Quem visitou a fábrica da BYD nesta terça-feira, na inauguração de parte do complexo automobilístico, pode concluir sem medo: a BYD aposta no futuro e vai contribuir para o crescimento econômico da Bahia.
Foi inaugurado o primeiro galpão, em uma área de 154 mil m2, quase o mesmo tamanho da antiga fábrica da Ford, e até agora foram desembolsados R$ 1,4 bilhão na fábrica baiana, que é a segunda maior da BYD no mundo, ocupando uma área de cerca de 4 milhões de m2, com 26 galpões, pista de testes, centro de desenvolvimento tecnológico e com capacidade inicial de produção de 150 mil veículos/ano, com perspectivas de chegar a 300 mil veículos/ano.
Sim, a fábrica vai entrar em operação utilizando o sistema SKD – Semi Knock-Down, com a importação de veículos desmontados para serem montados aqui, sistema que logo será substituído pelo sistema CKD – Completely Knock-Down, no qual o carro vem desmontado em kits de peças e partes menores. Mas é normal que seja assim no início, pois as montadoras globalizadas geralmente começam com SKD, depois passam para CKD e vão gradualmente nacionalizando o fornecimento de itens como pneus, bancos e outros.
Aliás, basta ver no primeiro galpão as máquinas da moderna linha de montagem em implantação, e saber que o projeto prevê outros galpões para estamparia, solda, pintura e controle de qualidade, além de uma área para sistemistas, para ter certeza de que haverá produção aqui. E tem de haver, afinal a empresa pretende exportar seus carros para o Mercosul, onde os países exigem percentual de conteúdo nacional. E, além disso, está previsto em lei que a BYD terá 12 meses para deixar de produzir os veículos com os kits SKD e iniciar o processo de nacionalização.
Claro, a BYD tem DNA chinês, mas já é possível ver que a fábrica dinamiza o setor de serviços e o comércio e já mobiliza mão de obra na Bahia. E haverá espaço para a implantação de um polo de fornecedores brasileiros e mais de uma centena deles estão sendo consultados, sendo que a Continental Pneus, em Camaçari, já foi homologada como primeiro fornecedor brasileiro. Além disso, frente à ação do Ministério Público do Trabalho contra empreiteiras chinesas, a empresa anunciou que vai contratar uma construtora brasileira para terminar as obras da fábrica.
A fábrica da BYD abre uma porta para o futuro e estabelece uma nova dinâmica para o Polo Industrial de Camaçari, pois não é apenas uma montadora de automóveis, mas uma green tech, que além de fabricar os veículos, está envolvida no processo de descarbonização, criando soluções de carregamento super-rápido de veículos elétricos e montando na Bahia um centro de pesquisa e desenvolvimento que pretende desenvolver um motor flex, que vai equipar o híbrido Song Plus, que será fabricado aqui. E existe a possibilidade concreta da implantação, no futuro, de uma fábrica de baterias.
A produção de carros elétricos vai ampliar a matriz produtiva baiana, que está se especializando na energia limpa e na qual já somos líderes em energia eólica e solar, e teremos em breve a grande refinaria de biocombustíveis da Acelen. Ou seja, a Bahia tem todas as potencialidades para ampliar um setor de produção baseada na cadeia energética/industrial limpa, com especialização em eletromobilidade.
A verdade é que a inauguração da BYD abre perspectivas para a economia baiana, não apenas no setor industrial, mas também no setor de serviços e na logística, que aparece como o grande desafio para uma maior incorporação dos efeitos a montante e a jusante da fábrica chinesa. Em resumo, a BYD abre as portas da Bahia para o futuro, pois amplia sua crescente especialização na transição energética rumo à descarbonização.
DESAFIO PARA A BYD
No mesmo dia em que inaugurou sua fábrica, a BYD viu subir as alíquotas do Imposto de Importação de 18% para 25% para carros totalmente elétricos e de 20% para 28% no caso dos híbridos plug-in. A elevação dos tributos atinge veículos semi desmontados e vai afetar a competitividade de novas importações.
Por isso, a BYD importou maciçamente seus automóveis e pleiteia junto ao governo federal a redução para 10% do imposto para os semi desmontados, por 12 meses, tempo em que a produção deve ser local. O pleito é justificável, mas difícil de ser atendido, já que a pressão das demais montadoras é grande. O que a BYD precisa mesmo é agilizar a produção com maior conteúdo local.
Publicado no jornal A Tarde em 03/07/2025