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ACM NETO – PREFEITO DE SALVADOR

Redação - 23/04/2018 05:00 - Atualizado 23/04/2018

BAHIA ECONÔMICA: QUAIS AS RAZÕES O LEVARAM A OPTAR POR PERMANECER NA PREFEITURA DE SALVADOR?

ACM NETO: Em 2012, fui eleito Prefeito de Salvador após uma eleição muito difícil. Naquela oportunidade, como candidato da oposição, tive de enfrentar na campanha eleitoral toda a estrutura governamental que tinha Dilma na Presidência e Wagner no governo do Estado, todos apoiando o candidato indicado pelo governo. Para ganhar aquele eleição tive de ir buscar apoio no povo de Salvador, que tinha passado por administrações desastrosas e esperava abraçar uma candidatura que pudesse restabelecer a autoestima da cidade. Fiz uma campanha muito próximo da comunidade, estabelecendo um compromisso com a população e, após ser eleito, senti  o peso da responsabilidade que tinha com o povo de Salvador. Quando chega em 2016, após ter me dedicado integralmente a mudar a realidade da cidade,  sou reeleito com 74% dos votos, coisa que nunca era possível imaginar, até então: que um prefeito poderia ter, 74% dos votos disputando uma reeleição na cidade. Muitos políticos poderiam se entusiasmar e o sujeito poderia pensar “estou forte posso fazer o que eu quiser”. Mas foi ao contrário, aquilo aumentou ainda mais o peso da responsabilidade que eu senti no dia da eleição de 2012. E em 2016, eu fui muito provocado durante a campanha, para dizer se eu renunciaria ou não um ano e três meses depois. Mas eu sei que as pessoas daqui de Salvador hoje confiam na minha palavra. Então, eu não precisei hora nenhuma assumir o compromisso de que ficaria até o fim, de que não renunciaria ao mandato. Eu só disse uma coisa: Chegará 2018. E chegando 2018, eu farei o que for o desejo da população de Salvador. Foi o único compromisso que eu assumi. Eu não assumi outro.

BE: MAS, EM 2017, TODOS DAVAM COMO CERTA SUA CANDIDATURA AO GOVERNO DO ESTADO.

ACM NETO:  Durante todo o ano de 2017 a minha estratégia foi focar na minha administração, ser prefeito 100%, tanto é que fiz pouquíssimas viagens ao interior, não me sentia à vontade para iniciar uma pré-campanha, sobretudo, em função do momento de crise vivida pelo país – crise política sem precedentes, crise econômica gravíssima, das mais sérias da história do Brasil. Então, eu não me sentia à vontade para diante de um cenário tão difícil, de tanta dificuldade para as pessoas, já estar fazendo outra campanha, tendo acabado de concluir uma eleição, e sendo merecedor da confiança de 74% dos eleitores. Então, eu me limitei no campo político a fazer articulações e conversas muito aqui em Salvador. E quem vinha me visitar – deputados, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores – nunca ninguém ouviu da minha boca eu dizer que iria ser candidato a governador, nunca. Eu dizia sempre: para eu me eleger governador eu vou precisar, igualmente, do apoio e da participação dos 417 municípios da Bahia. Mas, para  ser candidato eu só preciso do aval de um, que era Salvador. Sempre coloquei isso de uma maneira muito clara. Então, quando foi se aproximando o momento da decisão, de novembro do ano passado para cá, eu intensifiquei as minhas conversas nos bairros que visitei, nas reuniões que participei, vendo o que acontecia pelas redes sociais, que hoje é um elemento balizador.  E as pesquisas que eu fiz, sobretudo elas, tanto as qualitativas, como as quantitativas – que me colocavam na frente de Rui, na Bahia e em Salvador, mas apontavam, claramente, uma preferência do eleitor de Salvador pela minha permanência. Veja que em uma das pesquisas eu pergunto: Você prefere que o prefeito ACM Neto conclua o seu mandato até 2020 ou renuncie para disputar o governo da Bahia? E 63% respondem que preferem a conclusão do mandato. É muito expressivo. Claro, depois se pergunta: “E se ele renunciar, você vota nele para governador? A resposta é sim, eu não perdia o voto, mas o desejo, predominante, era que eu permanecesse na prefeitura.   Não só nas quantitativas, mas nas qualitativas isso ficava também muito evidente. Então, esse foi o elemento central. E aí o que eu comecei a pesar? Eu tenho 39 anos. Estou no meu segundo mandato. Posso concluir o meu trabalho na Prefeitura encerrando um ciclo, deixando um legado incontestável e carregando pelo resto da minha vida a marca de quem transformou a cidade em oito anos. E de quem teve o compromisso com a palavra, sabe que é uma coisa muito rara, cada vez mais, escassa na política do Brasil. Por outro lado, pensei: se eu renuncio ganhando ou perdendo, mas, principalmente, perdendo, no futuro eu não seria lembrado por tudo o que eu fiz pela cidade, e sim, como o cara que renunciou. Mesmo que fosse um resultado de vitória, uma vitória apertada que fosse, iria obscurecer o trabalho. Eu sigo uma máxima que é a seguinte: quem tem tempo não tem pressa. Não tem porque ter pressa. Então, se eu posso construir, outros projetos no futuro sem ter que renunciar, sem ter que carregar isso nas minhas costas, sem ter que responder por isso pelo resto da vida, pois será inevitável, porque então que eu vou fazer esse movimento agora, havendo um sentimento da população de preferência pela conclusão do mandato. Porque se o sentimento não fosse esse, eu me sentiria mais à vontade para sair. Se eu não tivesse um mandato, eu já estava em campanha para governador.

