domingo, 10 de agosto de 2025
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JANIS JOPLIN – ARMANDO AVENA

Redação - 08/08/2025 05:00

Certa noite, ela saiu com os amigos para beber e como bebia aquela moça de olhos meigos e sorriso de menino. Já tinha bebido todas, quando tarde da noite, no carro que subia a Ladeira da Montanha, ouviu “um barulho musical” vindo de um bordel qualquer e pediu para parar. Havia música e foram muitos os copos de batida que ela bebeu. De repente, quando a música parou, ela subiu ao palco improvisado e encantou uma plateia de putas e marinheiros cantando Summertime à capela.

Ela era Janis Joplin, a rainha de Woodstock, e sempre que eu ouvia essa história, uma nostalgia sem pejo me invadia, apenas por não ter estado lá e por não ter conhecido aquela voz maravilhosa que cantava My Baby e Get It While You Can, no álbum Pearl. E, nem podia, eram os anos 70, a treva da ditadura tornava ainda mais escuras as ruas de Salvador, e eu era muito jovem para andar nas madrugadas da cidade boêmia.

Depois, um outro tipo de nostalgia, essa irritadiça e incrédula, também me invadia quando eu lia ou ouvia as histórias sobre o tempo em que aquela menina passou no Brasil. Em todas elas, falava-se de uma moça devassa que andava pelas ruas do Rio e de Salvador embriagando-se e fazendo sexo com todos os homens que cruzavam seu caminho. E todos os homens que cruzaram seu caminho diziam, invariavelmente, que haviam comido Janis Joplin.

Mas havia algo de estranho e mentiroso naquelas histórias misóginas. Que ela se embriagava até não poder mais, todos sabiam, que era viciada em heroína, também, ainda que estivesse limpa, pois a droga não havia chegado no Brasil. Mas, apesar disso, havia aqueles olhos tristes, aquela alegria sapeca e uma expressão de quem estava em busca de si mesma. Janis Joplin não parecia tão louca e devassa quanto pintavam baianos e cariocas.

Voltei a Janis na semana passada quando meu amigo Gonçalo Jr. enviou-me seu livro “Janis Joplin Só Queria Sambar”, lançado recentemente e que conta em detalhes a sua viagem ao Rio e à Bahia. Gonçalo Jr. é jornalista, escritor e autor de 40 livros. Baiano, trabalhou em vários jornais em Salvador, depois mudou-se para São Paulo e tornou-se um biógrafo de mão cheia, com imperdíveis biografias, como a de  Carlos Zéfiro e do Bandido da Luz Vermelha.

A Janis Joplin que emerge do livro de Gonçalo Jr. é diferente, mais próxima daquela que eu idealizei. E ele conta, de forma documentada e criteriosa, que a maioria das histórias sobre ela, especialmente as sexuais, não passavam de pura bravata.

Janis Joplin morreu aos 27 anos, sete meses após sua visita a Salvador, por overdose de heroína. Ela deveria estar em bronze no Rio Vermelho, onde ficou, ou na beira da praia de Arembepe, como Brigitte Bardot está em Búzios.

Assim, talvez, os jovens comportados de hoje descubram o que aconteceu em Woodstock em 1960 e quem foi Janis Joplin, a rainha do rock and roll, que cantava jazz, blues e soul.

 

Publicado no jornal A Tarde em 08/08/2025

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