As exportações totais brasileiras têm alcançado um patamar ao redor de 250 bilhões de dólares anuais ou pouco mais. Em 2019, houve um recuo de cerca de 12 bilhões de dólares, por conta do aprofundamento da crise econômica da Argentina, com repercussões nas nossas vendas de manufaturados, especialmente do setor automotivo, e da crise da febre suína chinesa , que diminuiu a demanda dos chineses por soja. Tal redução não foi compensada pelo aumento das exportações de proteína animal para o nosso principal mercado.
Desse total, o agronegócio brasileiro tem contribuído com cerca de 40%, ou 100 bilhões de dólares anuais, e um saldo comercial anual , em média, superior a 90 bilhões de dólares.
Em termos de pauta exportadora, a liderança cabe ao complexo soja, com uma média de 35% do valor exportado, seguido do complexo carnes, com média de 17%, produtos florestais (13,5%), cereais e farináceos (8,2%) e complexo sucroalcooleiro (6,5%), perfazendo este universo uma participação aproximada de 80% das exportações setoriais (dados de 2018). Cabe ressaltar ainda que outros segmentos têm se destacado, a exemplo das vendas externas de milho, café, frutas e suco de laranja.
No que diz respeito aos mercados, a China lidera com folga o destino das nossas exportações , com cerca de 34% a 35% das nossas vendas, e essa participação tem crescido nos últimos quatro anos, passando de 28% para para o patamar acima citado no período 2015-2019, sendo ainda de se esperar a continuidade dessa tendência, em face do acelerado processo de urbanização, das taxas de crescimento do país e das restrições de terras aráveis e de água para irrigação. União Europeia e Estados Unidos vêm a seguir , com 18% e 7%, respectivamente, das nossas vendas para o exterior, e, na sequência, aparecem o Japão e o Irã, com 3,3% e 2,4%. O grupo “outros países ou blocos “, tem participado com pouco mais de 20% (dados de 2018).
No caso da China, o complexo soja pontifica na liderança , com quase 80% das exportações brasileiras, cabendo menção especial também para a carne bovina , que tem endereçado para o mercado chinês quase 30% de suas vendas externas, percentual esse somente superado pelas vendas para Hong Kong. Fato semelhante tem ocorrido também com o algodão, produto de interesse especial da economia baiana ( somos o segundo produtor nacional, só atrás do Mato Grosso), importado sobretudo pela China , Indonésia e Vietnã. Esse desempenho do mercado chinês parece explicar a recente mudança de postura do presidente Bolsonaro, que dispensou especial tratamento ao Presidente Xi Jinping, em sua vinda ao Brasil para o último encontro do BRICS, postura essa bem diferente daquela mais “hostil” que prevaleceu na campanha presidencial.
Além da China e outros países asiáticos, um outro grupo de nações que tem de estar no nosso ” radar exportador” é aquele formado pelos países árabes/Oriente Médio, para quem as nossas vendas externas vêm crescendo de modo expressivo. Atualmente, mais de 9% de nossas exportações agropecuárias tem esse universo como destino, percentual esse superior ao que o Brasil exporta para os EUA. Países como Arábia Saudita, Emirados árabes Unidos e Irã , por exemplo, têm em de ser olhados com muito carinho pela nossa política externa e comercial. No caso do Irã, detentor de mais de 2% de nossas vendas externas setoriais, e de algo como 1/4 de tudo que o Brasil exporta para o Oriente médio , o governo brasileiro não deve assumir alinhamento explícito e enfático com o Governo Trump, por conta da escalada de tensões recentes entre EUA e Irã, que culminou com o ataque americano e a morte do General Iraniano Soleimani. Pragmatismo é palavra chave de qualquer política externa e comercial , que deve ser incorporada pelo novo governo brasileiro.
(1) Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: [email protected]