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ARMANDO AVENA: DE  OLAVOS E BOLSONAROS

Redação - 10/05/2019 08:55 - Atualizado 10/05/2019

As vezes o Brasil dá razão a Charles De Gaulle e não parece ser um país sério, se é que o general e ex-presidente da França disse isso alguma vez. Não parece razoável, por exemplo, que um suposto filósofo que mora no exterior tenha obtido tanto poder junto ao Presidente da República a ponto de nomear e demitir ministros de Estado, bastando para isso alguns posts chulos nas redes sociais. Não parece crível que esse ideólogo de segunda venha a público enxovalhar militares, anuncie aos quatro ventos que o vice-presidente é um idiota, chame um general da reserva de “bosta engomada” e analfabeto e diga que ele se esconde atrás de um homem doente preso a uma cadeira de rodas, referindo-se ao ex-comandante do Exército, General Vilas Boas, que sofre de uma doença degenerativa. Ou o Brasil não é um país sério, ao dar importância a um falastrão que esbraveja palavrões nas redes sociais, ou esse homem tem realmente poder e esse poder foi dado pelo Presidente da República que não cansa de elogiá-lo e apoiá-lo nas redes sociais e, como se não bastasse, pretende condecorá-lo com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. Ambas as premissas podem estar corretas, mas falta explicar por que os militares, que por muito menos ameaçavam “prender, bater e arrebentar”, estão admitindo tal enxovalhamento e por que Jair Bolsonaro, que preside um país de mais de 200 milhões de habitantes, a 7ª maior economia do mundo, aceita ordens e conselhos de um guru desqualificado e promove essa desagregação no seu próprio governo, que passou a ser um covil de serpentes. A primeira indagação pode ser explicada por uma certa perplexidade nas hostes militares que só agora perceberam que talvez tenham apoiado um candidato despreparado ou, o que é mais grave, uma personalidade inapta para o exercício do cargo e, por isso mesmo, incontrolável. Já o motivo pelo qual Bolsonaro mantém essa tensão no seu próprio governo pode ser explicado por uma má leitura de Maquiavel, algo do tipo “dividir para governar”.  Ler o brilhante florentino é demais para o nosso Capitão, mas seus movimentos caminham no sentido de usar esse famigerado Olavo de Carvalho para enfraquecer qualquer dos seus auxiliares que se destaque, ouse discordar de suas ideias retrógradas – e das ideias mais retrógadas ainda dos seus rebentos – ou se posicione como uma alternativa de poder, capaz de substituí-lo, como é o caso do vice-presidente da República. Olavo de Carvalho, assessorado por seus filhos, seria o revólver com que Bolsonaro atira quando quer derrubar um ministro ou enfraquecer um auxiliar.  Se for esse o caso, aí de nós quando a bocarra de Olavo ou o twitter do capitão se voltar para Paulo Guedes ou Sérgio Moro, pois então o governo terá terminado. Há quem diga também que o presidente está apenas imitando seu ídolo, Donald Trump, que também manteve certa tensão com vários setores no início do seu governo. Mas o nosso presidente deveria lembra-se que Trump assumiu o poder com uma taxa de desemprego de cerca de 4%, com o PIB crescendo e com 10,9 milhões de empregos criados por Barack Obama e o que fez foi potencializar esses resultados. Já Bolsonaro recebeu o país com 13 milhões de desempregados, um crescimento pífio de 1% ao ano e ao invés de dedicar todo o seu tempo para reverter esse quadro está ajudando a agravá-lo.   Enquanto se embaralha com um filósofo de segunda classe e se deixa levar pelas intrigas de sua prole, Jair Bolsonaro perde a oportunidade de dedicar-se às questões básicas do desenvolvimento brasileiro, envolvendo-se em todo tipo de conflito, com a imprensa, com militares, com as minorias e os estudantes, e fragilizando seu governo com uma velocidade impressionante.

 

CARLUCHO E O MINISTÉRIO

Carlos Bolsonaro sempre quis ser ministro e cuidar da comunicação do governo do pai e nunca digeriu os óbices e senões que auxiliares de Bolsonaro colocaram para impedir que ele assumisse um ministério. Gustavo Bebianno caiu por causa disso e o general Santos Cruz está sendo bombardeado pelo mesmo motivo. Em Brasília já se fala abertamente que Carlucho quer assumir a Secretaria de Governo no lugar de Santos Cruz e que Bolsonaro gosta da ideia.

                                          A BALBÚRDIA E A UNIVERSIDADE

 “O talento educa-se na calma, o caráter na balbúrdia da vida”, assim dizia  Goethe, um dos maiores escritores de todos os tempos. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, confunde, consciente ou inconscientemente,  Franz Kafka com comida árabe e nunca deve ter lido um livro  de Johann Wolfgang von Goethe. Por isso, não lhe passa pela cabeça que a Universidade precisa da balbúrdia, pois ela representa a diversidade, a convivência dos contrários, o debate e a discordância, já que não é apenas um local onde se ensina uma profissão ou uma disciplina é, como a etimologia da palavra indica, um lugar onde deve estar presente o conjunto das ideias da humanidade, a ideia de universalidade. O Ministro usou a balbúrdia para justificar um corte de recursos de mais de 30% nas universidades brasileiras, de forma linear e sem discussão, demonstrando a sua total incapacidade gerencial, afinal, se era para contingenciar o orçamento, que se consultasse os reitores e buscasse uma solução negociada. Mas não era essa a intenção de Weintraub, também nomeado por indicação do famigerado Olavo de Carvalho, sua intenção era ideológica, era fustigar as universidades brasileiras. A medida inconsequente não só vai paralisar pesquisas e prejudicar o funcionamento de muitas universidades, inclusive a nossa UFBA, mas vai também colocar os universitários brasileiros, que já anunciam greve geral de um dia no próximo dia 15, nas ruas contra o governo. Se Bolsonaro queria guerra, seu ministro deu o primeiro tiro.

                                                  A PRIVATIZAÇÃO DA RLAM

A privatização da RLAM – Refinaria Landulpho Alves pode dar novo alento à economia baiana. Atualmente, a produção da refinaria está caindo ano a ano e a Petrobrás não pretende fazer qualquer investimento na empresa, que, ao contrário, consta do seu plano de desinvestimento. Ou seja, a privatização é o único caminho para garantir novos investimentos, com a modernização da refinaria, e a abertura de novos mercados. Além disso, como lembrou o Presidente da Associação Comercial da Bahia, Adary Oliveira, em entrevista ao portal Bahia Econômica, a refinaria tem o 2º maior terminal portuário do país, o Terminal de Madre de Deus, que também deve ser privatizado. O Temadre é maior que o Porto de Suape em Pernambuco, tem capacidade de movimentação de mais de 20 milhões de toneladas por ano e, privatizado, poderá ser uma nova alternativa portuária para a Bahia. A questão dos empregos deve ser tratada no âmbito das negociações para a privatização, estabelecendo-se regras para desligamentos e outras condições. No mais, privatizar a RLAM é a chave para destravar a economia baiana.

 

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