Qual será a posição do Presidente Lula na disputa pela Prefeitura de Salvador? Essa é a pergunta chave para os apoiadores de Bruno Reis, que querem ele fora da campanha, e para os apoiadores de Geraldo Jr., que desejam que o presidente entre de cabeça no pleito. Ainda é cedo para responder a essa pergunta, mas, não há dúvida de que, disputas municipais têm impacto na base que apoia o governo no Congresso Nacional e, por isso, Lula vai avaliar com cuidado o cenário para ver até onde vale a pena ir.
As eleições municipais no Brasil terão implicações políticas e Lula precisa, por um lado, manter a base no Congresso Nacional e por outro usar as eleições municipais para ocupar espaços, afinal daqui a dois anos teremos eleições presidenciais. Tudo vai se dar na sintonia fina. Em São Paulo, por exemplo, não há o que discutir, pois a disputa será entre Lula e Bolsonaro, quase uma antecipação da disputa presidencial de 2026, e o presidente precisa entrar de cabeça no processo eleitoral, afinal é a principal cidade do país e caixa de ressonância de um estado em que Lula perdeu para Bolsonaro por quase 10 pontos percentuais de diferença. Na cidade de São Paulo foi diferente, Lula venceu bem, com uma diferença de 7% para Bolsonaro e não precisa dizer mais para perceber que a disputa paulista será uma espécie de antecipação da eleição presidencial no Sudeste.
Em Salvador é diferente. Aqui a vitória de Lula foi acachapante, com um placar de 71% para o presidente contra 29% de Bolsonaro. Ou seja, Lula é dono da maior parte do eleitorado e pode se dar ao luxo de ter mais cuidado na hora de se posicionar. E aí alguns aspectos vão definir se Lula vai entrar ou não de cabeça disputa pela Prefeitura de Salvador.
Um aspecto que tende a dar mais moderação ao apoio de Lula é o fato do partido do prefeito Bruno Reis, o União Brasil, ter três ministros no governo e vários deputados do partido terem apoiado pelo menos os projetos fundamentais do governo. E o Planalto vai precisar desse apoio ao longo do ano. Por outro lado, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, que apoia Bruno Reis, é candidato à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara em 2025 e tem se aproximado do Palácio do Planalto. Como se não bastasse a necessidade de manter a governabilidade não entrando nas disputas municipais, Salvador não terá um candidato do PT, mas do MDB, ou seja, Lula vai apoiar Geraldo Jr, e não um quadro histórico do PT da Bahia o que, teoricamente, poderia não estimular tanto o presidente.
São motivos que podem pesar na balança na hora da campanha, mas há outros aspectos, talvez mais fortes, que podem fazer o Presidente Lula entrar de cabeça na campanha eleitoral.
Em primeiro lugar, embora deseje manter a governabilidade, Lula sabe que o União Brasil será seu adversário nas eleições presidenciais e sabe também que o apoio de alguns parlamentares do partido a seus projetos é meramente conjuntural. E quanto ao deputado Elmar Nascimento, é ele quem vai precisar muito do apoio do Planalto para concorrer à sucessão de Lira na presidência da Câmara em 2025, ou pelo menos de alguns dos seus deputados. Além disso, passada as eleições, Lula fatalmente fará uma reforma ministerial para reagrupar a base aliada. Ou seja, nada impede Lula de entrar de cabeça na disputa eleitoral em Salvador, fortalecendo-se ainda mais para 2026 e fazendo da vitória um troféu para o PT que nunca venceu em Salvador.
Mais aí entra novamente o fato de Geraldo Jr. não ser do PT, o que introduz algumas questões no cenário, que podem estimular ou não uma maior participação de Lula. O primeira delas é a necessidade de dar a cara do PT à chapa que vai disputar a eleição. Assim, será preciso colocar como candidato a vice um quadro que tenha a cara do PT, que represente o partido e sua história. O segundo aspecto passa pelo tamanho do apoio e do comprometimento que a cúpula do PT – Jerônimo, Wagner e Rui – vai dar ao candidato Geraldo Jr. Como isso parece já negociado, entra o terceiro aspecto que é a necessidade de Geraldo Jr. se mostrar competitivo. No mais, é ver como vai se desenrolar a negociação para montagem das chapas. ( EP – 29/01/2023)
Em tempo: A coluna política do Bahia Econômica faz pequeno recesso no Carnaval e retorna no dia 19 de fevereiro.