“Chegamos a ter quase 300 caminhões trabalhando ao mesmo tempo. É uma pena o que aconteceu com eles e conosco”, lamenta Juan Alonso Checa enquanto abre um arquivo no computador. Ele vira a tela e a planilha mostra que a Odebrecht deve mais de 16 milhões de soles peruanos à sua empresa. O drama da MIQ Logistics é compartilhado por mais 562 empresas que estão há mais de um ano sem receber da brasileira e, juntas, cobram dívida que já passa dos 900 milhões de soles ou quase R$ 1 bilhão. Peça central do escândalo de corrupção que também levou um ex-presidente para a cadeia no Peru, a Odebrecht está com as contas bloqueadas e, enquanto colabora com o Ministério Público, se esforça para seguir a vida e tentar se reerguer.
O avanço da operação Lava Jato no Brasil revelou que o esquema de corrupção usado pelas grandes empreiteiras brasileiras foi replicado em vários países da América Latina. Como um fio de novelo puxado, a investigação mostrou que o modelo foi replicado da Argentina à Venezuela. No Peru, a Odebrecht reconheceu pagamento de US$ 29 milhões em propina. A notícia de que diversos governos receberam dinheiro ilegal da empreiteira deflagrou uma crise interna sem precedente que, para a Odebrecht, resultou no bloqueio de contas e ativos.
Juan Alonso Checa, gerente-geral da MIQ Logistics, lembra bem desse momento. “Era fevereiro de 2017 e, logo depois do congelamento das contas, paramos de receber.” Os caminhões da empresa de Alonso Checa carregavam tubos para o maior projeto da empreiteira brasileira no Peru: o Gasoduto Sur. O ambicioso empreendimento de US$ 7,3 bilhões prevê uma rede de gasodutos com 1.134 quilômetros de extensão para cruzar o país em um trajeto complexo que vai do litoral à floresta e chega a uma altitude perto de 5 mil metros. As obras estão paradas e a MIQ Logistics vê a dívida crescer US$ 150 mil por mês porque a conta da armazenagem dos tubos continua chegando.