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ENTREVISTA COM ANTÔNIO NETTO, ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO E MARKETING EM MÍDIAS SOCIAIS

João Paulo - 05/01/2025 11:33 - Atualizado 08/01/2025

Bahia Econômica – Qual as consequências que essa mudança nas diretrizes da empresa Meta, dona de rede sociais como Facebook, e Instagram pode trazer para a comunicação nas redes sociais?

Antônio Netto – Primeiro a gente tem que entender que a internet há muito tempo deixou de ter essa visão utópica de um espaço de pluralidade, de discussão, de troca da comunidade para se discutir democraticamente um assunto. Por que eu estou dizendo isso? Porque todas as redes sociais estão moldadas por algoritmos que se configuram entregando aquilo interessa para as pessoas que interessam. Para quem não está envolvido com assunto, para quem não tem uma visão sobre aquele assunto, aquele conteúdo provavelmente não será entregue. A principal consequência disso é a polarização, ou seja, você só enxerga um lado da informação, por isso, a internet não tem mais esse espaço de discussão há muito tempo.

A partir daí de uns anos para cá, as próprias redes sociais, o próprio Facebook, do grupo Meta, tinha colocado alguns critérios de moderação, então alguns critérios, por exemplo, eu não posso me autodenominar discriminatório, eu não posso me autodenominar racista, então, a plataforma tinha ferramentas de moderação desse tipo de conteúdo. As próprias empresas Facebook, Instagram, por exemplo colocaram equipes para fazer a checagem dos fatos dentro dessas ferramentas. Então, automaticamente a gente começava a perceber que as mídias tinham, de certo modo, uma preocupação com as fake news, com a desinformação.

A surpresa de ontem, com o comunicado do Zuckerberg, vem justamente mostrar o contrário. As consequências para comunicação nas redes sociais será o aumento da desinformação porque a partir do momento que eu tenho qualquer pessoa falando qualquer coisa sem uma checagem de fato, uma checagem profissional, uma checagem com a busca de uma imparcialidade, eu tenho aumento desinformação, eu tenho aumento do discurso do ódio, eu tenho aumento do extremismo, e essa polarização das bolhas estão ficando cada vez mais gritante.

Bahia Econômica – Como você avalia o futuro da comunicação nas redes depois dessa mudança?

Antônio Netto – A principal mudança é o risco de polarização dessas bolhas que antes os filtros restringiam. Como consequência, a gente não pode descartar que hoje as mídias sociais elas fazem parte da sociedade. As eleições nos últimos anos mostram isso. O comunicado do Zuckerberg ontem não envolve só as diretrizes das redes sociais, ele é muito claro numa diretriz também política, se posicionando politicamente ao lado do presidente eleito norte-americano, que tem uma visão extrema direita.

Seria a visão norte-americana contra a União Europeia, contra os tribunais dos países da América do Sul, você percebe que é uma questão muito macro. Quando uma rede social chega em um país ou no território ela não tem uma legislação própria dela então ficaria basicamente atrelada a visão do país. O próprio TikTok que é uma ferramenta uma rede social chinesa e está sendo banida nos Estados Unidos. O discurso dele é um discurso até de certo modo agressivo na lógica geopolítica global, quase travando uma guerra contra os países pelo poder, uma questão econômica financeira, basta fazer uma busca simples as redes sociais para ver a quantidade de multas que o Facebook o grupo Meta já tomou em diversos países devido a vazamento de dados e uso em devido de dados.

Bahia Econômica – Quais adaptações os cursos de comunicação devem procurar viabilizar para formar profissionais mais preparados para lidar com essa mudança?

Antônio Netto – Os cursos de comunicação precisam continuar fazendo exatamente o trabalho que já vem sendo feito de base. Destacando o papel ético, o papel da comunicação, o papel do jornalismo de checagem de fatos. O surgimento de novas mídias e as informações nelas dispostas, esse debate é válido. Essa é a essência que os cursos de comunicação oferecem na sua base, que é essa capacidade de olhar para os dois lados, de discutir os fatos, de ouvir os pontos, e trazer isso realmente dentro de uma ótica de uma produção de conteúdo que busca uma imparcialidade. A checagem dos fatos têm um caráter de olhar para legislação pros critérios éticos e deontológicos

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