BE: HOUVE O RECEIO DE PERDER A ELEIÇÃO E FICAR SEM MANDATO DURANTE UM PERÍODO LONGO?

ACM Neto: Nunca tive a preocupação de ganhar ou perder a eleição. Nunca me preocupei no que é que aconteceria comigo caso eu perdesse, até porque, como presidente nacional do Democratas eu já teria uma ocupação relevante. O Democratas  é um partido hoje que se reposicionou, que vai ter um resultado positivo na eleição, que vai ter influência no cenário nacional a partir do próximo ano. Eu já teria ali um bom espaço de trabalho, de enfrentamento político para atravessar, eventualmente, quatro anos sem mandato, caso perdesse. Mas o fato é que isso nunca pesou. Eu nunca pensei: e se eu perder a eleição? Nunca pensei nisso. O meu pensamento sempre foi uma visão mais estruturada e com um alcance de longo prazo. E é claro que, no momento em que estou hoje, olhando os quadros da política brasileira,  eu quero ter uma perspectiva de um dia construir um projeto nacional, no fundo, eu quero ter uma perspectiva sem data marcada,. E eu sei que para isso eu não posso errar. E talvez a renúncia, independentemente do resultado da eleição, fosse um erro, e talvez eu tivesse que pagar um preço muito mais caro do que o que estou pagando agora.

BE: A DIFICULDADE DE FAZER ALIANÇAS, NÃO INFLUENCIOU? NÃO TEVE UM PESO IMPORTANTE?

ACM NETO: Não, não influenciou, porque o quadro que eu tinha comigo, já me dava plena condição de ser competitivo e enfrentar o Rui Costa. Eu teria quase o mesmo tempo de televisão que ele. Teria uma quantidade de partidos, talvez, até superior no geral a que ele tem. O quadro no interior era muito equilibrado. Então, isso não influenciou em nada. E olha que eu poderia ter me dado ao luxo de ser candidato com a costura que eu fiz e talvez até sem contar com o PMDB, porque era uma preocupação que eu tinha de deixar as coisas muito claras, o campo de cada um. Então, isso não pesou mesmo.

BE: E A REAÇÃO NEGATIVA ENTRE OS POLÍTICOS?

ACM NETO: É absolutamente compreensível de uma reação na classe política. Muito mais na classe política do que na população. Porque na população há uma reação em segmentos, digamos, radicalmente antipetistas, que não são poucos, mas que são eleitores que não vão com o meu adversário, com os nossos adversários, e em geral na população – eu já tenho como puxar esse termômetro pelas minhas redes sociais, pelas caminhadas que eu venho fazendo, pelos lugares onde eu venho andando – há uma compreensão muito clara. Muita gente dizendo, inclusive: “você teve uma atitude muito madura de desprendimento”.  Porque o normal para qualquer político seria renunciar e disputar o governo, sobretudo, eu achava, no fundo, que iria ganhar a eleição, e as pesquisas confirmavam isso. E o cenário nacional, o desenrolar dele iria favorecer o nosso campo político. No entanto, eu pensei, ponderei, examinei muito e acabou que a minha decisão, o centro dela, foi esse. É claro, que existiam questões partidárias que não estavam completamente resolvidas. Eu, por exemplo, briguei muito, no bom sentido, batalhei muito para que o Congresso resolvesse o financiamento de campanha, não resolveu, não está resolvido. É uma das coisas que também me trazia preocupação, porque eu acho que a partir dessa eleição, o Congresso vai ter que mudar novamente o sistema para equacionar o que não está equacionado hoje. Então, haviam questões menores que também pesaram, mas eu diria que a questão central foi olhar o longo prazo, projetar um curso de avanço na vida pública e acreditar que não valia à pena o risco das consequências para o meu futuro, de uma renúncia, não para o meu presente, mas para o meu futuro.

