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ADARY OLIVEIRA: UMA POLÍTICA PARA O GÁS NATURAL

Redação - 22/07/2019 08:59

O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos em estado gasoso nas condições normais de temperatura e pressão (atmosféricas). O principal gás dessa mistura é o metano, seguido do etano e propano em menores proporções. Ele é encontrado nos reservatórios geológicos em estado livre ou associado ao petróleo e é usado na geração de calor, eletricidade e na indústria como matéria prima ou redutor siderúrgico.

O gás natural foi descoberto na Bahia em 15/02/1942 no Campo de Aratu, no compartimento Sul da Bacia do Recôncavo. Nos anos 1950 a Lone Star Corporation, empresa americana que fabricava o Cimento Mauá em Guaxindiba, Rio de Janeiro, montou a fábrica Cimento Aratu com dois fornos rotativos que usavam o gás como combustível para fabricação do clínquer. No final dos anos 1960 a Petrobras rompeu unilateralmente o contrato de fornecimento de gás alegando que o existente seria usado para suprimento da Usiba e do Conjunto Petroquímico da Bahia (Copeb). A matéria prima (calcáreo)era extraída do fundo da baía, nas proximidades da Ilha da Maré.O processo era via úmida por ter de lavar as conchas a fim de remover os sais de sódio. O uso do óleo combustível, em substituição ao gás, terminou por inviabilizar o projeto.

Dentre os estados brasileiros a Bahia detinhaa maior participação do gás natural em sua matriz energética. O gás era usado na indústria como matéria prima para fabricar metanol (Metnor/Copenor), amônia e ureia (Fafen) e como redutor siderúrgico (Usiba).Continua a ser usado como insumo para geração de calor e energia em inúmeras unidades industriais, combustível automotivo, bunker dos navios e nos fogões e aquecedores de residências e casas comerciais. É um combustível de elevado poder calorífico e mais limpo do que o carvão, a lenha e o óleo. Além disso há excedentes etem baixo custo de produção. A ausência de uma política para o preço do gás, estabelecendo distinções para seu uso, fez fechar na Bahia as quatro fábricas acima citadas e dezenas de outras menores.

O principal meio de transporte para o gás é o dutoviário, embora, quando liquefeito a baixas temperaturas, seja viável economicamente o seu transporte em caminhões e navios especiais. Existe no Brasil uma rede de dutos para o transporte de gás sendo o trecho mais importante o que  parte da Bolívia (Gasbol – 3.150km) indo para São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Outra ligação importante vai do Rio de Janeiro à Bahia (Gasene)e da Bahia ao Ceará (Nordestão). O preço cobrado pela Petrobras para o gás natural, superior a US$10.00 por milhões de BTU (MMBTU) tem inviabilizado o uso do gás. Nos Estados Unidos o gás tem preço de cerca de US$ 3.00/MMBTU, na Europa pouco acima de US$ 5.0/MMBTU e no interior da Bolívia US$ 0.88/MMBTU.

A transferência das concessões de exploração do gás natural da Petrobras para empresas privadas e a importação do gás através das unidades flutuantes de regaseificação, instaladas no Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, além da que está sendo implantada em Sergipe, quebrará de fato o monopólio da Petrobras e fará o peço do gás baixar. Contudo, é imprescindível uma regra definida pelo governo, separando o gás usado industrialmente como matéria prima do gerador de energia, combustível automotivo, ou como um simples combustível na geração de calor.

As fábricas de fertilizantes de Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE) que a Petrobras foi convencida de arrendar, ao invés de paralisar, como pretendia, ainda podem ser salvas. Três empresas foram pré-qualificadas no processo de licitação e deverão apresentar propostas até o dia 9 de agosto. Vencerá a proponente que apresentar o maior preço para o arrendamento no período de dez anos, renováveis por mais dez. O gás a ser usado nessas fábricas poderá ser o de Manati, com ou sem swap do gás boliviano, ou importado através das unidades de regaseificação. Vamos torcer para que melhor alternativa seja vencedora.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

 

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