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WALDECK ORNÉLAS: CAMAÇARI EM TRANSFORMAÇÃO

Redação - 11/03/2019 15:19 - Atualizado 11/03/2019

Detentora de uma forte economia municipal, fruto do pujante Polo Industrial que hospeda, Camaçari tem uma frágil economia urbana, decorrente de um crescimento realizado por meio da massiva e contínua implantação de conjuntos habitacionais, equivocadamente desacompanhados da destinação de espaços para atividades de comércio, serviços e lazer.

Estranho paradoxo: o município que tem o 2º mais importante PIB Municipal da Bahia, e é o 36º maior do país, não fixa a população que aí trabalha: ainda hoje, quarenta anos depois, 75% dos trabalhadores da petroquímica moram fora do município e até mesmo 52% dos seus próprios servidores públicos desdenham o município como lugar de residência!

Daí que, fortalecer a economia urbana constitui o grande desafio local, cujo equacionamento começa a ser buscado a partir de duas vertentes: i) desenvolver a cadeia local de suprimentos ao Polo Industrial, como meio para estabelecer um link entre a cidade e a indústria, ainda hoje um verdadeiro enclave; e, ii) atrair atividades de comércio e serviços para o município, aí consideradas, em suas diferenças e especificidades, a sede e a Costa de Camaçari. Como corolário, a geração de oportunidades de trabalho e renda para a população residente, a fixação de população de média e alta renda, a construção de uma cidade média sustentável.

Na linha do fortalecimento e modernização do comércio e serviços, registre-se a recente inauguração de lojas de duas das principais redes atacadistas: o Atakarejo e o Assaí chegaram trazendo consigo a geração de 900 empregos diretos. Já existia na cidade loja do Atakadão, a terceira das redes mais importantes desse segmento. Outros supermercados, esses da rede Novo Mix, farmácias, laboratórios de análises clínicas e postos de gasolina ampliam e qualificam a oferta local de bens e serviços. O moderno Boulevard Shopping incorpora nova lojas, incluindo serviços até então indisponíveis na cidade, completando o seu mix e consolidando o empreendimento.

A implantação de uma rede municipal de mercados públicos para hortifrutigranjeiros, em conjunto com modernas unidades do Centro de Atendimento Municipal irá possibilitar e estimular a desconcentração do centro comercial da cidade, possibilitando que os 210.000 habitantes da sede possam viver, trabalhar e consumir nas proximidades de suas residências, em linha com os modernos conceitos da cidade compacta.

Na Costa de Camaçari, o resort Vila Galé Marés concluiu mais uma ampliação, totalizando agora 571 apartamentos; um novo hotel já está definido para Arembepe; Guarajuba avança no propósito de transformar-se no grande polo comercial do Litoral Norte para a área pós praça de pedágio – verdadeiro muro que secciona a Costa de Camaçari – devendo atender também às localidades de Praia do Forte, Imbassahy e outras, conforme master plan em fase de implementação; começa a tomar corpo a ideia da implantação de um centro de serviços em Itacimirim.

Ainda em plena crise econômica, a iniciativa privada começa a perceber que Camaçari tem uma grande lacuna a ser preenchida nos segmentos de comércio, escritórios, hotelaria, serviços em geral e habitações para a classe média.

Na área da educação – um dos pilares da estratégia de sustentabilidade de Camaçari – à implantação do campus da UFBA, em instalações provisórias cedidas pela Prefeitura; à chegada da rede UNIRB, com unidade recém credenciada pelo MEC, e da rede Pitágoras, cuja sede já se encontra em construção no bairro planejado Reserva Camassrys, acrescentam-se cerca de uma dezena de polos de ensino a distância, que vêm se juntar à UNEB, ao IFBA e à FAMEC, compondo uma forte rede de ensino superior. Com isto, começa a reverter-se a vergonhosa situação de uma cidade que enviava diariamente 4.200 estudantes para outros centros urbanos, especialmente Salvador e Lauro de Freitas. Ou seja, Camaçari quer deixar de exportar estudantes e importar trabalhadores.

Em relação ao nível médio é relevante assinalar a conclusão da nova sede da Unidade Regional do SENAI, possibilitando a oferta de novos cursos e mais vagas, e a expectativa de implantação de uma escola do SESI. Na Costa de Camaçari duas escolas de primeira linha estão chegando: a ACBEU Maple Bear, já em funcionamento, e uma outra, programada para o início de 2020, representando ambas elemento fundamental para estimular a transformação de milhares de residências temporárias em permanentes. Com efeito, contando com 90.000 habitantes, a Costa tem sua população elevada para 210.000 habitantes durante o verão.

Na educação infantil (creche e pré-escola) o município caminha a passos largos com a implantação de seis novas unidades, com capacidade para 188 crianças cada, além da programada reestruturação de toda a rede atual, de treze unidades, que será inteiramente requalificada para funcionar em tempo integral, possibilitando às crianças além de boa educação na mais tenra idade, cuidados nutricionais e de saúde, ademais de liberar as mães para o mercado de trabalho.

O terceiro pilar da transformação urbana é a dotação de moderna infraestrutura, o que já se pode perceber na sede com as obras de requalificação de toda a área central da cidade; na nova Av. Jorge Amado, com quatro pistas de duas faixas de tráfego cada, separando o transito de passagem do atendimento ao comércio local, e que terá continuidade com a duplicação do Viaduto do Trabalhador, sobre a via Parafuso, e a que vão se agregar o novo acesso da Cascalheira, a revitalização do Horto Florestal, os novos parques urbanos da Vila dos Esportes e do Morro da Manteiga. O Museu da Cidade, abrangendo três espaços – as antigas edificações da estação ferroviária, prefeitura e cineteatro, e a Nave do Saber, um moderno centro de inovação tecnológica e empresarial, a ser implantado no antigo camelódromo, comporão esse novo cenário.

Na Costa de Camaçari, com foco em sua função turística e residencial, encontra-se em implantação um moderno Centro de Iniciação ao Esporte; o programa Caminhos do Mar beneficiará Abrantes/Jauá, Arembepe, Barra de Jacuípe, Guarajuba/Monte Gordo e Itacimirim/Barra de Pojuca; destacam-se novos equipamentos, como o Mercado de Abrantes, e a modernização e reforma dos de Monte Gordo e Barra do Pojuca; o bicicletário de Monte Gordo e os Terminais de Integração da Cascalheira e da Via Atlântica, promovendo a reestruturação do sistema de transporte público.

São, em sua grande maioria, projetos a serem executados com financiamento já em fase de contratação com a CAF, organismo multilateral de crédito, no âmbito do Programa Integração, que totalizará investimento de 100 milhões de dólares.

A transformação da singular e histórica Aldeia Hippie de Arembepe em um parque ecológico, como museu vivo, se constituirá no grande espaço de visitação da Costa de Camaçari, ao lado e em conjunto com a base local do Projeto Tamar, para atrair visitantes de todo o mundo.

A implementação simultânea e integrada desses três pilares, articulando investimentos públicos e privados, fará com que Camaçari supere a sua crise de identidade e sustentabilidade, ocupando o lugar que lhe cabe na rede urbana nacional.

*Especialista em planejamento urbano-regional, ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.

 

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