O Brasil anda tão estranho que não deu muito importância a notícia econômica mais importante dos últimos 5 anos: a taxa de juros caiu para 5,5% ao ano. É a taxa mais baixa da história do país, quase 3 vezes menor do que a praticada no 1º ano do governo Dilma Rousseff e tão baixa que, descontada a inflação, a taxa de juros real fica em menos de 2%. Para o leitor perceber o quanto essa notícia é importante, basta ver que a partir de agora, após ser descontado a inflação, a poupança vai render apenas 0,34% ao ano e que aquele CDB que ele achava uma ótima aplicação vai render apenas 1% ao ano e que nos títulos do Tesouro (Tesouro Direto) quem quiser ter rentabilidade de apenas 2% vai ter de deixar seu dinheiro parado por mais ou menos 5 anos.
É tão importante essa notícia que o leitor que tem Previdência Privada tem de ir correndo ao banco para saber se o rendimento de sua aplicação vai ficar positivo, pois, a depender da taxa de administração do seu banco, a rentabilidade pode ser quase zero. Se o aplicador quiser ganhar mais que 2% ao ano, vai ter de aplicar no mercado de risco, na bolsa de valores ou em ativos voláteis como ouro e dólar. Ou então voltar ao mercado produtivo, onde aí, sim, a capacidade de gerar lucros é maior.
É uma mudança grande, tão grande que, mesmo com a economia patinando, o empreendedorismo vai voltar, Aliás, já está voltando e basta ver a retomada dos negócios no mercado imobiliário de Salvador para perceber que esse será um dos setores estimulados pela baixa taxa de juros. Uma dezena e meia de empreendimentos imobiliários estão sendo lançados em Salvador e esse número deve aumentar. Não é para menos, investir em imóveis pode garantir uma rentabilidade bem superior aos 0,34% ao ano garantido pela poupança.
Mas essa surpreendente taxa de juros ilumina as incoerências da economia brasileira. Como explicar, por exemplo, que com a taxa Selic em 5,5% ao ano, a taxa de juros média do cheque especial possa estar em 318 % ao ano e os juros do rotativo do cartão de crédito atinja 300% ao ano? Infelizmente, a promessa do governo de intervir nesse mercado cartelizado ainda não se concretizou e esse juro absurdo também é altíssimo para o empreendedor que busca crédito para montar o seu negócio e esse é um dos motivos que explicam a paradeira na economia brasileira.
Mas, seja como for, há algo de novo no ar. Rentabilidade de apenas 2% ao ano não estimula a quem quer viver de renda e, mais cedo ou mais tarde, boa parte do dinheiro que hoje está estacionado nas aplicações financeira vai desaguar no mercado produtivo e aí o Brasil vai retomar o crescimento com força. (23/09/2019)