Em Salvador tudo termina em festa e isso é bom, pois a festa é um dos principais produtos de sua economia. Por isso, o carnaval, o réveillon, o São João e todos os eventos que governo, prefeitura e setor privado organizam são bem vindos, pois estimulam o turismo, geram emprego e fazem a renda crescer. É a cadeia produtiva da festa, fundamental para a cidade. Mas, em se tratando de turismo, sabe-se que não basta apenas sol e mar para atrair visitantes, tampouco festas e música, é preciso ter eventos artísticos, exposições, museus, patrimônio histórico e arquitetônico e todo tipo de atividade cultural.
Há esforços nesse sentido, mas ainda é pouco. Deve-se investir, por exemplo, na construção de equipamentos capazes de incluir Salvador entre as grandes cidades turísticas do mundo. Aliás, já propus várias vezes que, com a ajuda da União, o governo do Estado recupere o antigo centro de convenções no Jardim de Armação. O prédio é uma obra de arte, um símbolo da arquitetura high tech, típica do movimento londrino Archigram, e tem um irmão em Paris – o Centro Georges Pompidou. O equipamento poderia abrigar um museu de alto nível, acoplado a um centro cultural, com oficinas de arte e um pavilhão de feiras, como o seu irmão parisiense, mas, ao que parece, seu destino é ser demolido para dar lugar a torres imobiliárias.
Dizem-me que a reforma custaria caro. Ora, o custo será menor do que os R$ 300 milhões que a Prefeitura quer gastar para construir um túnel de pedestres refrigerado no Centro Histórico. Com esse dinheiro, dá para construir um museu, como o Museu do Amanhã no Rio de Janeiro que atrai milhares de turistas e custou R$ 250 milhões, ou um oceanário como o de Lisboa que custou um pouco mais que isso.
Aliás, o túnel vai para o livro de recordes ao custo de R$ 360 mil o metro. Os poderes públicos deveriam se unir não só para recuperar e divulgar o antigo centro de convenções, mas para dotar Salvador de um equipamento como o Museu Guggenheim Bilbao, que fez da cidade espanhola um point do turismo mundial. Esses equipamentos têm o condão de mobilizar os olhares do mundo.
Mas nenhuma cidade vive só de turismo. Por isso, Salvador precisa cumprir sua vocação portuária, afinal possui um porto moderno e competitivo; precisa estimular o setor de serviços, o setor de tecnologia e as startups e a indústria não poluente que é fundamental para a economia soteropolitana. Infelizmente, o planejamento urbano e tributário de nossa capital não é amigável para com a indústria e outros setores. Mas esse é outro assunto. Por enquanto, é preciso abrir os olhos, pensar grande, e colocar Salvador, e sua maravilhosa Baía de Todos os Santos, onde ela merece estar: no panteão das cidades mais atrativas do mundo.
Publicado no jornal A Tarde em 02/06/2023