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ADARY OLIVEIRA – O MARAVILHOSO NOVO MUNDO VERDE

Redação - 23/05/2022 09:23

Na primeira quinzena deste mês de maio, numa sexta-feira treze, enquanto os dois maiores países da Europa, Rússia e Ucrânia, se destruíam e se matavam em guerra, a Iberdrola inaugurava em Puertollano, na Espanha, uma linda fábrica de hidrogênio verde, a primeira da Europa. Assisti ao filme dessa inauguração pelo Youtube (https://youtu.be/KCC-hAtcQ40). Parecia um desenho, uma coisa de outro mundo. A fábrica usa as matérias-primas inesgotáveis luz solar, vento e água, para produzir hidrogênio, a substância mais abundante do universo. Nunca vi um ambiente industrial tão bonito e tão limpo. Muito mais limpo que a cozinha de nossas casas, que queimam o gás liquefeito de petróleo butano, e do que nossos automóveis, que fazem combustão da gasolina, óleo diesel, metanol ou metano (gás natural veicular – GNV), emitindo gás carbono (CO2) para a atmosfera.

Por conta da guerra os russos estão cortando o gás natural que fornecem para a Europa, empurrando os países do ocidente a montarem mais fábricas de hidrogênio verde. Elas usam placas fotovoltaicas e cata-ventos para gerar eletricidade, que alimentam as células eletrolíticas, que por sua vez provocam a ruptura do hidrogênio e do oxigênio constituintes da água. O chamado hidrogênio verde, assim apelidado por não ser obtido a partir de combustíveis fósseis, é um excelente combustível e matéria-prima. Ele pode ser usado como combustível para gerar calor, eletricidade e no transporte para alimento dos motores de automóveis, caminhões, ônibus, locomotivas, navios, aviões e foguetes espaciais. Também na síntese de várias substâncias, inclusive juntado o monóxido de carbono na manufatura de metanol e ao nitrogênio do ar atmosférico para fabricar amônia (NH3). Esta, por sua vez, tem maior uso como fertilizante podendo ser aplicada diretamente ou sob a forma de substância derivada como a ureia, nitrato, fosfato e sulfato de amônio. A amônia é precursora de vários produtos químicos como o ácido nítrico, hidrazina, acrilonitrila, hexametilenodiamina, apenas para citar alguns. O hidrogênio ainda é usado na siderurgia como redutor de minérios para produção de ferro metálico, substituindo o carvão. O metanol inicia uma enorme cadeia de produtos químicos: formaldeído, ácido acético, metilesteres, cloreto de metila, metilaminas, MTBE, gasolina (MTG) etc.

Na Europa não há produção de gás natural (GN) suficiente para o consumo e o suprimento deste importante energético vem através de gasodutos. O GN ártico produzido pela Rússia abastece os países da Europa e a China diretamente. Para lugares mais distantes o GN é liquefeito (GNL) e transportado em navios criométricos onde são mantidos à uma temperatura de -162oC. No porto de destino o GNL é regaseificado e transportado por dutos para o local de consumo. A Rússia tem também usado o GN para fabricar fertilizantes (amônia e ureia) para abastecer países distantes como o Brasil. Com a supressão do fornecimento de GN que a Rússia começou a fazer para países de Europa, esses países estão buscando alternativas de suprimento e os Estados Unidos estão se colocando no primeiro momento para atendê-los através do GNL. A construção de fábricas de hidrogênio verde, embora possam apresentar custos operacionais mais elevados, apresenta-se como solução definitiva, eliminando indesejáveis dependências externas.

Não obstante tudo isso pareça coisa muito longe de nosso alcance, graças à visão de futuro de Henri Armand Slezynger, controlador da Unigel, está sendo construída e deverá entrar em operação em Camaçari, aqui na Bahia e em 2024, a primeira fábrica de hidrogênio e amônia verde do continente, com capacidade inicial de 10.000 t/ano na primeira fase, indo para 40.000 t/ano em 2025. Será, na época, a maior fábrica de hidrogênio verde do mundo, superando em muito a fábrica espanhola da Iberdrola que opera a uma capacidade de 3.000 t/ano.

Difícil de acreditar, porém, mais cedo do que possamos imaginar, contribuiremos para a redução das emissões de carbono fazendo parte do maravilhoso mundo verde, não faltando coragem aos investidores para tanto, além de termos em abundância as inesgotáveis matérias-primas água, sol e vento.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

 

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