E se, por decisão do Supremo Tribunal Federal ou por ordem judicial em função de progressão para o regime semiaberto, o ex-presidente Lula saísse da cadeia. Como ficaria política brasileira?
A resposta a essa questão traz inevitável carga de imprevisibilidade, mas é possível avançar algumas hipóteses e dizer que isso seria bom para Lula e para o presidente Jair Bolsonaro. Para o ex-presidente a libertação significaria a volta ao palco, o reagrupamento da oposição, hoje meio perdida, e a volta das caravanas pelo país, movimento já anunciado por Lula e que daria início a uma provável candidatura presidencial em 2022.
Para Jair Bolsonaro a volta de Lula significaria o retorno do grande inimigo, a possibilidade de reagrupamento das forças de direita e de centro e a antecipação da disputa eleitoral. O presidente que, na falta de adversários, briga com todo mundo, inclusive com o próprio partido, teria oportunidade de concentrar sua energia no combate ao ex-presidente e com isso conseguiria a ansiada polarização entre esquerda e direita com a qual pretende se reeleger em 2022. Essa polarização tiraria o foco na incpacidade de Bolsonaro de governar sem atritos e da sua indefctível capacidade de criar crises.
Ou seja, tanto Lula quanto o Bolsonaro se posicionariam melhor no tabuleiro político na hipótese do ex-presidente sair da prisão. Mas ninguém sabe como esse cenário afetaria a governabilidade, como se reagruparia o Congresso Nacional e que efeito teria o novo quadro político na correlação de forças necessária para aprovação das reformas indispensáveis ao Brasil.
E queirámos ou não Lula e Bolsonaro são as duas maiores lideranças políticas do país e a pesquisa Veja/FSB divulgada esta semana mostra isso. O levantamento, realizado entre 11 e 14 de outubro, faz projeções do que seria hoje um confronto de segundo turno entre Jair Bolsonaro e as figuras mais conhecidas da esquerda. Lula perde por 46% a 38% mas é o melhor nome para enfrentar Bolsonaro, melhor que Fernando Haddad, que seria batido por 47% a 34% e do que Ciro Gomes que não chegaria ao segundo turno. Tirando Lula, o único candidato capaz de enfrentar Bolsonaro seria o Ministro da Justiça, Sérgio Moro.
É verdade que o Congresso Nacional não pode ficar a mercê dos movimento desses dois líderes políticos, que, por si só, já representam a polarização em que está envolvido o país, mas, infelizmente, é isso o que pode acontecer, especialmente se a política brasileira não for capaz de gerar novos líderes. (EP – 21/09/2019)