BE: EM QUE MEDIDA O QUADRO NACIONAL PODE BENEFICIAR A CANDIDATURA DA OPOSIÇÃO? E COMO FICA JOSÉ RONALDO, PRÉ-CANDIDATO DO SEU PARTIDO? 

 ACM NETO: Eu acho que o cenário nacional, o desenrolar dele, vai favorecer o nosso campo político. Na Bahia, o cenário nacional influenciou todas a eleições, invariavelmente todas.  Se você for ver, desde 1994, quando temos eleições gerais – pois em 90 não teve eleição para presidente, foi eleição isolada para governador – mas em 94 Fernando Henrique ganhou e nós ganhamos aqui; em 98 Fernando Henrique ganhou, e nós ganhamos aqui; em 2002 Lula ganhou e de certa forma nós ganhamos também porque nós éramos adversários de Serra no segundo turno, nós votamos em Lula, e houve um pacto de meu avô [Antônio Carlos Magalhães] com o PT. Chega em 2006, quando nós já não tínhamos mais diálogo com Lula e com o PT, que éramos adversários claros, e aí o PT ganha no Brasil e ganha na Bahia em 2006, 2010 e 2014. Então, eu vejo que com a ausência de Lula e com a crescente conscientização das pessoas de que Lula não poderá ser presidente da República, porque o PT vinha com esse discurso: Lula será o candidato e vai ser o presidente. Agora, as pessoas estão começando a cair na real de que Lula não é mais uma opção. Então, ele tem uma tendência de cair e a influência dele para mim vai ser muito pequena. Porque uma coisa é Lula solto nos palanques, fazendo campanha, pedindo voto, outra coisa é ele preso. A prisão dele gera uma comoção no começo, mas depois torna-se uma coisa normal. Deixa de ser a manchete principal de todos os veículos de comunicação e já vai se tornando uma matéria secundária e daqui a pouco está ali na nota de rodapé. Então, a ausência de Lula faz com que o PT venha para a vala comum, de candidaturas a presidente da República: Haddad com 2%, segundo o último Datafolha; Jaques Wagner com 1%, segundo o mesmo instituto. Então, eles não vão ter essa alavanca.  Assim, eu acho que o desenho da política nacional vai nos favorecer. Eu estou apostando numa disputa até o fim do primeiro turno, onde três correntes devem ter força e chances reais de disputar o segundo turno: de um lado, um candidato mais ligado às esquerdas; do outro lado, o Bolsonaro; e no meio um candidato do centro democrático que é a corrente nossa. Sendo isso, que venha a acontecer, o que que vai ocorrer num eventual segundo turno? O eleitor do Bolsonaro não vota numa esquerda e os candidatos mais de esquerda propriamente (do PT, PSOL, PCdoB) hoje são os que tem maior rejeição. Então, eu aposto muito que o cenário vai prosperar de maneira favorável ao nosso campo. E eu acredito que isso vai alavancar a candidatura nossa aqui. O segundo ponto: nessas mesmas pesquisas que eu fiz, 58% da população contra 31% indicam um desejo de mudança do atual grupo político. Terceiro ponto, Rui Costa até hoje não teve oposição. Passará a ter. Passaremos de maneira aberta, direta, objetiva a pontuar todos os problemas dos estados nos últimos 12 anos. Quarto, Zé Ronaldo não é um cara conhecido, então é óbvio que as primeiras pesquisas dão uma vantagem absurda ao governador, mas à medida que ele se tornar conhecido, que as pessoas enxergarem que ele faz parte do nosso campo político, que ele tem identidade comigo, que há um projeto consistente com o futuro da Bahia, ele vai crescer. Zé Ronaldo tem um ativo importantíssimo que é a facilidade de trânsito com prefeitos, ex-prefeitos, lideranças, vereador, deputado estadual e federal, presidente da União dos Prefeitos. Então, ele está atualizadíssimo da situação do interior. Ele é um “pé de boi” para trabalhar, então, nesses 10 dias, Zé Ronaldo já falou com mais de 300 municípios do interior.

