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ENTREVISTA COM SÉRGIO FARIA MEMBRO E DIRETOR DA ACADEMIA DE ENGENHARIA DA BAHIA

João Paulo - 25/03/2024 05:00 - Atualizado 25/03/2024

Bahia econômica- o porto de Aratu está recebendo novos investimentos. Qual a importância disso no estado?

Sérgio Faria – São investimentos estratégicos e o arrendamento dessas áreas dentro do porto organizado de Aratu já deveria ter ocorrido há muito tempo. O Porto de Aratu estava muito mal cuidado e alí serão implantados dois terminais de primeira linha, sendo um para movimentação de granéis minerais (ATU12) e o outro para granéis vegetais (ATU18). No caso do ATU12, trata-se de um elemento importante para a importação de fertilizantes (mercado em expansão) e para exportação de boa parte da produção mineral do Estado. O ATU18 será uma alternativa a mais para o escoamento da produção de grãos (soja e milho) do Oeste Baiano e, falando da exportação de grãos, vale lembrar que o Terminal Portuário Cotegipe, um TUP localizado na margem sul do canal de Cotegipe, também está investindo pesado e, ainda este ano, colocará em funcionamento o seu terceiro berço e ampliará sua estrutura de armazenagem para 500.000 toneladas de capacidade estática.

Bahia econômica- a Ferrovia centro atlântica está sendo licitada. Qual a importância dele para Bahia?

Sérgio Faria – A inexistência de conexão ferroviária é hoje o grande gargalo dos portos situados na Baía de Todos os Santos. Sem ferrovia, a capacidade de escoamento estará sempre limitada e vejo com muita preocupação esse processo da Ferrovia Centro Atlântica. Os investimentos em infra e superestrutura ferroviária são de grande monta e nem sempre o investidor privado se sente atraído. Há receio de que não se encontre interessado, sobretudo no caso da Bahia, com trinta anos de descaso na exploração, sem investir de forma satisfatória na conservação e manutenção da linha.

Bahia econômica- Fala-se que a Bahia deveria ter dois corredores ferroviários
Leste Oeste e Nordeste/ Sudeste. Mas são bitolas diferentes. Como o Sr vê essa questão da bitola?

Sérgio Farias – Sim, é fundamental. Além do corredor Oeste-Leste (FIOL), é essencial a ligação Nordeste/Sudeste, hoje precariamente explorada pela FCA. A multiplicidade quase cômica de bitolas é uma conseqüência histórica da falta de planejamento e, por certo, dificulta e torna a integração mais onerosa. Vejo  isso como um problema, uma dificuldade adicional, não como um obstáculo intransponível. Se quisermos resolver os problemas estratégicos do Brasil, temos que pensar grande e com visão para o futuro. Não faltarão recursos se tivermos projetos viáveis e inteligentes, visão de longo prazo, segurança jurídica e coragem para empreender.

Bahia econômica- como você avalia a logística dos portos na Bahia na questão de proximidade das ferrovias no estado?

Sérgio Faria – Muito ruim, é absolutamente inaceitável que os portos situados na Baía de Todos os Santos não tenham ligação ferroviária. Aliás, no caso dos portos da BTS, além da inexistência da ferrovia, há que se assinalar que também a conexão rodoviária, via BR-324, é bastante precária.

Bahia econômica- A Bahia hoje tem 11 portos Tups. Dizem que o estado poderia ter mais. Qual sua avaliação?

Sérgio Faria – O número de instalações portuárias não me parece um indicador preciso para avaliar o potencial que tem a atividade em nosso Estado. A Bahia desfruta de uma dádiva da natureza, a Baía de Todos os Santos, que hoje movimenta algo em torno de 40 milhões de toneladas/ano. De certo, é uma movimentação expressiva, mas temos potencial para ir muito além. As perspectivas são animadoras, sobretudo no setor de mineração e no agronegócio e, evidentemente, com a retomada da indústria automotiva no Estado.

Bahia Econômica – As exportações da Bahia tiveram uma queda significativa em fevereiro, registrando uma contração de 20,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior a que se deve essa queda?

Sérgio Farias – Muito embora seja importante o monitoramento constante dos números do comércio exterior, há que se ressaltar que a análise mensal reflete aspectos muito pontuais e isso pode distorcer projeções de médio e longo prazos. Esta fragilidade das análises mensais mais se evidencia quando se analisa o comportamento das exportações de um estado como a Bahia, com forte dependência de commodities, e, portanto, sujeito a fatores externos sobre os quais não se tem controle direto. No caso específico de fevereiro, as exportações (U$636,3 milhões, com retração de 20,5% em relação a igual período de 2023) foram fortemente impactadas pela redução dos embarques de derivados de petróleo, mas cabe também observar o declínio das vendas para o mercado argentino, terceiro maior destino dos produtos da indústria baiana. Por outro lado, os setores agropecuário e da indústria extrativa apresentaram performance positiva.

Bahia Econômica – Quais os setores que mais impulsionaram e aqueles que mais prejudicaram as exportações no ano de 2023 na Bahia?

Sérgio Faria – As exportações brasileiras cresceram pouco em 2023 (1,7%). Entretanto, no caso da Bahia, não conseguimos sequer acompanhar os números nacionais e houve queda tanto nas exportações (18,9%) como nas importações (25%), resultando em uma retração de 21,7% na corrente de comércio (US$19,8 bilhões). Nas exportações, os principais produtos foram soja (21%), combustível (18,7%), celulose (8%), algodão e minérios (5,5%). Ressalte-se que, no caso dos combustíveis, apesar de figurar dentre os principais produtos exportados, houve, em 2023, uma retração de 43,2% nas exportações. Os principais setores que apresentaram queda de movimentação nas exportações foram a indústria de transformação (23,1%) e indústria extrativa (12,4%)

Bahia Econômica – No que diz respeito às importações, também houve uma diminuição de 14,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. A que se deve essa queda?

Sérgio Faria – Baixa performance da indústria de transformação e, mais uma vez,o petróleo, com forte queda no fluxo de combustíveis.

Bahia Econômica – Como o senhor avalia a política de incentivo a exportações e importações do governo brasileiro?

Sérgio Faria – O governo – e aqui não me refiro especificamente ao atual governo, mas sim ao que tem sido a política do País desde sempre – não tem sensibilidade para reconhecer a importância do comércio exterior. A economia brasileira ainda pode ser considerada excessivamente fechada, não obstante se deva admitir avanços nos últimos anos. Estamos entre as dez maiores economias do mundo, todavia, no ranking de comércio internacional, o Brasil ocupa apenas a 25a e a 29a posição entre países exportadores e importadores, respectivamente. As causas deste isolamento são muitas, mas, em um país de dimensões continentais, cabe destacar a precariedade da infraestrutura logística (portos, ferrovias, rodovias, sistema de armazenagem etc).

Bahia Econômica – Qual a expectativa para 2024 do setor?

Sérgio Faria – Tenho pensamento positivo para o comércio exterior baiano neste e nos próximos anos. A implantação do complexo industrial automotivo da BYD será, sem dúvida alguma, o mais importante elemento catalizador para a economia do Estado e para o incremento do comércio exterior, tanto nas exportações como nas importações. As perspectivas de um boom na exploração de minério, o excelente momento que vive o agronegócio baiano, sobretudo no Oeste do Estado, a expansão da indústria eólica e o início efetivo das obras de construção da ponte Salvador-Itaparica são alguns elementos que justificam uma visão otimista para o incremento da corrente de comércio em nosso Estado.

 

 

 

 

 

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