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ARMANDO AVENA – ONFRAY E O ISLÃ COMO RELIGIÃO DOMINANTE

Redação - 22/09/2023 05:48

Os filósofos franceses gostam de assustar os pobres mortais com suas ideias. Michel Onfray, por exemplo, o filósofo francês do momento afirma, no livro “Décadence”: a civilização judaico-cristã sob a qual se funda a civilização ocidental será substituída na Europa pelo Islã.

Toda civilização se funda numa religião e tem um ciclo de crescimento, expansão, apogeu, declínio e morte e sem religião não haveria civilização, diz ele, pois os homens precisam acreditar na transcendência, na vida após a morte, para se envolverem em tal projeto. O ser humano não se mobilizaria para construir uma civilização, se tivesse certeza de que após a morte o que o espera é o vazio e a decomposição. Onfray diz que os deuses dos egípcios, dos gregos e dos romanos ou do México pré-colombiano foram os responsáveis pelas civilizações criadas e todas declinaram à medida que o povo descria deles ou adotavam uma nova fé. Onfray afirma que a sociedade ocidental, apoiada por uma ciência que sempre desvendou o mundo à revelia da Igreja, passou a descrer do Deus monoteísta cristão. Construída pelo apóstolo Paulo, com base no mito de Cristo e na tese do “controle do corpo”, para assim subjugar a carne em favor do espírito, essa religião não teria mais apelo no Ocidente.

Mas o ateísta Onfrey não acredita na morte do sentimento religioso que é o “único amparo que os homens têm para viver uma existência que os conduz irremediavelmente para o nada”.  A razão ou a filosofia não dariam conta desse desafio. Assim, o fim da civilização ocidental, da idéia judaico-cristã de humanidade, só se dará com sua substituição por outra religião que também “controle o corpo” e diga aos fiéis como viver e conviver com sua angústia existencial. É aí que o filósofo coloca em cena o Islã que ainda acredita no seu deus e no seu profeta Maomé e seus seguidores estão dispostos a matar e morrer por eles.

Aos olhos de um ocidental, substituir o cristianismo pelo islamismo seria um retrocesso, mas Onfrey diz que não é possível hierarquizar as religiões e seus preceitos a não ser acreditando nos seus mitos.  Aos olhos de um hedonista, a religião panteísta do Império Romano era progressista – libertava os homens em seus desejos, fossem eles homo ou heterossexuais e era mais próxima da Natureza –  e, ainda assim, foi substituída pelo monoteísmo que condenava a sensualidade, a sexualidade, o prazer, o desejo.

A se acreditar em Michel Onfray, o declínio do Ocidente levaria a substituição do monoteísmo apaziguado do mundo moderno por outro mais radical. Pode ser, mas radical por radical, o que se vê nos países ocidentais é o crescimento de duas visões antagônicas: de um lado os ateístas que procuram algo para colocar no lugar de Deus; de outro as religiões evangélicas e islâmicas cujo objetivo, em última instância, é destruir todas as outras.

Publicado no jornal A Tarde em 22/09/2023

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