terça, 22 de julho de 2025
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AS TARIFAS DE TRUMP AO BRASIL EXIGEM A REFORMULAÇÃO DAS PROPOSTAS POLÍTICAS DA ESQUERDA E DA DIREITA

Redação - 21/07/2025 08:58 - Atualizado 21/07/2025

A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump marca mais do que uma crise comercial: trata-se de um divisor de águas na política brasileira. A medida, agressiva e inesperada, expôs as fragilidades de um discurso político polarizado, marcado por alinhamentos automáticos, tanto à esquerda quanto à direita, e exige uma profunda reformulação das propostas e narrativas de ambos os campos ideológicos.

A direita brasileira ainda está muito atrelada ao bolsonarismo, que apostou pesado na identificação ideológica com o trumpismo. E, o mais grave, ficou identificada como a responsável pelas tarifas impostas por Trump. Mas a direita brasileira não tem essa identificação automática, especialmente quando as medidas de Trump atingem setores-chave da economia brasileira — como o agronegócio, o aço e a indústria química — e minam a confiança até mesmo de eleitores fiéis. A direita brasileira precisa abandonar os interesses da família Bolsonaro, quando eles se distanciarem do interesse nacional.

As tarifas de Trump explicitaram o “custo Bolsonaro” e a direita brasileira será forçada a recalibrar o discurso. É hora de a direita liberal se dissociar do bolsonarismo e ressuscitar uma agenda pragmática, mais próxima de interesses empresariais e menos dependente de afinidades ideológicas com líderes estrangeiros.

A esquerda, por sua vez, também sofre com a crise. Ao se posicionar fortemente a favor da soberania nacional, recuperou uma parcela da sua popularidade, mas não pode estar fundada num acontecimento conjuntural. A resposta à crise tem sido reativa, calcada em palavras de ordem e nostalgia desenvolvimentista, mas ainda sem articulação clara entre política externa, política industrial e reestruturação do papel do Estado. A esquerda há muito tempo carece de uma proposta econômica coerente e atualizada que combine desenvolvimento com proteção à indústria nacional e que aceite a austeridade fiscal mais ampla.

Não basta a esquerda denunciar o imperialismo ou clamar por autossuficiência: é necessário propor um modelo de desenvolvimento compatível com os desafios do século XXI.

As tarifas impostas por Trump ao Brasil escancararam a vulnerabilidade de uma política externa baseada em afinidades ideológicas e exigem das forças políticas brasileiras um novo patamar de responsabilidade. Tanto a esquerda quanto a direita estão diante de um teste de maturidade: ou reformulam suas propostas, voltando-se à realidade econômica e diplomática do país, ou seguirão à deriva, incapazes de proteger os interesses do Brasil num mundo cada vez mais competitivo e imprevisível. (EP-21/06/2025)

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