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ADARY OLIVEIRA- A QUÍMICA FINA

Redação - 31/08/2020 09:35

A indústria da química fina é caracterizada por fabricar compostos químicos de alto valor agregado e em pequenas quantidades. As massas são avaliadas em gramas ou miligramas e o seu transporte geralmente é feito por via aérea, pois o frete não é um fator importante na determinação do seu preço final. Eles são dotados de elevada pureza, não podem ter contaminações e geralmente se constituem na matéria prima para fabricação de fármacos (princípios ativos), medicamentos, vacinas, biocidas, defensivos agrícolas, cosméticos, pigmentos, aditivos, catalisadores, alimentos etc.

No Brasil a Associação Brasileira da Indústria de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (ABIFINA) trabalha há 34 anos pelo desenvolvimento do parque industrial do setor no Brasil comprometida com a transparência, a ética e o avanço econômico nacional.Nos anos 1980 houve uma tentativa de instalação de uma central de matérias primas em Camaçari, Bahia, para atendimento da indústria nacional de fármacos,defensivos agrícolas, pigmentos para tintas, esmaltes e vernizes, e outros. Infelizmente a tecnologia adquirida na Europa, apesar de testada em laboratórios, não funcionou em escala industrial e o prejuízo foi enorme.

Dos projetos de química fina desenvolvidos no Brasil o que obteve maior sucesso foi o da Biobrás, em Montes Claros, Minas Gerais. Em 1976 três jovens talentosos bem sucedidos num curso de vestibular em Belo Horizonte, resolveram implantar uma fábrica de enzimas (pancreatina) e cristais de insulina. A tecnologia era própria, desenvolvida em laboratório por um deles. Este era cientista e tornou-se anos depois presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). Um outro, seu irmão, era o político do grupo e virou, mais tarde, vice-governador e ministro de turismo. O terceiro era empreendedor. Tive oportunidade de conhecê-los e fui membro do Conselho de Administração da Biobrás por dois anos.

A iniciativa chamou a atenção da Eli Lilly, empresa farmacêutica com sede na cidade de Indianápolis, estado de Indiana nos EUA, fundada em 1876. A Lilly era nada mais nada menos que o maior fabricante mundial de insulina e desejava entrar para o negócio. Na época ela acabara de introduzir no mercado o primeiro produto decorrente da biotecnologia em todo o mundo: a insulina. Tornara-se acionista da Biobrás e com sua tecnologia solucionou os problemas de produção, triplicou a capacidade fabril e ficou responsável pela comercialização do excedente exportável. O grupo mineiro que no início projetara um empreendimento no valor de US$ 20 milhões, captando recursos da Sudene e do BNDES, vendeu sua participação no negócio, em 2010, para o laboratório Norueguês Novo Nordisk, por US$ 75 milhões.

A indústria farmacêutica é um dos negócios mais rentáveis que existe, mas não e fácil entrar no setor. A grande barreira é exatamente o processo produtivo. O desenvolvimento da tecnologia é de alto risco e nem sempre a pesquisa faz chegar ao sucesso em espaço de tempo curto. A compra de tecnologia requer averbação do contrato de transferência no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).A Lei 9.279/96 que regula os direitos e obrigações relativas à propriedade industrial demorou cinco anos em tramitação no Congresso Nacional sob forte pressão do lobby das multinacionais do setor farmacêutico.

Durante esta semana os jornais veicularam que fora criada aCompanhia Baiana de Insulina, a primeira fábrica de insulina do Hemisfério Sul, parceria do Governo do Estado com uma multinacional do setor. Talvez seja uma fábrica do medicamento, e não a primeira manufatura do fármaco. De qualquer maneira não custa nada consultar os mineiros sobre a experiência na implantação de algo semelhante aqui na região da Sudene. Contudo, vale parabenizar os empreendedores pela ousadia de enfrentamento de um negócio de alto risco e de enorme valor para o nosso desenvolvimento.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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