

O Festival Paisagem Sonora desembarca em Salvador, pelo segundo ano consecutivo, e traz a obra do artista plástico, carnavalesco, designer e serígrafo Alberto Pitta como referência para sua 7ª edição. Nascido dentro da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o festival prepara três dias de arte, educação e cultura, com uma programação com seminários, lançamentos de livros e shows. O evento é gratuito e será realizado entre 05 e 07 de dezembro, na Casa Rosa, no Rio Vermelho.
Iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFRB, com apoio da SECADI/MEC, Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura, o programa se estrutura em torno do reconhecimento da música como linguagem de resistência, memória e criação coletiva, articulando ações que integram arte, educação e justiça social. A cada ano, um artista da cultura baiana é escolhido como ponto de partida para pesquisa, criação de um livro e realização do festival.
Para o curador Danillo Barata, a escolha de Alberto Pitta vem para potencializar e coroar as discussões sobre a resistência dos blocos afros no Carnaval baiano e as possibilidades de futuros com a sua reconfiguração. “O artista transforma tecido em linguagem e desfile em rito. Ao ativar o arquivo vivo de Pitta, um sambaqui de imagens, axé e memória, recolocamos a resistência dos blocos afros no centro e projetamos futuros em que o carnaval reconfigura linguagens, políticas e pertencimentos.”
Alberto Pitta: Arte que veste o mundo
Reconhecido como pioneiro na criação de estampas afro-baianas, Alberto Pitta dedica mais de quatro décadas à produção visual que celebra os saberes e fazeres afro-brasileiros. Para o artista, o tecido transcende o mero suporte: ele se configura como um verdadeiro território de educação, espiritualidade e criação coletiva.
Sua arte é profundamente enraizada em sua história de vida. Filho de Mãe Santinha de Oyá, Pitta cresceu imerso nos bordados, ritos e narrativas do Candomblé, uma herança que se manifesta em cada detalhe de sua produção. Desde os anos 1980, suas criações transformaram o Carnaval negro baiano, fornecendo as icônicas estampas e figurinos para blocos emblemáticos como Ilê Aiyê, Olodum, Filhos de Gandhy e o seu próprio Cortejo Afro, do qual é um dos fundadores.
Com obras que integram acervos de instituições no Brasil e no exterior, Pitta consolida sua posição. Ele transforma o tecido em uma linguagem viva: uma rica trama de símbolos, cores e histórias que estabelece uma ponte essencial, conectando os Brasis, as Áfricas e suas diásporas em uma poderosa expressão visual.
Sua arte poderá ser conferida de diversas formas durante o festival. No dia 05, na abertura oficial para convidados, haverá uma exposição do artista e também o lançamento do livro “Alberto Pitta: FúnFún DúDú”, que é fruto da pesquisa desenvolvida pelo projeto Paisagem Sonora, ao longo do ano. O artista também compõe a mesa do seminário “Reconfiguração do Carnaval Negro”, no dia 06, ao lado de Afrocidade, Rogério Oliveira e Giba Gonçalves.
“Fico lisonjeado, feliz com a escolha do Paisagem Sonora. A gente vem trabalhando a vida inteira. Meu trabalho é único, foi uma escolha. Então, quando você chega nesse lugar da universidade, da academia te ver e ver importância no seu trabalho, fazer esse reconhecimento, óbvio que a gente fica feliz com isso. E o Paisagem Sonora é um projeto que vem se mostrando eficaz e de uma importância muito grande nesse diálogo entre a universidade e os artistas do nosso povo, da nossa gente, artistas importantes, que tem um olhar muito peculiar para essa questão estética e o vestir afro, quer seja no Carnaval ou fora dele”, destaca Alberto Pitta.
Arte, Educação e Cultura: Confira a programação!
O Festival Paisagem Sonora traz na sua essência a mistura da arte e educação e na edição deste ano não seria diferente. Durante os três dias, o evento traz em sua programação cinco seminários voltados para debates sobre arte e educação. São eles: A Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola; Paisagens Sonoras: Processos Criativos e Redes do Comum; Reconfigurações do Carnaval Negro; Museu Itamar Assumpção: Memória, Música e Afrofuturismo com Anelis Assumpção; e Clube da Radiola “Atrás do Por do Sol” com Lazzo Matumbi.
Além do livro de Alberto Pitta desenvolvido pelo Selo Editorial Anjo Negro, vinculado ao Festival, também haverá outros lançamentos, pelo mesmo Selo, no dia 05, na Casa Rosa. São de obras como a de Mateus Aleluia – Nações do Candomblé: Jeje; Bembé do Mercado: Dossiê de Registro como Patrimônio Cultural do Brasil; Box com os 21 Cadernos de Educação do Ilê Aiyê. No mesmo dia, mas no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, localizado no bairro São Gonçalo do Retiro, haverá o lançamento do livro e documentário Ilê Axé Opô Afonjá: Pedagogia da Ancestralidade: Fé Educação e Liderança no Ilê Axé Opô Afonjá em homenagem aos 100 anos de Mãe Stella de Oxóssi.
As apresentações musicais envolvem DJs e bandas, começando com o Cortejo Afro, que convida Arto Lindsay seguido por Afrocidade, no dia 05. Já no dia 06, é a vez de Márcia Castro e sua Roda de Samba Reggae e também do Olodum. No dia 07, encerrando o festival, se apresentam Ilê Aiyê e Lazzo Matumbi, que convida Anelis Assumpção.
A programação completa está disponível no site: https://festivalpaisagemsonora.org/programacao/
Foto: Sandrine Souza



