O governador Rui Costa deu a Revista Veja uma entrevista sóbria e moderada como, aliás, é do seu feitio. Disse o que todos já sabem: que a aliança em torno de Ciro Gomes na eleição do ano passado seria, estrategicamente, o caminho mais adequado para o PT; que a Venezuela viola direitos humanos; e que a criminalidade no Brasil precisa ser encarada como prioridade e como política federal, pois as organizações criminosas já se federalizaram e até se internacionalizaram. Apesar da sobriedade das declarações e de todo cuidado que o governador teve com o ex-presidente Lula, maior liderança do partido, ele disse o que o PT nào queria ouvir. Afirmou que a condenação de Lula no caso do tríplex foi uma aberração gigantesca e que o PT não deve abrir mão da bandeira “Lula Livre”, mas disse também que o partido não pode ficar apenas combatendo o governo e que é preciso lançar propostas e sugestões para enfrentar os grandes problemas brasileiros.
Apesar da sobriedade perceptível na entrevista, a reação da Comissão Executiva do PT foi forte e imediata e mais agressiva do que se poderia prever, sendo Rui governador do principal Estado que deu vitória ao PT no Brasil. Qual a razão de uma reação tão despropositada? A razão é simples: o governador declarou a possibilidade de ser candidato a presidência da República pelo PT. Ou seja, entrou em uma fila onde já estão firmemente postados o ex-presidente Lula e Fernando Haddad.
Lula deseja ardentemente ser candidato a presidente novamente e vê essa possibilidade mais perto por causa dos últimos movimentos do STF – Supremo Tribunal Federal, principalmente após os vazamentos tornados públicos pelo site The Intercept. E Haddad, apresentando o recall das últimas eleições, dorme e acorda pensando na Presidência. E a fila aumenta mais, se forem incluídos os desejos secretos da Presidente do PT, Gleise Hoffman. Assim, mirando diretamente em quem resolveu entrar nessa fila elitista, a nota diz que o partido considera totalmente extemporâneo o debate sobre candidaturas presidenciais para 2022. Afirma que é alentador identificar nas fileiras do PT nomes com legitimidade para assumir essa responsabilidade, mas alerta que o primeiro nome é do companheiro Lula.
A verdade é que o governador Rui Costa, com a franqueza e a característica do gestor que estabelece planos para o futuro, foi politicamente ingênuo ao pensar que poderia se posicionar de forma tão simples e direta como alternativa presidencial em um partido no qual todas as decisões se tomam de cima para baixo, ou de Lula para baixo. E fez isso, ao que parece, sem contar com o beneplácito de Jaques Wagner, que ainda se posiciona como o líder do partido na Bahia. Mas esse é outro assunto. Por enquanto fica a constatação de que o Brasil não mudou e quem quer ser presidente, jamais anuncia que quer ser, no máximo diz que “presidência é destino”, para assim não contrariar poderosos interesses. (EP- 16/09/2019)
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