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WILSON F. MENEZES- TEMPOS DE CORONA, TEMPOS DE ECONOMIA

Redação - 17/04/2020 08:16

Um desconhecido jornalista de uma conhecida revista semanal fez o seguinte diagnóstico. O Presidente Bolsonaro se meteu em uma sinuca de bico, porque não sabe jogar sequer o jogo da velha isso porque consegue a proeza de perder para ele mesmo. Que extraordinário! Segundo o incógnito, jornalista, o Presidente não demitirá o Ministro Mandetta até que encontre um substituto à altura do cargo. Além disso, se demiti-lo terá que abrir mão da equipe que o acompanha. Logo, um grande ônus a ser enfrentado em um momento em que a pandemia se encontra em plena ascensão. Assim, o estranho jornalista coloca uma premissa à qual se submete, achando que os fatos virão em seu socorro. Ao considerar que um desastre sanitário acontecerá, isso porque o Presidente deverá exigir de um novo Ministro uma postura inversa à adotada pelo atual. Fica, portanto, subtendido que a postura atual é a correta, daí a dificuldade para um novo nome, pois nomes de respeito somente defenderá as teses do atual Ministro. Dessa forma, o Presidente só poderá substitui-lo por alguém que reze sua cartilha, o que fatalmente levará ao dilúvio, pois já foi dito que a política atual é a correta. Não há escapatória, substituir seis por meia dúzia ou substituir por alguém que defenda outra linha de atuação ou se submeta aos caprichos presidenciais. Uma coisa ou outra, a desmoralização pública está a caminho. Um raciocínio digno de piedade, não fosse as reais implicações subjacentes. Paciência! Afinal a inteligência, distribuída pela natureza seguindo a curva normal, parece passar ao largo de uma cachola pueril no trato da lógica.

Para efeito de ilustração, consideremos dois países um com taxa de mortalidade abaixo e outro acima da média internacional. A Alemanha apresenta uma taxa de mortalidade decorrente do coronavírus relativamente baixa (2,64%), quando a média internacional é de 6,40%. Para conter o avanço da pandemia do vírus, esse país vem aplicando uma série de medidas restritivas desde 23 de março. Recomendação do uso de máscaras nos transportes públicos e nas compras, fechamento das escolas, proibição de reuniões com mais de duas pessoas, obrigação de manter uma distância de pelo menos um metro e meio entre as pessoas, fechamento de lojas consideradas não essenciais (showrooms de carros, lojas de bicicletas e livrarias), precaução de higiene para estabelecimentos com menos de 800 m2 de área. Mas o que mais chama atenção é a interdição da entrada de estrangeiros que anualmente entram no país para trabalhar na colheita de verduras e frutas, sempre realizada no início da primavera, ao tempo em que tenta substituir essa mão de obra temporária por trabalho voluntário. Assim, grande parte da atividade econômica continua sem interrupção.

A Espanha é um dos países mais afetados pela pandemia do coronavírus, com uma taxa de mortalidade de 10,53%. Desde meados de março, esse país mantém um confinamento domiciliar para a maioria das pessoas, além disso foram adotadas inúmeras restrições: limitação de circulação das pessoas pelo país, podendo viajar entre cidades para trabalhar de carro ou avião, são permitidos deslocamentos para compras de alimentos e remédios e gêneros de primeira necessidade, idas ao trabalho apenas quando inevitável. Em discurso, o primeiro ministro pediu de maneira humilde e confiante pediu a união de todas as comunidades e pessoas na luta contra esse vírus tão devastador. A Espanha acaba de iniciar um retorno das atividades de empresas consideradas como não essenciais. Dessa forma, o governo espanhol procura não interromper completamente a economia, sobretudo no que concerne à produção, devendo a mesma se manter ativa ainda que funcionando de maneira parcial.

Não existem estudos conclusivos sobre a eficiência da quarentena horizontal (lockdown) na contenção do coronavírus. Os exemplos da Alemanha e da Espanha contrariam tudo que é prescrito pelo Ministério da Saúde, seguindo as recomendações da OMS. Corroborando o que se passa nesses dois países, Israel, através de estudo, vem mostrando que a propagação do vírus independe do procedimento de restrição adotado. Diante disso, pode-se afirmar que uma temporalidade muito longa do lockdown brasileiro não impede a propagação do vírus, mas atinge em cheio o funcionamento da economia com paralização das atividades econômicas, falências e desemprego. Isso poderá gerar uma verdadeira devastação econômica e social, sobretudo para aqueles que dispõem apenas do rendimento de seus trabalhos cotidianos para suas subsistências, como é o caso dos 45 milhões de informais.

O Ministro Mandetta infringiu a hierarquia prevista no setor público em total desrespeito às normas de civilidade e convivência social e política; já o jornalista sofismou com uma lógica absurda e canhestra. Estará submetido a algum interesse não confessado? Quer um ambiente de terra arrasada? Mas saiba senhor, o Presidente da República terá ao seu dispor quantos nomes desejar para substituir o ainda Ministro da Saúde. Sem que isso leve a uma perda de popularidade, mesmo porque ela se encontra em uma trajetória ascendente. Com os cuidados necessários quanto aos grupos de risco, urge o retorno da atividade econômica, mesmo para aqueles que hoje defendem sua paralização, afinal a população começa a identificar quem são seus algozes e cobrará um preço justo já nas eleições municipais. Enfrentar a pandemia do coronavírus e funcionar a economia não são fenômenos excludentes, mas simultâneos. Meu Deus, meu Deus, quanta cegueira diante de meus olhos!

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