BE: EM RELAÇÃO AO DEM, SUA DECISÃO DE NÃO DISPUTAR A ELEIÇÃO MUDOU ALGUMA COISA?

ACM NETO: O partido, não perdeu nenhum quadro representativo. O único deputado que saiu foi Cajado (Claúdio) ainda assim, ele havia anunciado a saída dele antes da minha decisão. Por outro lado, Arthur Maia entrou então compensou. Os prefeitos das grandes cidades, todos continuam conosco: Feira de Santana conosco, Vitória da Conquista, Camaçari, Simões Filho, Alagoinhas e Barreiras. Então, os principais prefeitos estão conosco. Até então, a gente não viu, o governo está em cima, vai assediar, a gente sabe disso, mas Zé Ronaldo tem feito um movimento muito interessante de contenção, e eu estou ajudando muito nisso, para evitar essa migração desenfreada em favor do Rui. E eleição é sempre uma surpresa. Em 2006, Wagner saiu em uma condição pior do que a que Zé Ronaldo vai sair agora, e ganhou a eleição. Puxado, tragado, pelas influências externas. O que pode acontecer agora? Então, não existe “WO” não vai existir, nós vamos para a luta. Eu vou participar ativamente da campanha, viajando ao interior, aqui em Salvador. Me sinto completamente liberado e à vontade para participar e tenho certeza que a população de Salvador vai compreender isso, até porque eu acho que tenho crédito mais ainda do que já tinha depois da decisão que tomei, e nós vamos para o campo e estamos animados.

 BE: O SEU COMPROMISSO  COM A ELEIÇÃO ENTÃO PERMANECE? 

ACM NETO: A maior demonstração que eu darei disso será evidenciada pelo meu engajamento e pelo meu trabalho em prol da candidatura de José Ronaldo. Eu vou entrar de corpo e alma, vou mergulhar, aliás já estou mergulhado, nos falamos três, quatro vezes por dia, vou me engajar e vestir a camisa e lutar. E sei que, por exemplo, se ele for eleito governador, que é o nosso desejo, talvez um projeto meu de disputar o governo da Bahia fique sem mesmo perspectiva de médio prazo, e isso não me aflige, e não tira um centímetro da minha disposição de mergulhar de corpo e alma para tentar vencer as eleições.

BE: E QUANTO A UNIÃO DA OPOSIÇÃO, EXISTE ESSA POSSIBILIDADE?   

ACM NETO:   Vou trabalhar incansavelmente, até o último instante, para que haja uma unidade de todos os partidos. Respeito, quero muito bem e tenho uma amizade pessoal a João Gualberto. Ele hoje poderia, inclusive, ser o nosso candidato pelo conjunto desses partidos, no entanto, depois que Zé Ronaldo renunciou, automaticamente, ele passou a ter a preferência. Tenho conversado muito com o PSDB, que tem uma responsabilidade grande com esse jogo todo e eu acho que no momento certo – eu não acredito que isso vai tardar demais – nós vamos estar todos juntos no mesmo barco.

BE: TEM UM FATO NOVO NAS ELEIÇÕES QUE É O JOAQUIM BARBOSA. NO QUADRO ATUAL, QUAL SERIA SEU CANDIDATO À PRESIDENTE? 

