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ENTREVISTA SAMUEL TORRES FALANDO SOBRE O MERCADO DE INVESTIMENTOS PARA 2021

Redação - 29/03/2021 07:00

João Paulo Almeida

Bahia Econômica – Como a Onze avalia o crescimento do número de investidores no Brasil nos últimos anos?

Samuel Torres – O expressivo crescimento de investidores que migraram de investimentos tradicionais como poupança e CDBs e migraram para o Tesouro Direto, fundos de investimento, ações e FIIs se deveu em grande parte a dois fatores: a) a forte queda das taxas de juros, que levou a rentabilidade desses investimentos tradicionais a caírem a níveis inferiores à inflação e, consequentemente, estimulou muitas pessoas a buscarem investimentos de maior retorno esperado e b) o significativo aumento de criação de conteúdo de educação financeira e relacionado a investimentos, ainda que muitos de qualidade e com objetivos duvidosos, dado que parte dos chamados influenciadores e dos jornais têm por trás patrocínio ou são detidos por instituições financeiras que ganham mais dinheiro com o excesso de negociação por parte dos investidores e com a alocação em determinados ativos.

BE- O que faz os brasileiros aprovarem os planos de previdência privada?

ST- O grande atrativo dos fundos de previdência são suas significativas vantagens tributárias para quem investe para o longo prazo. Todos os fundos de previdência contam com a ausência do come-cotas, a cobrança semestral de IR que incide sobre fundos não previdenciários de renda fixa e multimercados. A não cobrança do come-cotas permite a postergação do pagamento de IR, resultando num retorno significativamente superior quando o investimento é mantido por um prazo longo, que é justamente o objetivo dos fundos de previdência. Adicionalmente, quem escolhe a tabela regressiva de IR, paga apenas 10% de IR sobre os aportes mantidos por mais de 10 anos. Essa alíquota é menor do que qualquer outra encontrada em investimentos não isentos de IR.

Já quem escolhe a tabela progressiva e pretende realizar saques pequenos durante a aposentadoria, pode pagar alíquotas igualmente ou até mais baixas. Por último, para quem faz sentido aderir a um plano PGBL (quem faz a declaração de IR no modelo completo), é possível abater até 12% da renda anual bruta da base tributável, funcionando como mais um meio de postergação de IR. Além de todos esses benefícios fiscais, atualmente existem muito mais opções de fundos de investimento previdenciários, sendo possível encontrar fundos tão bons ou até melhores do que os não previdenciários.

BE- Com a taxa Selic iniciando um processo de alta, você acredita que o melhor modelo de previdência seja o PGBL ou o VGBL?

ST- Não vemos uma relação entre o aumento da taxa Selic e a escolha do tipo de plano. O principal determinante para a escolha do plano é o tipo de declaração de IR que a pessoa utiliza. Para quem faz a declaração simplificada, o mais recomendado é o VGBL e para quem faz a declaração completa, o mais recomendado é o PGBL.

BE- Qual a expectativa do mercado financeiro para 2021?

ST- No cenário externo, a perspectiva, de maneira geral, é positiva. China e EUA apresentam robusta recuperação econômica. No caso dos EUA, o pacote de US$ 1,9 trilhão e a veloz campanha de vacinação devem dar suporte para esse crescimento, o que tende a se refletir positivamente no preço das ações.

Contudo, há o risco de essa forte expansão do PIB e da moeda em circulação acarretar um aumento da inflação americana, que, se confirmada, levará o Fed a subir as taxas de juros. Essa expectativa já vem sendo precificada pelo mercado na alta dos yields das Treasuries, o que tem se refletido negativamente nos preços dos ativos de renda variável por todo o mundo.

Já no Brasil o cenário é bem mais nebuloso. O agravamento da pandemia tem trazido a necessidade de novas medidas de restrição de circulação, o que deve impactar negativamente o crescimento da economia e que também trouxe a necessidade de novo auxílio emergencial, que impactará negativamente as já frágeis contas do governo. E esse ponto é outro de grande importância e incerteza e que foi um dos motivos da forte alta do dólar no último ano.

A desvalorização cambial se refletiu no preço dos combustíveis e alimentos que, por sua vez, impactaram a inflação. Isso levou o Banco Central a elevar a taxa Selic para 2,75%, acima do que o mercado esperava, já indicando outro aumento de 0,75 p.p. na próxima reunião do Copom. Com isso, o cenário de curto prazo que se desenha no Brasil é de inflação relativamente alta, subida das taxas de juros e de baixo crescimento.

Foto: divulgação

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