“Enquanto a censura me proibia, eu aprendia a driblar.
Foi assim que descobri que metáfora é arma de resistência.
Se não me deixavam dizer claramente, eu dizia por trás das palavras”
Dias Gomes, escritor (1922-1999)
A 9ª edição da FLIPELÔ, Festa Literária Internacional do Pelourinho, acontecerá entre os dias 6 e 10 de agosto, desta feita homenageando o dramaturgo baiano Dias Gomes, um dos gigantes da nossa literatura, que revolucionou o teatro e a televisão brasileira nas últimas décadas do século passado.
Idealizada e organizada pela Fundação Casa de Jorge Amado, a FLIPELÔ se consolidou como um dos principais eventos no calendário cultural da capital baiana, oferecendo extensa programação para um público de todas as idades, com saraus, oficinas de artes, debates, lançamento de livros, concertos, teatro, exposições e muitas outras manifestações culturais distribuídas em vários endereços do Centro Histórico de Salvador.
Com o propósito de preservar e valorizar a memória do escritor Jorge Amado e incentivar a arte e a cultura, o evento, desde a sua primeira edição, em 2017, prestou homenagem ao próprio Jorge Amado e a outros artistas de grande relevância, como Zélia Gattai, Myriam Fraga, João Ubaldo Ribeiro, Castro Alves, Graciliano Ramos, Mãe Stella de Oxóssi e Raul Seixas.
Nome de expressão no Teatro, Alfredo Freitas Dias Gomes foi um mestre na arte de enganar a censura, mesclando crítica social e política com elementos do realismo fantástico e da cultura popular, tornando-se ainda mais conhecido e admirado por muitos e muitos brasileiros através das telenovelas, de que são exemplos O bem amado, Roque Santeiro e Saramandaia.
Em 1962, a peça O pagador de promessa, adaptado ao cinema por Anselmo Duarte, alcançaria projeção internacional, sendo vencedor do Festival de Cannes e o primeiro filme brasileiro indicado ao Oscar.
Traçando-se um rápido paralelo da vida e da produção literária de Jorge Amado e de Dias Gomes, é possível encontrar muitas simetrias… Baianos, contemporâneos, ambos usaram a palavra escrita como ferramenta para a denúncia, ajudando a contar a história do Brasil através de sua gente simples, sofrida e esquecida…
Mestres da cultura popular, gênios da imaginação, criaram personagens fantásticos que se tornaram verdadeiros símbolos da identidade brasileira e permanecem vivos na nossa lembrança… Dos romances de Jorge Amado, Gabriela, Tieta do Agreste, Pedro Arcanjo, Dona Flôr, Vadinho, Quincas Berro d’Água, Coronel Ramiro… Do teatro e das novelas de Dias Gomes, Odorico Paraguaçu, a Viúva Porcina, Zé do Burro, Sinhozinho Malta e tantos outros.
Portanto, ao resgatar a memória de tão ilustre baiano, a Fundação Casa de Jorge Amado demonstra muita sensibilidade no gesto nobre de gratidão.
Vamos celebrar, é festa, Festa Literária Internacional do Pelourinho… Viva Jorge Amado!.. Viva Dias Gomes! Viva a FLIPELÔ!.. Viva a Bahia!
Sérgio Faria é engenheiro e escritor, presidente da ALAS – Academia de Letras e Artes do Salvador
Foto: Cris Felix/Flipelô/Divulgação
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