novos mercados para atender sua demanda. Porém, observamos também, quanto às importações, que é preciso criar mecanismos protetivos para evitar que um produto de fora chegue com um preço menor e tire a competitividade das empresas brasileiras. Na FIEB, tenho conversado com muitos empresários e o que eles temem é exatamente isso, uma desproporcionalidade de preços no mercado que possa afetar a indústria local.
Bahia Econômica – Sobre o evento Index, que a FIEB vai realizar, o que o senhor poderia adiantar?
Carlos Henrique – A Index será um grande evento, no qual nós pretendemos reunir todos os segmentos da indústria baiana e possibilitar a interação e o contato entre as cadeias produtivas, tornando a indústria mais forte. Esperamos reunir mais de 200 expositores de todos os segmentos industriais e atrair cerca de 30 mil visitantes, realizar mais de 200 encontros de negócios estruturados e promover 100 horas de conteúdo técnico, incluindo fóruns com participação de autoridades nacionais e internacionais, como o Fórum Estratégico da Indústria Baiana e o Fórum COP 30 – ESG na Indústria. A iniciativa, inédita no estado, tem como premissa fortalecer a integração da indústria baiana com a agenda nacional, estimular o consumo de produtos industriais baianos dentro do próprio território e gerar um ambiente propício à atração de investimentos, à inovação aberta e à promoção da competitividade.