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ADARY OLIVEIRA: O EQUILÍBRIO DO SISTEMA GLOBAL

admin - 28/03/2022 10:43

O sistema global nunca esteve em completo equilíbrio, mas evoluía no sentido de alcançá-lo em seus vários subsistemas: econômico, social, político, meio ambiente etc. A globalização contribuiu para que isso acontecesse e era a tendência dominante depois da Segunda Guerra Mundial. Agora que se iniciou novo estado de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, tudo voltou a se desorganizar, o que é bom para muitas nações e ruim para outras. As forças entrópicas voltam a ter aumento de intensidade e buscam contribuir para irmos em busca de situação de maior probabilidade, de um caminho para obtenção de uma nova posição de equilíbrio.

O Brasil, que vive preponderantemente no mundo comercial das commodities, já que sempre se notabilizou como exportador de produtos primários, agrícolas e minerais, e importador de manufaturados de preços mais elevados, está agora mergulhado num cenário que lhe parece favorável. A elevação dos preços do petróleo e do gás natural, a subida dos preços dos principais minérios, dos insumos básicos para a produção dos fertilizantes, acompanhados da valorização da nossa moeda frente ao dólar norte americano, não nos deve assustar. Haverá compensação com valorização ainda maior dos produtos de nosso agronegócio e minérios, num mundo mais ávido ainda por alimentos.

As primeiras estimativas feitas por economistas, dão conta que os efeitos da guerra e das sanções impostas à Rússia estão levando as projeções da nossa balança comercial para um aumento de 60% em 2022. Cálculos feitos pelo Banco Central (BC) indicam para este ano uma elevação do superavit comercial de US$ 52 bilhões para US$ 83 bilhões, valor resultante da subtração do volume total do que o Brasil exporta daquele que o Brasil importa. A expectativa é de que as exportações deverão subir neste ano de US$ 276 bilhões para US$ 328 bilhões. As avaliações do BC indicam um aumento das importações de US$ 225 bilhões para US$ 245 bilhões, daí o crescimento do superavit.

Pelo que me lembro das leituras que fiz no meu tempo de escola, fenômeno semelhante ocorreu após a Segunda Guerra, quando o Brasil, ao invés de aplicar o saldo extraordinário que obteve em investimentos, preferiu ceder a pressões do comércio internacional importando coisas desnecessárias, como os ioiôs de galalite e outras bijuterias. Nunca acreditei nessa versão como sendo a principal, mas o fato deve ter existido em escala pequena e alguém escreveu assim e a versão deve ter superado o acontecimento, ficando o registro nos livros de história. A verdade é que males às vezes servem para o bem, e que tudo que dá para rir dá para chorar.

Contudo, não podemos deixar de verificar que estamos diante de uma grande oportunidade. A vulnerabilidade que a guerra indicou nas nossas importações de fertilizantes, fará o governo definir como prioritária a produção deles criando condições para ampliação da sua fabricação em território nacional. Além de encontrar uma solução para reativar a fábrica de amônia e ureia de Araucária, Paraná, paralisada pela Petrobras, e de concluir a montagem da fábrica também de amônia e ureia de Três Lagoas, Mato Grosso, se faz necessário a ampliação da unidade de Camaçari, Bahia, e Laranjeiras, Sergipe, hoje operadas pela empresa privada nacional Unigel. A tecnologia está absorvida, existe mão-de-obra treinada em todos os níveis e o suprimento do gás natural, sua principal matéria-prima, caminha para abastecimento normal e duradouro. Esta chance de substituição de importações não pode ser perdida.

Muitas vezes durante as crises surgem as grandes ocasiões e possibilidades de descobrimos nossos valores. Se vivemos num patropi de belezas mil onde todos falam um mesmo idioma, vivemos sem conflitos armados e se estamos imunes às grandes catástrofes naturais como terremotos, maremotos, tsunamis e já organizamos um excelente Sistema Único de Saúde (SUS), está na hora de deixarmos de lado as divergências menores e construirmos um país rico, sem pobreza, sem miséria, sem fome e sobretudo, muito educado. Vamos construir um país de dar inveja e nada de trazermos para aqui coisas dos outros, principalmente aquelas que não deram certo em lugar nenhum. Se seguirmos esta cartilha poderemos comemorar dizendo que Deus é brasileiro.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

 

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