 ACM NETO: O que a gente tem hoje como claro é esse quando de pulverização, só visto em 1989 na história do Brasil. Hoje nós temos 22 pré-candidatos a presidente da República. Gente que até nunca ouvimos falar o nome e agora está se colocando como pré-candidato à República. O Joaquim Barbosa deve ser acompanhado com atenção. Não pode, não deve ser desprezado. É um elemento novo no processo. Se nós formos para as condições objetivas da política, elas não são favoráveis a ele porque ele está num partido hoje que diminuiu de tamanho, nacionalmente, que é o PSB (perdeu quase que um terço do tamanho nacional). Ele está num partido que ainda não conseguiu abrir um diálogo com outras correntes partidárias. Não adianta imaginar que ele consegue uma vitória inteiramente fora da política. De alguma forma ele precisa caminhar pela política para pensar em ter uma chance. Terá pouco tempo de televisão. E numa eleição extremamente pulverizada, dividida, espalhada e misturada, o tempo de televisão faz muita diferença. Não terá a priori palanques tão fortes em todos os estados brasileiros – você vai para São Paulo e o governador de lá (PSB) vai apoiar o PSDB, o governador não vai dar palanque a ele. Então, talvez ele só tivesse um palanque bem forte e estruturado em Pernambuco (aqui na Bahia ele não teria porque Lídice deve fechar com o PT). Então, ele deve ser acompanhado com cuidado. É um fato novo na história, mas tem obstáculos políticos na frente, que não são fáceis de serem superados. Por outro lado, no nosso campo existem alguns nomes hoje postos:  o nome do meu partido que eu defendo e defendo que seja candidato e estou disposto a entrar na luta por ele, que é Rodrigo Maia; temos o Geraldo Alckmin, que não pode ser desconsiderado nessa história; temos o Álvaro Dias, que pontua bem no Sul do país; e temos o Henrique Meirelles, uma hipótese de candidato do PMDB. Eu acho que no campo do centro até as convenções poderá ter uma diminuição dessas candidaturas, e aí a partir de uma eventual agregação de alguns nomes possa se evidenciar com mais clareza, adiante não agora, qual desse quadros teria condição de liderar uma candidatura no campo do centro. Eu acho que essa definição ficará um pouco mais para frente.

BE: PREFEITO, QUAL O LEGADO QUE VOCÊ E SUA ADMINISTRAÇÃO VÃO DEIXAR PARA SALVADOR?

ACM NETO:  Primeiro, eu acho que você tem alguns legados. Você tem um legado imaterial que não vai ser traduzido em obras, que não vai ser traduzido em prestação de contas, que é uma mudança completa do sentimento das pessoas em relação a sua própria cidade, da confiança que as pessoas passaram a ter da prefeitura, do respeito que Salvador voltou a ter em âmbito nacional, aquela coisa da autoestima mesmo, que estava comprometida no passado e que a gente recuperou. Eu nunca disse que todos os problemas estão resolvidos, pelo contrário, sempre pontuo que temos muitos desafios pela frente, mas é inquestionável quem compara a Salvador de 2013 com a Salvador de hoje, de reconhecer toda essa mudança de clima, de sentimento, de ambiente, que você não traduz em obras e não traduz em nenhum elemento material. Por outro lado, quando a gente vai para as questões mais objetivas, mais concretas você tem, do ponto de vista administrativo e financeiro, Salvador tinha uma prefeitura com os piores números do país, de endividamento, de compromissos com credores de curto, médio e longo prazos, de não poder assinar convênios e contratos por anos a fio, de nunca ter assinado um contrato de empréstimo internacional, de ter ficado 13 anos sem assinar um contrato de empréstimo nacional, uma prefeitura que tinha uma dívida consolidada, quando eu assumi, de quase R$ 3 bilhões, hoje é menos de R$ 300 milhões, hoje nós temos diversos empréstimos assinados, contrato de financiamento internacional firmado e outros em curso e que vamos firmar. Salvador hoje é de todas as capitais do Brasil a que mais investe com recursos próprios. Nós éramos a 23ª colocada no Índice de Gestão Fiscal da Firjan, hoje nós somos a 3ª colocada. Não temos dívidas de curto prazo, e as dívidas de longo prazo todas negociadas, alta capacidade de pagamento, enfim, o quadro administrativo-financeiro da cidade mudou inteiramente. Uma cidade que hoje anda com as próprias pernas, que pode liderar com recursos próprios projetos da grandeza do Hospital Municipal, do Centro de Convenções, de obras viárias transformadoras, dos investimentos na orla da cidade, da inauguração de uma escola por semana. Uma coisa é certa, no dia 31 de dezembro de 2020, quando o meu mandato se encerrar, Salvador continuará uma cidade equilibrada nas suas contas, com dinheiro em caixa, com capacidade de pagamento, com projetos de médio e longo prazos estruturados. Veja, o nível que nós mudamos o patamar da cidade, quando eu cheguei nós tratávamos aqui de que? Tapar o buraco da rua, recolher o lixo, colocar iluminação para funcionar, das coisas básicas. Hoje, Salvador tem sob a liderança da prefeitura o programa Salvador 360, com 360 ações de impacto direto na economia da cidade, se propondo a coisas, como por exemplo, liderar um hub de tecnologia, estimular startups, atrair empresas de serviços para se instalarem na cidade, coisas que nunca a prefeitura desempenhou esse papel, jamais, em tempo algum. Eu acho que o conjunto da obra vai falar muito mais forte do que qualquer ação específica que eu pontue. E eu diria que talvez onde mais se sente, inclusive, é nas áreas mais pobres da cidade. Coisa que muita gente que mora no centro não consegue ter ideia do que a gente vem investindo, vem melhorando em termos de infraestrutura, vem ampliando os serviços públicos, mas quem está lá na ponta sofrendo a pobreza sabe o que é que estou dizendo.

