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AMANDA SEIXA DINIZ- COVID-19: O ÓBVIO É IGNORADO E OS CONCEITOS ESTÃO DISTORCIDOS

Redação - 14/04/2020 08:05 - Atualizado 14/04/2020
“Os liberais não são anarquistas”
Milton Friedman em Capitalismo e Liberdade

Não é mais novidade que o cenário mundial foi tomado pelo surto de coronavírus, também conhecido como COVID-19. Os casos de infecção confirmados já ultrapassam os 1,7 milhão, havendo mais de 102 mil mortes. Ainda que, inicialmente, tenha sido tratado como uma realidade distante, o Brasil já conta com pouco mais de 19 mil casos, e 1.074 mortes. Os esforços para conter sua proliferação, bem como, a ampliação da capacidade do sistema de saúde para suportar a demanda por seus serviços, assim como para todos os demais países, se tornaram um desafio para o Brasil. Como consequência, outra adversidade surgiu no meio do caminho: a manutenção da atividade econômica dos países. É fato que já se esperava um desaquecimento das economias, entretanto, o vírus foi o estopim para que tal expectativa se tornasse uma realidade. Com as medidas de isolamento, vários setores da economia foram obrigados a parar, afetando os demais.

O governo brasileiro passou a ter que decidir a respeito de medidas que evitem a desestabilização da economia e o desemprego em massa, além das questões da saúde. Tal atuação pode ser vista por meio das medidas que facilitam o acesso ao crédito aos indivíduos (pessoas físicas e jurídicas), injetando liquidez na economia; bem como, da proposta de auxílio aos trabalhadores informais, e inclusão de CPFs no bolsa família, dentre outras medidas. Claro, nem todas estão em vigor, mas já se encontram em discussão, sinalizando comprometimento em encontrar soluções para minimizar as perdas que estão a caminho, o mais rápido possível. Ainda assim, isso não parece ser suficiente para os opositores do governo. A esquerda parece ter encontrado o seu palco ideal para “pregar” os ideais acerca do Estado de bem-estar, ao qual tanto gostam de falar. Assim como em outros momentos da história, se aproveitam de um cenário favorável à intervenção do governo em questões econômicas, bem como, de uma população fragilizada, para difundir a ideia de que o tamanho da máquina pública deve ser o maior possível.

Na mídia tradicional, o medo exacerbado é disseminado, e as falas de autoridades são distorcidas. Nas redes sociais, pessoas com influência recriminam até os grandes empresários que se dispõem a ajudar por meio de doações de dinheiro ou de material de saúde; já não bastando as acusações corriqueiras de serem “exploradores” e “corruptos”. Também se propaga aos quatro ventos da internet a cobrança “#pagalogobolsonaro”, referente à liberação dos recursos destinados aos informais, alegando uma demora como algo proposital. Um verdadeiro oportunismo! Mas esquecem o óbvio: dinheiro não nasce em árvore. Assim como qualquer cidadão, o governo enfrenta suas restrições orçamentárias, dado que suas receitas são finitas, escassas. Isto implica que, para poder gastar mais com uma coisa, ele precisa saber de onde vai tirar o dinheiro, já que toda sua receita se encontra, em grande parte, já alocada de acordo com a lei. Ademais, se ele infringir qualquer dispositivo da lei orçamentária, incorrerá em crime de responsabilidade fiscal. Sim, aquele que tirou a Dilma do poder.

Nessa circunstância, também chama atenção economistas de renome levantando a bandeira contra a equipe econômica do governo, utilizando o conceito de “renda básica” para alegar que o ministro da economia não tem nada de Chicago Boy. Tal conceito, proposto por Milton Friedman em Capitalismo e Liberdade, é uma medida de combate à pobreza, que consiste no pagamento de imposto de renda negativo – subsídio – àqueles que obtiverem um nível de renda abaixo do valor das deduções totais, e de forma proporcional ao pouco (ou até mesmo nada) que recebem. A ideia é atribuir ao indivíduo a responsabilidade do que fazer com o dinheiro, ao invés de decidir por ele às custas de uma carga tributária pesada sobre a economia. Mas o detalhe principal que esqueceram é que tal medida consistiria em um substituto à “colcha de retalhos” de programas de bem-estar social como, por exemplo, subsídios à habitação, contribuições compulsórias de previdência – conceitos bem familiares para o brasileiro. Assim sendo, a proposta de Friedman seria algo aplicável em condições normais de “temperatura e pressão”, ao invés de apresentar uma prerrogativa emergencial como se sugere.

Portanto, estamos enfrentando um episódio sem precedentes na história. Tanto em termos de saúde, como no que diz respeito à economia, lidamos com as sequelas de uma má gestão feita no passado, mas que, infelizmente, tem sua culpa atribuída ao atual governo com apenas dois anos de gestão. Além disso, o país ainda tem que lidar com uma oposição que prefere agir com hipocrisia e como uma criança mimada que não aceita o “não” do pai – governo – ou, nesse caso, um simples “espere um pouco”. Vale ressaltar que o governo deve agir, sim, mas suas ações precisam ser limitadas, seja por questões orçamentárias, seja por questões de liberdade econômica. Caso contrário, seus efeitos serão perniciosos sobre a economia no futuro, apesar de salvá-la no curto prazo. Entretanto, o controle da situação parece estar com quem entende isso; logo, está em boas mãos. Apesar das falhas de comunicação do presidente, sua equipe técnica é uma das melhores que o país já possuiu. Essa turbulência uma hora vai passar, só resta não se desesperar, nem se deixar levar por qualquer informação esbravejada por quem já entrou em pânico achando que o “avião” vai cair.

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