

À medida que 2026 se aproxima, a cena política brasileira e o tabuleiro eleitoral da Bahia vivem um período de intensas negociações, alianças em formação e decisões estratégicas.
Políticos importantes estão, neste momento, avaliando suas posições no tabuleiro político estadual e entre eles estão dois potenciais candidatos ao Senado: João Roma e Ângelo Coronel.
No que se refere à João Roma, ex-ministro da Cidadania no governo de Jair Bolsonaro e líder do Partido Liberal (PL) na Bahia, a avaliação parece se constituir num dilema.
Roma tem uma história de alinhamento com o prefeito ACM Neto, responsável por sua entrada no mundo político. Mas tornou-se um bolsonarista de carteirinha ao ser alçado à condição de ministro no governo Jair Bolsonaro, entre 2021 e 2022. E ele não esconde de ninguém sua condição de aliado da família Bolsonaro, o que consolida sua base no PL baiano.
Com a hipótese lançada, especialmente pelo Centrão, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sair candidato à Presidência com o apoio de Bolsonaro, João Roma sentiu-se à vontade para entabular um processo de aproximação com o União Brasil, liderado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Após anos de distanciamento político, que marcaram o rompimento pessoal entre os dois nos últimos pleitos estaduais, Roma tem mantido diálogos com Neto e é dada como certa sua candidatura ao Senado pelo PL, compondo a aliança de partidos que vão apoiar o ex-prefeito, candidato ao governo da Bahia.
Ocorre que o cenário se complicou com a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República, indicada por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. E Roma apoiou publicamente a pré-candidatura chegando a afirmar que “não há ninguém melhor para representar o nosso capitão Jair Bolsonaro que Flávio Bolsonaro”.
Ora, pela movimentação do filho mais velho de Bolsonaro, já é possível dizer que sua candidatura não se trata de um balão de ensaio e que ela está consolidada no bolsonarismo raiz.
O problema é que esse cenário coloca João Roma num dilema: de um lado, sair candidato a governador, dando um palanque a Flávio Bolsonaro na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país; de outro, construir um movimento pragmático, disputando uma vaga ao Senado ao lado de Neto, mas apoiando Flávio Bolsonaro, para assim seguir na ideia de montar uma bancada bolsonarista forte no Senado.
Aqui é preciso levar em conta que o Centrão não engoliu a candidatura indicada por Bolsonaro e se movimenta para montar uma candidatura alternativa que represente o grupo, o que fortalece o dilema enfrentado pelo ex-ministro.
Ora, nesse contexto, se Roma sair candidato ao Senado na chapa de ACM Neto, mesmo em uma articulação em que mantenha o apoio à candidatura bolsonarista, estará obrigando Flávio a montar um palanque para ele na Bahia e, assim, colocar como candidato a governador um outro nome que poderá deslanchar na campanha.
Além disso, supondo que ACM Neto apoie o candidato do Centrão, não parece factível que Roma participe de uma chapa contrária aos interesses bolsonaristas. E quem conhece a política sabe que, por mais afinidades que haja entre os candidatos, se houver dois ou mais deles competindo no arco ideológico da direita, eles fatalmente terão que lutar entre si para demonstrar quem é o mais preparado para enfrentar o petismo.
Ao que parece, dadas as condições atuais, se optar pela segunda hipótese, Roma, que é pernambucano, vai precisar dançar mais do que baiano no carnaval e ter enorme flexibilidade para ajustar interesses diferentes.
Na verdade, a primeira hipótese seria mais fácil, ainda que traga riscos. Roma seria o candidato ideal a governador da Bahia na chapa do PL e esta talvez seja a sua maior chance de chegar ao cargo. Mas a opção traz o risco de Roma ser contaminado pela alta rejeição registrada pelo bolsonarismo e, assim, ficar novamente sem mandato, até porque sua posição nas pesquisas eleitorais têm mostrado índices baixos.
De todo modo, João Roma precisará escolher entre duas opções: integrar a oposição baiana numa chapa com ACM Neto e concorrer ao Senado, aproveitando o potencial de força eleitoral de uma frente ampliada; ou apostar em uma candidatura própria ao governo da Bahia, alinhada ao PL e à candidatura de Flávio Bolsonaro, o que pode reforçar sua lealdade ao bolsonarismo, mas arriscar fragmentar a base e perder competitividade.
Ambas são escolhas arriscadas. Ir com Neto pode significar o descolamento do núcleo ideológico bolsonarista mais ortodoxo e uma dependência das negociações locais; já uma candidatura própria pode deixá-lo isolado majoritariamente dentro da direita dividida, com poucos votos e sem mandato a partir de 2026.
A política tem suas ironias. E João Roma enfrenta, mais uma vez, o dilema entre ser ou não ser bolsonarista raiz, o mesmo dilema que o fez romper com ACM Neto quando decidiu aceitar o convite para ser ministro. (EP – 22/12/2025)
P.S: A editoria política do portal Bahia Econômica faz uma pausa de duas semanas nesse final de ano e estará de volta com análises e comentários sobre a política baiana e brasileira, no próximo dia 11 de janeiro.