BE: DO QUE NÓS FALAMOS ATÉ AQUI, COM RELAÇÃO À SUA PERMANECIA NO CARGO, FICOU A IMPRESSÃO QUE A SUA DECISÃO NÃO DISPUTAR AS ELEIÇÕES EM 2018 OBEDECE UMA VISÃO DIFERENTE DE COMO FAZER POLÍTICA. VOCÊ SE SENTE UM POLÍTICO DIFERENTE?     

 ACM NETO: Eu entrei na política, digamos, totalmente pelas vias tradicionais. Primeiro, porque carregava um nome forte do meu avô. Em 2002, na minha primeira eleição, eu tinha uma estrutura política completamente favorável na Bahia. De 2006 em diante, eu tive que me adaptar, inteiramente, a uma nova realidade porque a um só tempo nós perdemos o governo do Estado, o meu avô faleceu, o grupo diminuiu muito de tamanho, eu tive que conviver, durante 10 anos do meu exercício parlamentar, com um governo que eu era oposição, um governo fortíssimo, que era quase um pecado falar mal daquele governo. Todos diziam: “Olha ou você vai mudar de lado ou você nunca vai conseguir vencer eleição nenhuma na Bahia e no Nordeste”, e eu disse, não, eu vou contrariar essa lógica mantendo meus princípios, minhas convicções, meus valores, minhas ideias, e vou construir. Isso aconteceu talvez antes do que racionalmente eu pudesse imaginar, com a vitória de 2012. E aí veja que as coisas não são por acaso. Eu em 2012 venci com uma liberdade e um conforto na minha aliança política, absoluto, que me permitiu montar um governo qualificado, escolher pessoas qualificadas para ocuparem lugares importantes da administração, e o resultado do trabalho foi por isso. Porque ninguém governa sozinho, eu sozinho eu não consigo, então, eu consegui montar uma equipe e foquei na gestão, em resultado, e aí eu acho que eu mostrei algo que é raro no Brasil: que é você conseguir conciliar ao mesmo tempo competência política e competência administrativa, eu acho que eu provei isso durante todo esse período aqui na prefeitura.  Ora, chegou agora, eu sabia que a minha decisão iria contrariar toda a lógica da política. Veja que coisa interessante, sem querer criticá-lo, até porque me dou muito bem com ele, mas João Dória se elege em 2016, como o não político. Diz que vai fazer tudo diferente, inclusive, se compromete a não ser candidato a reeleição ao final do mandato. Na primeira oportunidade que tem, age exatamente como o político tradicional, como qualquer político carreirista faria. Comigo, já foi o oposto. Mesmo tendo condições absolutamente favoráveis, um clima totalmente propício para isso, não, eu decidi contrariar a política e ficar. Aí, veja, nada contra a política porque é do que eu vivo, no que eu acredito, meu grupo é um grupo queridíssimo, de pessoas que estão comigo e que me ajudam a ser o que eu sou, e eu não chegaria aqui sem eles. Mas, eu acho que os políticos hoje precisam entender que as suas decisões precisam estar fundamentalmente focadas no que pensa o povo e não no que pensa a política. Senão, a gente não muda a política do Brasil. E não tem jeito, não vai mudar a política do Brasil sem sacrifício. Não vai, eu tenho absoluta consciência disso. Eu disse isso no meu discurso de posse, no dia 08 de março, quando ainda não havia decisão anunciada, e na oportunidade que assumia a presidência nacional do Democratas. Então, a política pode mudar a política, desde que essas mudanças não sejam feitas sob a ótica tradicional da própria política. Tem que ser feita sob a ótica do que é a nova exigência da sociedade. E é claro que isso é ser moderno no Brasil, isso poderia já ser algo arraigado, algo da nossa prática e absolutamente normal, mas não, no Brasil isso é ser diferente. E é por isso que mesmo sabendo que eu pagaria um preço alto com a política a longo prazo, eu apostei no futuro, apostei no longo prazo. E quero dizer sem nenhum tipo de arrependimento não terá nenhum “e se?”. Eu tomei a minha decisão consciente, refletida, amadurecida e tomaria esta mesma decisão dez vezes se fosse preciso.

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