Quando falamos em valorização do magistério, é comum restringirmos o debate ao espaço da sala de aula. Discutimos a formação continuada, o acesso a novas tecnologias e a qualidade do ensino como se esses fatores, por si só, fossem capazes de promover dignidade e reconhecimento à figura do professor. Contudo, a valorização real da nossa categoria não nasce apenas dentro da escola: ela exige mudanças estruturais, políticas e culturais que ultrapassam seus muros e atingem as condições concretas de trabalho e vida desses profissionais.
O professor é, antes de tudo, um trabalhador. E como todo trabalhador, precisa de condições que permitam exercer sua função com qualidade, sem que isso signifique sacrificar a saúde física e emocional. Hoje, vemos uma classe sobrecarregada por jornadas extensas, metas inalcançáveis, múltiplos contratos e a necessidade de levar trabalho para casa diariamente.
Não é raro encontrarmos professores que, exaustos após uma semana de lecionar, ainda destinam suas madrugadas para corrigir provas, preparar planos de aula ou responder a demandas burocráticas. Em que medida podemos falar de valorização quando o reconhecimento se limita ao discurso, enquanto as práticas institucionais mantêm essa sobrecarga invisível?
É nesse contexto que surge a proposição concreta da redução da jornada do professor sem a redução do salário, iniciativa pela qual tenho me mobilizado por meio de uma petição pública. O objetivo é simples e justo: assegurar que o docente possa desempenhar seu ofício sem ser levado à exaustão, garantindo tempo para preparação, atualização profissional e, sobretudo, para o descanso e convivência familiar. Reduzir a jornada não significa reduzir a qualidade do ensino; ao contrário, significa investir em melhores condições para que o professor atue com mais energia, foco e criatividade em sala de aula.
A sociedade precisa compreender que o processo educativo não é fruto apenas do esforço individual do professor, mas de uma política constante de valorização do trabalho docente como profissão essencial ao futuro do país. Isso inclui remuneração justa, jornadas compatíveis com a dignidade humana, segurança no ambiente escolar e participação efetiva dos professores nas decisões que afetam diretamente sua prática. Valorizar o professor fora da sala de aula é entender que qualidade de vida também é qualidade de ensino.
Se quisermos, de fato, transformar a educação brasileira, precisamos dar passos concretos nesse sentido. A valorização não pode ser apenas um ideal simbólico; deve ser uma política real, assumida por governos e respaldada pela sociedade. O respeito ao professor não se esgota na homenagem do “dia dos professores” nem nos discursos cheios de reconhecimento. Ele se concretiza em garantir que esse profissional viva com dignidade, ensine com tranquilidade e inspire com liberdade.
A valorização real do professor começa fora da sala de aula, porque é fora dela que se define o quanto a nossa sociedade está disposta a investir na sua própria transformação.
**Alessandro Soares advogado, pedagogo e Diretor Geral Administrativo do Centro do Professorado Paulista (CPP). É também o idealizador da petição que propõe a redução da jornada de trabalho dos professores para 30 horas semanais, sem diminuição salarial.