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O TRIÂNGULO DA TRISTEZA E OS FILMES PREMIADOS NO OSCAR – ARMANDO AVENA

Redação - 24/03/2023 10:46

Artigo do escritor e jornalista Armando Avena publicado no jornal A Tarde em 24/03/2023

O mais interessante entre os filmes que concorreram ao Oscar não ganhou um prêmio sequer. Refiro-me ao “ O Triângulo da Tristeza”, do diretor Ruben Östlund, uma história mal ajambrada sobre ricos e pobres, capitalismo e socialismo, relações de poder e por aí vai. Com temas como esse, não é de estranhar que não tenha ganhado o Oscar.

O título é poético e faz  referência a figura que se forma entre as sobrancelhas e o nariz e que o dicionário me informa ter o nome de glabela. É a região do rosto humano que se franze quando estamos estressados ou preocupados e, por isso, é onde mais cedo ou mais tarde aparecem rugas de expressão, mas nada tem a ver com o filme, a não ser por um diálogo sem muita importância.  Ruben Östlund, que é sueco e já ganhou um Oscar com o filme “A Arte da Discórdia ”,  adora abordar as reações humanas em circunstâncias, digamos, excepcionais. O filme é, antes de tudo, uma crítica, às vezes bem-humorada outras nem tanto, aos super ricos e à sua arrogância, mesmo quando querem ser humildes.

Mas é também, ou principalmente, uma tentativa de analisar como as circunstâncias podem determinar e modificar as relações de poder. Apesar de sério, o filme é ao mesmo tempo engraçado e escatológico com direito a cenas de vômitos e evacuações e uma discussão meio forçada entre um americano comunista e bêbado e um russo, rico, capitalista e bêbado, com direito a citações ipsis literis  de Karl Marx. Qualquer outra informação se transformaria em spoiler, mas o leitor já percebeu que, definitivamente, o Oscar não daria qualquer prêmio a essa película. Assisti também ao filme “Nada de Novo no Front”,  do diretor Edward Berger, baseado no romance de Erich Maria Remarque.

O filme  é belo, tocante e pacifista, mas faz jus ao título, nele não há nada de novo. As histórias de jovens que vão para guerra, movidos por ilusões de glória e patriotismo e até pelo ideal de defender seu país e seu povo –  e quando chegam ao front percebem que compraram ingresso para o inferno – já renderam muitos filmes e muitos livros.  Um deles, cheio de sarcasmo e ironia, é “Viagem ao Fim da Noite” de Céline que já comentei aqui.

A essa altura já estou cansado dos filmes oscarizáveis, mas ainda me dispus a assistir mais um deles, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan, justamente o grande vencedor que arrebatou sete óscares. O filme parte do pressuposto de que existem universos paralelos e que cada um de nós pode ter vidas paralelas. Por conta de um dispositivo, ou sei lá o quê, os personagens  têm suas diversas vidas interligadas, misturando os universos, e assim o que acontece em um mundo paralelo passa a intervir no outro. Uau! Se por vezes eu não consigo aguentar a mim mesmo nesse universo, imagine se tivesse de conviver comigo em outros tantos. Se o leitor se esforçar, vai dar para terminar a sessão, mas não sei se terá valido a pena. E não importa o tamanho da alma, em se tratando de Oscar, nem tudo vale a pena.

 

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