“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”
Antoine de Saint-Exupéry, escritor francês (1900-1944)
Quando, em fevereiro de 2012, visitei Casapueblo, em Punta Ballenas, a 13 km do Centro de Punta del Este, tive a sorte de alguns minutos de prosa com o genial artista plástico Carlos Páez Vilaró, que morreria exatamente dois anos depois (24/02/2014).
Na ocasião, caminhando pelo ambiente, identifiquei, dentre as inúmeras obras de arte que embelezavam as paredes alvas daquela construção que muito se assemelha às casas das ilhas gregas, duas telas de autoria do Mestre Calá (Calasans Neto) e isso foi o mote para puxar conversa com Vilaró, que lá estava cumprimentando os turistas e visitantes do seu templo.
Em meia hora de bate-papo, fui contagiado por sua simpatia, falamos de literatura e arte, da Bahia e dos seus amigos “baianos”, como Jorge Amado, Zélia Gattai, Carybé e o próprio Calasans.
Sai com uma bela gravura com direito a uma dedicatória para toda a minha família e um exemplar de “Entre meu filho e eu, a lua“, livro em que o renomado artista relata a saga de sua luta durante três meses para resgatar seu filho, Carlitos Miguel, e outros 15 sobreviventes do terrível acidente aéreo na Cordilheira dos Andes (12/10/1972), epísódio que, inclusive, inspirou o filme “A sociedade da neve“, dirigido por Juan Antonio Bayona.
Recentemente, voltei ao Uruguai e novamente visitei Casapueblo, hoje transformada em um complexo turístico que contempla hotel, museu, galeria de arte e restaurante.
Temia a frustração diante da impossibilidade de um novo diálogo, mas eis que pude reviver muito daquele encontro de 2012, contemplando o que se convencionou chamar “Ceremonia del Sol“, um evento emocionante, em que, diariamente, turistas e admiradores das artes reúnem-se para, no exato momento do por do sol, em silêncio absoluto, ouvir a gravação com a voz de Vilaró declamando o belíssimo poema de sua autoria.
Ao leitor interessado recomendo resgatar a íntegra do poema (https://casapueblo.com.uy/ceremonia-al-sol/ ), verdadeira oração de louvor e agradecimento ao Astro Rei.
“Chau Sol…! Gracias por provocarnos una lágrima, al pensar que iluminaste también la vida de nuestros abuelos, de nuestros padres y la de todos los seres queridos que ya no están junto a nosotros, pero que te siguen disfrutando desde otra altura.
Adiós Sol…! Mañana te espero otra vez.
Casapueblo es tu casa, por eso todos la llaman la Casa del Sol “
Trecho final do poema Ceremonia del Sol, Carlos Páez Vilaró (1923-2014)
Sérgio Faria, engenheiro e escritor, presidente da ALAS – Academia de Letras e Artes do Salvador