quinta, 09 de maio de 2024
Euro 5.5385 Dólar 5.1618

EM DEFESA DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA BAHIA – ADARY OLIVEIRA

Redação - 21/11/2022 09:17 - Atualizado 21/11/2022

De todas as iniciativas que contribuíram para a industrialização da Bahia a instalação do Polo Petroquímico de Camaçari representou, sem dúvida, o maior desafio de todos, resultando na construção do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul. Nas palavras de Rômulo Almeida “a sua ideia correspondia a uma estratégia regional de desconcentração concentrada, por um lado; por outro, a utilização da maior oportunidade de indústria básica no Nordeste, efetivamente no setor químico”. No artigo que aqui publiquei recentemente sob o título “O declínio de Camaçari” comentei a palestra que Ary Silveira preferiu no Comitê de Petróleo e Gás do Instituto Politécnico da Bahia, chamando atenção para a necessidade de se tomar providências para soerguer o Polo. Ary alerta para a perda de competitividade motivada por alguns fatores a exemplo de escala, tecnologia, logística e comercialização, mostrando que outros complexos no mundo conseguiram manter a competitividade através da modernização contínua, com desmontagem de unidades obsoletas e montagem de novas unidades competitivas em termos tecnológicos e de escala.

O Polo pertence à toda a comunidade e não só às empresas que operam as unidades industriais ali instaladas. Os tributos arrecadados, os empregos mantidos, a riqueza gerada e sua integração com toda a economia é importante para todos, e a continuidade de sua operação depende de todos, principalmente do governo e da iniciativa privada. Algumas fábricas continuam operando por terem conseguido modernizarem-se com muito esforço. Uma delas, que operava no seu início de funcionamento, há 40 anos, com cerca de mil empregados, é operada hoje por apenas 50 colaboradores, produzindo o dobro de antes. Reduziu o número de empregados para sobreviver, mas melhor do que ser sucateada como tantas outras.

A atração de novos empreendimentos é imperativa se desejamos continuar crescendo e depende em muito da política adotada pelo governo. A Bahia nesse particular não tem apresentado um bom desempenho quando perde posição para outros estados na geração do PIB, reflexo de baixo nível de investimentos e do fechamento de empresas. O estado não deve apenas oferecer boas condições para atrair novos investimentos, mas realizar ações propositivas como ajudar nas ampliações, assistir na luta pela sobrevivência, socorrer nos riscos de fechamento e melhorar as condições operacionais das que estão funcionando. Vale dizer que é importante também não criar condições que dificulte a vida das existentes e desestimule a vinda de novas, como nas práticas de estabelecer taxas de condomínios, descontinuidade do atrativo de compra de terras por valor subsidiado ou intensificação de ações fiscalistas claramente onerosas e destituídas de amparo legal.

A introdução de forças conjuntas dentro do Consórcio Nordeste, por exemplo, para ampliação da indústria de transformação petroquímica, incrementando o consumo regional dos produtos intermediários, é uma ideia que merece esforço redobrado. Os produtos manufaturados pelo Polo são aplicados na fabricação de artigos de plástico, artefatos de borracha, materiais para vestuário, produtos têxteis e agrícolas, numa enorme cadeia de produção puxada no consumo de medicamentos, itens de higiene pessoal e limpeza, cosméticos e perfumaria, e em materiais de construção e alimentos, dando uma ideia clara da influência que exerce a indústria química na vida quotidiana das pessoas. Não se trata, portanto, de se querer vender areia no deserto ou gelo no Ártico, mas de um negócio germinativo, que pode gerar outros negócios, mais fácil de ser implementado.

Não obstante o polo Petroquímico de Camaçari já seja dotado de adequada infraestrutura industrial com oferta de matérias-primas e insumos industriais, com suprimento de água bruta e tratada, vapor de alta e baixa pressão, energia elétrica de qualidade com várias voltagens, gases industriais, tratamento de efluentes, monitoramento do ar e da água do subsolo, sistema de segurança e de a região contar com mão-de-obra especializada, perde em atratividade quando comparado com outras regiões do País, principalmente Sul  e Sudeste, no tocante à proximidade do mercado consumidor e funcionalidade básica das instituições. Carece, portanto, de forte apoio governamental capaz de contrabalançar tais diferenças e se mostrar mais atraente do ponto de vista negocial.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.