

A anterior regionalização do Brasil incluía uma Região Leste, formada pelos estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Com a revisão, pelo IBGE, nos anos 1970, Sergipe e Bahia ficaram no Nordeste, Minas e Espírito Santo foram incorporados ao Sudeste. Nem por isto, a geografia deixa de mostrar a sua força, relembrando-nos do papel estratégico que o Leste deve desempenhar no desenvolvimento nacional.
Recorro a esta lembrança para reexaminar o papel, a presença e a participação da Bahia no processo recente de desenvolvimento do país e suas perspectivas.
Tendo o mais extenso litoral (1.183 km), dentre os estados brasileiros, a Bahia vem dando pouca atenção ao seu aproveitamento, ignorando o importante e estratégico potencial portuário com que a natureza lhe contemplou. Aqui, convém de logo realçar a função que a Baía de Todos os Santos está pronta para desempenhar como hub-port no Atlântico Sul, bastando que seja rompido o seu atual isolamento logístico.
Embora até mesmo o Porto de Ilhéus esteja incluído no Arco Norte (portos situados acima do Paralelo 16° S), a vocação da Bahia é o Eixo Centro-Leste.
Na Bahia, contudo, alguns ainda questionam se deve ou não haver o Porto Sul (prefiro Porto de Aritaguá), um novo porto em Ilhéus, para atender ao Corredor Leste-Oeste – resultado do engate FICO-FIOL – e à futura ferrovia bioceânica (prefiro Transulamericana, como a chamou Vasco Neto, seu idealizador). Fato é que os grãos do Centro-Oeste brasileiro têm no Leste a melhor opção para o seu escoamento e a Bahia como o seu melhor porto.
Do mesmo modo, ignora-se completamente o Projeto Logístico Caravelas, no Extremo Sul do Estado, envolvendo porto e ferrovia – um revival da antiga Estrada de Ferro Bahia-Minas – para servir aos vales dos rios Mucuri e Jequitinhonha, local de produção de lítio.
Por sua vez, o Porto de Campinho, em Maraú, nunca chegou a ser concluído. Tinha, no entanto, em sua concepção, a ideia de ser o “porto de Brasília”, mirando o Centro-Oeste, numa época em que o agro ainda não havia se desenvolvido naquela região.
Enquanto isto, estado com território de apenas 46.000 km² (ante os 564.000 km² da Bahia), mais litoral do que interior, o Espírito Santo vem procurando valer-se do litoral de que dispõe para construir um robusto sistema portuário. Embora conte com toda a produção de Minas Gerais para escoar, o olhar está mais distante, mirando os grãos do Centro-Oeste, objetivo que a Bahia até há pouco sequer cogitava.
Com dimensões territoriais de porte nacional – equivalente, por exemplo, ao da França – a Bahia ainda não vislumbrou tirar proveito do potencial de que dispõe. Ao contrário, fechada em si mesma, não cuida sequer de explorar o próprio território, ao mesmo tempo em que, olhando apenas para dentro, não se vale da conexão com polos regionais dos estados vizinhos.
Embora já esteja bastante adiantada a implantação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), no seu percurso de Ilhéus até Barreiras, com mais de 70% das obras concluídas, não há ainda qualquer movimento no Estado, no sentido de estruturar e desenvolver este novo corredor logístico, planejando portos secos, terminais logísticos e zonas de processamento de exportações. Nem se cuida, aí, da promoção econômica da agricultura, da pecuária, da mineração, da agroindústria, de forma integrada e articulada, para alavancar a interiorização do desenvolvimento.
A última iniciativa baiana de desenvolvimento regional, da qual, aliás, estive à frente, foi o Programa de Ocupação Econômica do Oeste (1980), que transformou os antigos “gerais” em um importante polo nacional da produção de grãos, tendo inspirado o que é hoje o Matopiba, ainda assim contido, agora, em seu crescimento, por falta da infraestrutura necessária de transportes e energia, e da articulação logística destinada a dar suporte à exportação.
Não obstante, no último Censo (2022), Barreiras – a capital regional do Oeste baiano – conquistou a 10ª posição entre as cidades mais populosas da Bahia. E o jovem município de Luís Eduardo Magalhães já aparece em 17º lugar.
A Bahia precisa promover, com urgência, uma política de fortalecimento da estrutura urbana e econômica de suas principais cidades no interior, que seja capaz de torná-las verdadeiras capitais regionais.
Primeiro, aliás, é preciso resgatar o Extremo Sul, região que está cada vez mais vinculada a Vitória e Rio de Janeiro. Agora mesmo, a BR-101 está sendo requalificada por todo o Espírito Santo até … Mucuri (BA), onde se encontra a planta de celulose da Suzano. já no território baiano, a ponte do Jequitinhonha precisou de interdição para ser lembrada.
Paralelamente, é preciso exercer o potencial de articulação com importantes cidades de estados vizinhos, a exemplo de Petrolina (PE), Montes Claros (MG), Posse (GO), Palmas e Porto Nacional (TO), Corrente e São Raimundo Nonato (PI), criando laços sólidos com parcelas territoriais desses estados, polarizando-os.
Só assim, a Bahia se tornará capaz de influenciar uma vasta região, capitaneada por Salvador, para potencializar o desenvolvimento dessa importante porção do território nacional.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.