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JOSÉ MACIEL: A PROPÓSITO DA  FAFEN  NA BAHIA

Redação - 12/02/2019 11:09 - Atualizado 12/02/2019
No Brasil, tem sido habitual a postura de governos estaduais de envidarem esforços no sentido de atrair  grandes empresas e empreendimentos estratégicos com potencial de geração de impactos e efeitos multiplicadores significativos por toda a economia dos respectivos Estados. E isso tem sido feito, em boa medida, pela falta de uma política  de desenvolvimento regional digna desse nome por parte dos governos centrais. Todos sabem da luta que alguns governos e políticos baianos travaram para trazer importantes investimentos para o nosso Estado, como  a vinda do Polo Petroquímico de Camaçari e o complexo automotivo da FORD. Por outro lado, parece-nos importante também que os governos estaduais  e municipais se envolvam na luta e defesa da permanência de alguns desses investimentos , quando ameaçados de desativação, fechamento ou eventual relocalização em outro local.
Recentemente, os analistas têm se preocupado com o fechamento de alguns ícones da hotelaria baiana em Salvador, a exemplo dos casos dos Hotéis  Pestana e Othon ( o Salvador Praia  Hotel já tinha encerrado suas operações antes dos dois citados). Agora, estamos assistindo  com preocupação a chamada hibernação da FAFEN-Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, localizada em Camaçari, da fábrica em Sergipe.
Com início de operação no começo da década de 70, a FAFEN produz amônia, ureia fertilizante, ureia pecuária, ureia industrial, ácido nítrico, hidrogênio, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo, vale dizer, insumos  para outras empresas do COPEC e para o setor agropecuário. O seu processo de “hibernação” pode e deve acarretar problemas de suprimentos para várias dessas empresas e para a agropecuária, com aumentos de necessidades de importação, de outros Estados e países, transporte de produtos e insumos perigosos para as populações, e oscilações e incertezas nas planilhas de custos desses  setores  decorrentes da volatilidade cambial.
No caso da agropecuária, o consumo  de fertilizantes, altamente dependente de importações dos adubos NPK (mais de 70% do abastecimento nacional  se dá com produção importada, internalizada no Brasil principalmente nos portos de Paranaguá, Rio Grande e Santos), tem crescido em linha com a expansão da área plantada, ou seja, alguma coisa como 6% ao ano no período recente. E essa expansão tem se  localizada fundamentalmente no Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Tocantins e outros Estados do chamado MATOPIBA, a grande fronteira  de crescimento da agricultura brasileira.  Ou seja, são solos de cerrados, muito pobres , cuja fertilidade precisa ser “construída”  com fertilizantes e corretivos , como os adubos NPK e o calcário.  Então, teremos que ter produção crescendo internamente para evitar aumentos de importações  e dolarização  crescente de parte dos custos agrícolas, com as incertezas já apontadas acima.
No caso da demanda da pecuária, o cenário previsto é de aumentos das exportações de carnes, por conta  da maior demanda e conquista de novos mercados, como Ásia, Oriente Médio,  aí  incluídos vários países árabes . Isso se o país  deixar de lado essa ideia de mudar a embaixada em Israel para Jerusalém . Por outro lado, o Brasil,  proativamente,  estabeleceu como uma grande meta a obtenção do status internacional de  país “livre de febre aftosa sem vacinação”  no  período 2019-2023, o que deve possibilitar a abertura de novos mercados de nações que só importam carne oriunda de  rebanhos livre de aftosa sem vacinação. A pecuária brasileira  está progressivamente saindo de terras degradadas , aumentando sua produtividade em áreas menores e a proporção de criação de gado em regime de confinamento. Tudo isso parece apontar para o aumento da demanda de ureia para suplementação do rebanho nos próximos anos.
Dito isso, a ideia  é que os governos baiano e sergipano, com os municípios de Camaçari e Laranjeiras, sedes das duas FAFEN, aumentem as pressões e gestões junto à Petrobras e ao governo Federal  para obter uma solução visando a continuidade das operações  da FAFEN-BA E FAFEN-SE. Uma  alternativa ao arrendamento proposto pela  Petrobras , poderia ser a privatização. Nesse sentido  , os  atores citados acima   poderiam deflagrar conversações com empresas líderes do mercado de fertilizantes,  potencialmente interessadas, como a norueguesa Yara Brasil, a Mosaic, a Fertipar e outras.   A  Heringer dificilmente se interessaria pela privatização, pois acaba de de pedir a    a recuperação judicial. Esse é um possível caminho, dentre outros.    O importante é manter as empresas em operação e os empregos na Bahia e em Sergipe.
José Maciel
Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: [email protected]

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