A democracia é como a vida, não oferece extatamente aquilo que queremos, mas apenas opções entre as quais precisamos escolher.
E nem sempre as opções são as melhores possíveis. Platão, por exemplo, aborrecia-se com a democracia grega, pois nem sempre ela escolhia os melhores para governar. Por isso, em seu livro A República, afirma que o governo deveria estar nas mãos do mais sábio, propondo um rei-filósofo para comandar o Estado, talvez ele mesmo. Não iria funcionar, pois o povo estaria frente a uma aristocracia ou a uma ditadura dos sábios. A democracia tem seus percalços, é verdade, mas, como disse Churchill, é a pior forma de governo, salvo todas as outras.
Sua virtude está em dar alternativas ao povo , nem sempre as melhores, é certo, mas é entre elas que cada um deve escolher o que é melhor para a nação naquele momento. Ou seja, não é a escolha deste ou daquele que se apresenta como o mais sábio ou o mais experiente para governar, é a escolha daquele que vai de encontro ao desejo da maioria e, passada a eleição, a minoria tem de aceitar o vencedor e o vencedor tem de governar para todos, inclusive para a minoria que não votou nele. A escolha não pode ser dar, no entanto, em um candidato que tem entre os seus objetivos destruir a democracia pela qual será eleito. Tampouco em alguém que simpatiza com a ditadura militar, não descarta intervir na Suprema Corte, propõe armar a população, não tem empatia com o sofrimento do povo, como na pandemia, e apresenta um comportamento misógino, homofóbico e retrógado. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Homens com esse perfil são comuns na história humana e, a parte o mal que causam a uma nação quando chegam ao poder, são, mais cedo ou mais tarde, descartados pela História. A gênese desse tipo de populista está descrita a exaustão em vários livros que mostram como eles são capazes de qualquer coisa para impor suas ideias e como desprezam a vida humana. Os métodos desses populistas são conhecidos e sabe-se bem que a mentira é a liga com a qual ele une as pessoas à sua volta e como eles criam inimigos para ter em quem por a culpa por seus desatinos e assim justificar seus atos abomináveis. Eles circunscrevem o seu ódio aos grupos marginalizados pela história, pela sociedade, pela economia ou pelos costumes e assim os escolhidos podem ser judeus, negros, mulheres ou homossexuais. Eles circunscrevem seu ódio as instituições que mantém a democracia e a diversidade e sonham em eliminar a Justiça e qualquer corte que não se dobre aos seus desejos.
Homens como esses sobem ao poder em momentos de revolta, cansaço e baixa estima da população, como aconteceu no Brasil em 2018. Mas a mesma população que os elege se encarrega de tirá-los do poder. Quando um país é assolado por um mal como esse, a população se mobiliza e se vale das urnas para restabelecer o curso normal do processo democrático. E assim será neste domingo quando o povo vai às urnas votar na Democracia.
Publicado no jornal A Tarde em 30/09/2022
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