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JULIANA PIMENTEL- CAMINHONEIROS: DOS BASTIDORES AO PROTAGONISMO

Redação - 05/06/2018 09:30 - Atualizado 05/06/2018

 

Por mais que se chegue à conclusão de que o movimento grevista foi misto, com intervenção patronal e da categoria, o que não se pode negar após a greve dos caminhoneiros é que a população passou a enxergar a classe com outros olhos. Mais que evidenciar a fragilidade do sistema de transportes brasileiro, mais que trazer a tona discussões sobre liberalismo e mais que consagrar a capacidade absurda que os meios de comunicação móvel têm de organizar movimentos atualmente, tornou-se palpável a percepção de que quem faz o país são, de fato, os trabalhadores.

Uma semana antes da paralisação, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca Lopes, havia protocolado uma lista de reinvindicações no Palácio do Planalto. No entanto, apesar do tom de ameaça, o governo nada fez e, mesmo após o início da greve, subestimou o seu alcance. A questão é que nem o governo e, talvez, nem mesmo os próprios caminhoneiros, tinham, realmente, consciência do tamanho da interferência dos “elefantes metálicos” na construção diária do país.

Mesmo sendo considerado locaute (ou não), a população passou a olhar de forma mais atenta e sensível para uma profissão que, por muitas vezes, foi ignorada. Da mesma forma, foi posto em foco a maneira com que o país trata as pessoas que o fazem funcionar. Apesar de trabalharem no que seria “os bastidores”, os caminhoneiros deixaram claro nesses dias de greve, que o papel deles é fundamental e que, com a matriz do sistema de transportes enviesada no modal rodoviário desde a década de 50, vai ser difícil arranjar dublê que consiga substituí-los.

Ainda entre as tristes conclusões que alcançamos no período pós-greve, a principal delas é a de que o oportunismo sempre irá se mostrar em todas as suas nuances nos momentos de fragilidade. Seja “velado” no discurso de políticos como Jair Bolsonaro, seja através dos “intervencionistas”, que bradavam em CAPS LOCK nas redes sociais pela volta dos militares ao poder, ou, seja pelos comerciantes, que se aproveitaram do desabastecimento para cobrar preços exorbitantes por itens fundamentais, uma coisa é certa: sempre vai ter alguém para se aproveitar da crise.

A mente brilhante de José Saramago já havia evidenciado, em sua obra “Ensaio Sobre a Cegueira”, a perda de civilidade nos momentos de crise. No entanto, as brigas nas filas dos postos de gasolina e o desespero nas prateleiras dos supermercados ainda nos causa espanto pela falta de humanidade e nos direciona a conclusão de que Thomas Hobbes não estava tão equivocado assim, já que, em diversas circunstâncias, “o homem é o lobo do homem”.

Contudo, prefiro não cair na amargura hobbesiana, mas tentar olhar de maneira otimista para as heranças dessa greve, já que, adquirir na prática a percepção de que, efetivamente, são os trabalhadores que sustentam a sociedade nas costas, talvez dê mais força e coragem para a população se fazer ouvir em ano de eleição.

 

JULIANA PIMENTAL

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