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ADARY OLIVEIRA: EXPORTANDO BENS E SERVIÇOS

Redação - 14/10/2019 08:32

No comércio internacional o Brasil tem-se caracterizado como grande fornecedor de commodities primárias, ou seja, produtos de baixo valor agregado. Costumo dizer que existe uma diferença básica entre os produtos primários agrícolas e os produtos primários minerais. Embora a comercialização de produtos na sua forma final, de maior valor, seja tida como favorita, considero,entre os primários,os agrícolas preferenciais. Os minerais são finitos e os agrícolas renováveis, exprimindo melhor posicionamento estratégico. O fato de um país ser detentor de matérias primas em abundância não significa que ele possa dominar o mercado mundial, pois,ter acessibilidade aos mercados é mais importante do que ser dono desses bens.

O Brasil tem sido insuperável como maior produtor de café em grãos, mas não consegue superar a Alemanha quando o negócio é o café torrado. O alto custo Brasil, o blending feito com cafés de várias origens e a proximidade dos mercados consumidores, além da competência industrial dos germanos, asseguram a eles vantagem enorme nesse particular, apesar de não terem um só pé de café plantado. O minério de ferro abundante e de alto teor desse metal, fazem do Brasil o seu maior exportador.Entretanto, a produção de aço é de aproximadamente 35 milhões de toneladas, muito distante dos 600 milhões de toneladas da China. Além disso, a China apesar de possuir reservas de minério de ferro superior à do nosso país, de baixo teor de ferro é verdade, por questões estratégicas prefere importar concentrados de minérios de outros países, guardando o seu para o futuro.

Isso não significa que não se possa superar os países líderes na produção industrial. Até bem pouco tempo atrás a Itália era o maior vendedor mundial degranitos e rochas decorativas aplicados nos revestimentos de fachadas e interiores dos edifícios, mantendo uma posição no mercado de cerca de 70%. A China, agindo estrategicamente e investindo na instalação de teares de tecnologia de ponta, conseguiu tomar mais da metade de seu mercado. Os japoneses também bateram os suíços nas exportações de relógios, os alemães nas motocicletas e os americanos nos automóveis, tudo pela via tecnológica e aumento da produtividade.

Claro que existem outros fatores que são importantes quando se deseja sair da posição de exportadores de bens primários além da tecnologia e da produtividade sempre citadas. O desejo e a determinação de assim proceder, com uso de melhor educação, treinamento, inovação, criatividade e qualidade boa e uniforme dos produtos oferecidos ao mercado, também são fundamentais. Não podem ficar de fora os cuidados e habilidades dos negociadores, a amplitude da estrutura de comercialização, a cumplicidade com a globalização, a presença duradoura nos mercados escolhidos, a constância e frequência dos investimentos para melhoria do sistema logístico, as estratégias de marketing e de tudo o mais necessário para enfrentamento de um ambiente competitivo.

Até recentemente o Brasil ia indo muito bem na exportação de obras de engenharia, crescendo em competência técnica e ampliando a exportação de bens atrelados aos serviços. Infelizmente o emprego da corrupção como meio de conquista de empreitadas governamentais e a prevalência de mecanismo de financiamento com algum teor ideológico, terminou por prejudicar essas iniciativas. No final, ao invés das penalizações recaírem sobre os faltos os foram direcionadas para as empresas, com graves e imerecidos prejuízos para a engenharia nacional. Contudo, ainda há tempo de se corrigir os erros, retomando um negócio em que os executores de construções civis se mostraram altamente competentes e competitivos.

De qualquer maneira não se pode deixar de comemorar os avanços conquistados pelo País nas relações internacionais exportando serviços, reduzindo importações de industrializados e ampliando as exportações de grãos. A participação do Brasil no comércio mundial ainda é muito diminuta e a corrente do comércio carece de ampliação consistente. Mas, podemos afirmar que estamos no caminho certo.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

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