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ENTREVISTA: MOISÉS CONDE SILVA DE OLIVEIRA COORDENADOR DO NÚCLEO DE CONJUNTURA ECONÔMICA E MERCADO FINANCEIRO (NUCEMF) DA UNIFACS

Redação - 11/05/2020 07:00 - Atualizado 11/05/2020

Bahia Econômica – Como o senhor avalia as perdas na receita do comércio e do varejo devido ao período de portas fechadas no combate a covid-19?

Moisés Conde Silva de Oliveira – Se compararmos com o ano passado as perdas estimadas do comércio pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), devido a pandemia são de cerca de 53 bilhões de reais. Isso representa o pior desempenho do setor dos últimos vinte anos. Se admitirmos que alguns estados já estudam medidas mais restritivas ou até mesmo o Lockdown, que é o fechamento total de todos os estabelecimentos além da restrição de trânsito de pessoas, essas perdas podem aumentar ainda mais, agravando a situação de todos os setores.

BE- estudos mostram que na Bahia já houve perdas de 40% e em Salvador 52%. Se o período da quarentena continuar pode haver perdas maiores?

MO – Com certeza. As perspectivas com relação a diminuição dos casos de Coronavirus, o que permitiria a diminuição das restrições, ainda deve levar ao menos um mês e meio. Apenas no meado de junho que poderemos começar a discutir medidas menos restritivas. Antes disso a diminuição do percentual de isolamento social pode inclusive fazer com que o governo estadual endureça as regras o que pioraria muito esse cenário.  A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA) estima que as perdas diárias girariam em torno de 108 milhões de reais caso todos os estabelecimentos não essenciais tenham que de fato fechar as portas.

BE- Quais os segmentos do comércio que serão mais afetados?

MO – Dentro os diversos setores o mais afetados são a Construção civil, alimentação fora do lar, moda e varejo tradicional. Setores como os de serviços educacionais, logística, transporte e tecnologia também tiveram um impacto significativo. A grande preocupação é que todos esses setores são responsáveis por um número expressivo de empregos. O fechamento ou a redução no número de estabelecimentos durante ou ate mesmo no pós-crise deve agravar ainda mais o quadro de desemprego no país, que já não era bom anteriormente.

BE- Como você avalia as medidas do governo do estado para com os micro empresários nessa quarentena?

MO – Infelizmente as medidas adotas ainda são bastante tímidas e não devem evitar que um número alarmante de micro e pequenas empresas venham a fechar as portas. É necessário não somente ampliar o montando de recursos destinados para garantir o funcionamento desses negócios, mas garantir que esses recursos cheguem de fato a quem precisa e não fiquem parados no sistemas bancário ou sejam destinados a empresas de grande porte, que nesse momento, embora também em dificuldades, tem maior fôlego financeiro para passar por momentos como esse.

BE- Quais medidas o senhor acredita que seriam cruciais p ara esse momento de portas fechadas?

MO – Nesse momento, embora os governos estaduais tenham um papel importante na condução das medidas contra a Pandemia, o governo Federal deve assumir o protagonismo na solução dos problemas. Não só por ele dispor de mais recursos financeiros como também porque várias medidas que devem ser tomadas necessitam de sua aprovação. Uma boa medida, a meu ver, seria utilizar dos bancos públicos e os bancos de desenvolvimento para disponibilizar linhas de financiamento barata de capital de giro para pequenas e medias empresas. O pacote anunciado pelo governo Federal já prevê a ajuda no pagamento de parte da folha de pagamentos, mas precisamos lembrar que pequenos negócios têm outros custos importantes principalmente com aluguéis e outros custos fixos, além da própria subsistência do empresário, que em sua maioria, não dispõe de uma reserva financeira para passar por momentos como esse.

BE- O senhor acredita que no final das contas vai haver um grande número de demissões?

MO – Sem dúvida nenhuma. Estimativas feitas ainda no início da crise, já previam que o desemprego causado pela pandemia poderia duplicar o número de desempregados no Brasil. Sairíamos de uma taxa de 11,6% para 23,8% de desempregados. Isso equivale a 12,6 milhões a mais de pessoas sem emprego.

BE- Qual a sua expectativa para plena recuperação do comércio depois da quarentena. Quanto tempo ele vai levar em média para se recuperar?

MO – Isso vai depender das medidas adotas agora para conter os efeitos da pandemia. Se conseguirmos implantar de forma eficiente as medidas de distanciamento social, equipar e aumentar o número de leitos nos hospitais, principalmente do Sistema Único de Saúde, além de adotar medidas eficientes na área econômica podemos esperar um recuperação de cerca de 20% a 24% a partir do inicio de 2021.

Foto: divulgação

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