Há duas hipóteses sobre a atuação de Pablo Marçal na campanha para a prefeitura de São Paulo. A primeira é que ele está fazendo jus à sua história e, sem limites e sem escrúpulos, ataca Bolsonaro e seu candidato mostrando que trabalha não pela cidade, ou pelos valores que acredita, mas por ele próprio.
Pablo Marçal não existiria sem Jair Bolsonaro e seu ataque ao candidato do líder da direita no Brasil é um ataque frontal à sua liderança e aos pilares do bolsonarismo e poderá ter efeito nas eleições de 2026. Se Marçal estiver realmente desafiando Bolsonaro, haverá mudanças no cenário eleitoral de 2026, não só porque Marçal está atacando o poder da família Bolsonaro sobre o seu eleitorado, mas também o governador Tarcísio de Freitas, líder da oposição antipetista e potencial candidato já que o ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível.
A Revista Veja disse em reportagem que Tarcísio seria um bolsonarismo que come com talheres e Marçal o bolsonarismo radicalizado, que não apenas come com as mãos, como ainda derruba a mesa. É isso mesmo, se a o ex-coach de autoajuda for vitorioso em sua campanha, a constatação é que o eleitorado quer o bolsonarismo radicalizado. Só que, tratando-se de um oportunista como Pablo Marçal, a leitura que ele levará ao eleitorado será outra, a de que não se precisa mais de Bolsonaro, que o líder mais radical e sem escrúpulos é ele. Aliás, Marçal não esconde de ninguém, que seu objetivo não é a Prefeitura de São Paulo, mas a Presidência da República.
Mas há uma segunda hipótese, que começa a ser aventada no breu das tocas. Ela diz que todo esse processo é uma armação do bolsonarismo, comandada pelo clã Bolsonaro, partindo da ideia de que Nunes é um bolsonarista de araque que tem vergonha de Bolsonaro e sua trupe e que o bom para o grupo seria ter Marçal, um bolsonarista raiz, no segundo turno. Ora, mas o bolsonarismo não pode entrar de cabeça na campanha de Marçal por um motivo simples: ele não tem chance na disputa, pois não tem sequer tempo no horário eleitoral na televisão e nem condições de enfrentar a máquina da prefeitura. Por isso, o candidato de Bolsonaro é Nunes, mas se Marçal for para o 2º turno, nada mal. Tudo é lucro.
A estratégia do clã Bolsonaro se daria no sentido de testar a capacidade das redes sociais de levar um candidato ao segundo turno, sem o apoio televisivo. Se daria também no sentido de testar o eleitorado, para verificar se sua opção será pelo bolsonarismo radical, representado por Marçal, ou pelo bolsonarismo light, representado por Nunes. E também de testar Marçal como potencial candidato do grupo caso Bolsonaro permaneça inelegível.
Note-se que Marçal está agindo do mesmo modo que Javier Miley, mostrando-se tão louco e sem limite quanto ele e, note-se também, que a reação da família Bolsonaro aos ataques do ex-coach tem sido leve, dado o histórico de ataques agressivos aqueles que abandonam o bolsonarismo. Carlucho, o professor pardal do bolsonarismo, disse inclusive que votará em Marçal, apesar dos ataques.
Um Marçal fortalecido beneficia Bolsonaro, afinal mostra a Nunes a necessidade e a dependência que ele tem do ex-presidente, enfraquece a liderança política de Tarcísio de Freitas e, se Marçal ganhar, surge automaticamente outro candidato competitivo para 2026. Pode ser uma mera teoria da conspiração, mas que tem sentido, tem. (EP-26/08/2024)