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A CRISE NA UCRÂNIA, O MADE IN BAHIA E AS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS – JOÃO VICTOR IGLESIAS

Redação - 22/02/2022 12:02 - Atualizado 22/02/2022

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O mundo vive um período de transição de paradigma e a Bahia precisa estar bem posicionada para aumentar sua presença internacional. A pandemia foi o catalizador para que cenários inevitáveis fossem antecipados em uma velocidade brusca. Dois panoramas, sobretudo, chamam a atenção: A transição energética dos países membros da União Europeia e Estados Unidos e o conflito envolvendo Rússia, Ucrânia e OTAN.

Há anos o tema da transição energética vinha sendo tratado vagamente por políticos e acadêmicos americanos e europeus, com tímidas medidas econômicas para acompanhar o verborrágico discurso green washing. Entretanto, durante a pandemia, o discurso ganhou repercussões práticas e velozmente foram elaborados gigantes pacotes de investimento de bilhões de dólares para uma recuperação verde dos sistemas econômicos fragilizados pela covid.

Tanto na UE quanto nos Estados Unidos, o enfoque dos investimentos se localizou na readequação de todas as cadeias produtivas, outrora baseadas em fontes energéticas emissoras de carbono, para fontes limpas dentro de um intervalo de poucas décadas. Entretanto, um modus operandi de quase 300 anos nao se modifica do dia para a noite e as empresas já apresentam questionamentos sobre a viabilidade dos planos e a dependência que irão gerar em relação aos paises exportadores de energia.

E é nesse intricado tabuleiro que emerge a questão russa. Hoje, a Rússia é a principal exportadora de gás natural para os países europeus, através da Gazprom, empresa cujo acionista majoritário é a própria Moscou. O não alinhamento europeu com os interesses russos envolvendo a crise da Ucrânia se desdobrou em uma retaliação de Putin justamente na exportação do gás natural para a Europa. Atrelado a isso, mais uma problemática: a Ucrânia é, hoje, um dos principais exportadores de commodities agrícolas para a União Europeia 1 , porém a sua produção de grãos, que já foi a segunda maior do mundo, hoje se encontra em declínio devido aos problemas de cunho internacional. Os resultados de todos esses acontecimentos são dedutíveis : O aumento exponencial nos custos de energia na Europa, que tem por consequência o encarecimento de todos os processos produtivos e a busca por novos parceiros capazes de fornecer commodities agrícolas e energia a preços mais acessíveis.

Toda transição de paradigma é acompanhada de um redesenho de forças. E nesse interregno entre a solidificação de uma nova ordem e o fim de uma lógica passada é que nascem as oportunidades. Com a recente aprovação do Acordo entre Brasil e União Europeia, restando a retificação por parte do parlamento europeu e dos países membros, a Bahia hoje ocupa lugar privilegiado na fileira dos exportadores de commodities para a Europa. Nosso estado produz utilizando matriz energética limpa, grande critério para fazer negócio por parte dos países do Ocidente desenvolvido na atualidade.

Porém, para usufruir dessas vantagens é preciso se organizar. É cabível que um Estado de dimensões maiores que a França não possua uma pasta específica e estruturada para lidar com as relações internacionais ? Um exemplo barato e eficaz veio de São Paulo. A instalação de pequenos escritórios comerciais na China e na Alemanha dinamizou todo o processo burocrático e aproximou São Paulo de dois grandes centros econômicos. Além disso, a realização de investimentos estratégicos sustentáveis em infraestrutura também pode ser um diferencial. E nesse sentido a geografia nos favorece: pensar em um sistema de cabotagem para a dinamização e escoamento produtivo seria certamente um atrativo para nossos produtos.

É claro, nada disso aconteceria do dia para a noite. São políticas que envolvem investimento e planejamento, em um Estado profundamente comprometido do ponto de vista fiscal. Mas o livro do mundo já está dando as pistas de quem irá largar na frente em seus próximos capítulos e nós, acredite se quiser, estamos nessa lista. O agronegocio baiano e os produtos Made in Bahia agradecem.

João Victor Iglesias

Mestrando em Politics, Philosophy and Public Affairs na Universidade de Milão e analista de Public Affairs.

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