Bahia Econômica – Quais os pontos da reforma tributária que devem ser revistos para que o agro tenha sua capacidade de ganho elevada?
[BECOMEX – Vinicius Pacheco] A preocupação dos diversos segmentos da economia com a Reforma Tributária e, isso se aplica ainda mais fortemente para o Agro, não deveria ser somente o possível aumento da carga tributária mas também a velocidade da devolução dos créditos que são acumulados pelas empresas na cadeia de fornecimento. Como solução para evitar ou diminuir o acúmulo desses créditos tributários, o uso de regimes aduaneiros especais já existentes e previstos em lei passa a ser fundamental e é muito importante que o texto final da reforma que venha a ser aprovada mantenha a sua aplicabilidade, lembrando que, no texto atualmente em apreciação no senado, não há, por enquanto, nenhuma alteração nesse sentido. Outro ponto a observar, é a possível instituição das contribuições estaduais, trecho que foi acrescentado de última hora pelos deputados. Há especulações de que o texto original que saiu da câmara, possa ser alterado nesse ponto, transformando essas contribuições que incidiriam sobre produtos primários e semielaborados, em uma forma de taxar as exportações e como o agro é fortemente exportador de produtos dessa natureza, o segmento poderia ser muito impactado, gerando como efeito colateral uma perda de competitividade do Agro brasileiro frente a players globais em diversas culturas. Um imposto na exportação geraria uma distorção muito relevante na competitividade nacional e temos um exemplo de como isso é nocivo aqui do nosso lado, na Argentina, cuja a importância do Agro no PIB e nas exportações é inclusive, proporcionalmente, superior se comparado ao caso do Brasil.
Bahia Econômica – Qual a opinião do setor sobre a política internacional do governo Lula no segmento do agronegócio?
[BECOMEX – Vinicius Pacheco] Considerando que o Agro é um segmento muito dinâmico e complexo, há uma natural não convergência em muitas pautas, mas, fora um ou outro episódio isolado, a verdade é que existe um pragmatismo tanto do lado do governo como do lado dos empresários do Agro, de forma a posicionar o segmento como o grande player global no fornecimento de alimentos e na produção de energia limpa. A verdade é que, independentemente do governo de momento, o empresariado vai achar os caminhos. No caso do Agro brasileiro, nós temos condição de protagonizar e liderar, pois o Brasil já alimenta hoje cerca de 10% da população mundial e, até 2050, pode chegar a marca de 40%. Ou seja, onde podemos chegar depende muito pouco da orientação política e muito mais do “espírito animal”, no bom sentido, do empresariado.
Bahia Econômica – Qual o balanço que o senhor faz do setor do agronegócio brasileiro em 2023? Existe expectativa de aumento na participação do PIB do Brasil?
[BECOMEX – Vinicius Pacheco] Temos um ano de crescimento forte da importância do Agro na economia brasileira e acredito que ao final de 2023 teremos o Agro superando a marca de 24,8%% de participação do PIB nacional, que foi o percentual de representatividade do agro no ano de 2022. Aqui temos que levar em consideração o ótimo ano para grãos em geral (com destaque para soja, milho, arroz) no Brasil e a quebra de safra em países concorrentes, o bom momento do açúcar brasileiro considerando as dificuldades da produção na Índia esse ano, a produção e exportação de carnes com destaque para as suínas, os avanços tecnológicos seja em maquinário, seja especialmente em biotecnologia onde o Brasil é disparado líder mundial em diversas culturas, que nos ajudam a aumentar consistentemente a produtividade sem aumentar proporcionalmente em área de cultivo. Tudo isso contribuirá para uma relevância do Agro no PIB nacional ainda maior. Trata-se de uma linha de tendência de crescimento não só para os próximos anos mas, na minha visão, para as próximas décadas, dada a demanda por alimentos no mundo e a vocação do agro nacional.
Bahia Econômica – Existe possibilidade de aumento na geração de empregos do setor em 2023?
[BECOMEX – Vinicius Pacheco] Segundo levantamentos feitos pela Esalq/USP juntamente com a CNA, o segmento do Agro emprega hoje mais de 28 milhões de trabalhadores (o maior número desde 2012 e recorde da série histórica iniciada no mesmo ano) e comparativamente ao ano de 2022 há crescimento de empregados no Agro tanto no primeiro quanto no segundo trimestre de 2023. Considerando o protagonismo do Agro no PIB nacional e provável forte crescimento esse ano, tudo leva a crer que fecharemos o ano com incremento de trabalhadores no segmento.